terça-feira, 27 de novembro de 2007

DOR DE MULHER É UMA SÓ. É UMA DOR COMPARTILHADA.


A situação da mulher mudou de fato? Estaremos sempre destinadas a desenvolvermos tarefas árduas , termos dupla jornada, e ainda devemos fazer uma cara de felicidade, de que está tudo muito bem para garantirmos a nossa condição feminina?Todos os dias na Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos recebo mulheres de todos os níveis e condições sociais. O sofrimento é uma constante. Algumas por terem sido vitimas de abuso sexual de estranhos, outras por terem sido vitimas de violência sexual do pai, do irmão, do padrasto, do parente.São mulheres de todas as idades. São crianças, adolescentes, mulheres adultas das mais diversas faixas etárias. Algumas sofrem por ter sido violentadas sem a menor possibilidade de denúncia mesmo diante das famílias porque temem ser postas para fora de casa; outras dão queixa na delegacia das mulheres e retiram por medo da vingança do agressor. Todas acabam sofrendo de diversos distúrbios e transtornos mentais. Passam a ter nojo delas mesmo, têm medo de tentar de novo, desconfiam dos homens, não acreditam em mais nada. Buscam na terapia uma chance de reviver.Em outros momentos chegam mulheres carregando filhos doentes nos braços e raros são os homens que as acompanham. Elas carregam os filhos com a esperança de que eles se recuperem e os profissionais da Fundação sabem que nem todas as patologias têm cura nem a longo prazo. Mas elas insistem no tratamento. Tomam ônibus, chegam ofegantes para o tratamento. Quantas precisariam de transporte especial, de cadeiras de roda, de alimentação, pois não podem trabalhar fora de casa porque não teriam quem cuidasse de seus filhos.E onde estão estes homens que violentam e abusam sexualmente, ameaçam suas vitimas, transgridem todas as normas? E onde estão estes pais que não sabem que um filho doente é fruto de duas pessoas? Onde está este homem responsável do século XXI capaz de ser companheiro e de respeitar cada mulher?É esta a minha reflexão: enquanto houver uma mulher violentada, de qualquer cor e raça, estaremos todas sendo violentadas. Onde houver uma mulher sofrendo em razão da paternidade irresponsável, estaremos todas sofrendo. Porque dor de mulher é uma só. É uma dor de parto, é uma dor de um útero universal.A Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos confia nas ações desenvolvidas pelo Ministério Público, mas, ao mesmo tempo, roga pela agilidade dos processos.E, principalmente, que haja uma reeducação masculina, que haja uma nova proposta comportamental que revolucione a sociedade no sentido de que não basta manter uma elite feminina devidamente adequada a este tempo. Nós mulheres somente teremos o que comemorar quando os avanços que alcançarmos forem compartilhados com todas as outras.Vera Mattos(Jornalista / Psicanalista)

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