domingo, 20 de janeiro de 2008

A MOROSIDADE DO ESTADO EM RELAÇÃO À LEI MARIA DA PENHA.


Vamos fazer na rede uma onda cor de rosa, quase vermelha, da cor de nossa menstruação.Vamos colocar o sangue que sai do nosso ventre na hora do parto.
Vamos colocar o batom que enfeita nossos lábios.E se depois de tudo isto nos sobrar fôlego e vencermos a batalha vamos colorir o mundo com o nosso sorriso, com a nossa risada gostosa, com a nossa sensualidade.Vamos impedir que mulheres morram em vida.Vera Mattos


Fala sério! Nós mulheres vivemos o terror de cada dia em casa, em família, entre vizinhos e em nossa vida profissional. O Brasil confere aos agressores a certeza da impunidade.
Os processos se amontoam e cada instituição oferece uma desculpa. Excesso de processos, excesso de inquéritos, poucos delegados, poucos juízes, poucos promotores. A única coisa que é verdadeira é que são muitos os agressores.
Minha caixa de e-mail vive implodindo de tanta emoção feminina. O medo feminino invade a tela do meu computador, o meu espaço virtual, e eu fico imaginando como estará cada uma que me procura para desabafar e muitas até para dizer que ainda não está no tempo da denúncia. Tem que denunciar. Tem que exigir que o delegado ou delegado lhe escute.
A Bahia particularmente vive um tempo de mudanças. É verdade que estes profissionais são concursados e cada um segue sua orientação política própria e também é verdade que existem alguns que nem sabem como irão aplicar a Maria da Penha, simplesmente porque o sistema carcerário brasileiro está falido. Os presídios abarrotados.
Os abrigos para mulheres são raros e de qualidade baixa. Estão sempre em locais de difícil acesso. Não podem ser mostrados a imprensa porque deixariam de ser locais seguras. Mas não são nem mesmo albergue de zero estrela.
Gente vamos fazer diferente. Vamos exigir que as autoridades tomem cursos de direitos humanos e alguns até mesmo de educação doméstica.
O fato é que quando em processo de julgamento a mulher já entra condenada. Outro dia fui dar um depoimento sobre uma criança que sofreu abuso sexual do pai e para minha surpresa estavam lá duas advogadas muito bem sucedidas defendendo o provável pai pedófilo. A mãe precisou de um defensor público para atuar. E ele desistiu como que por encanto na última hora. Restou a mãe da criança fazer requerimento pessoal.
Aí eu me pergunto: que luta desigual é esta? O poder econômico prevalece. Viva o dinheiro, viva o capital perverso que compra a dignidade de quem quer vender.
O declínio do homem público é tão grande que não tem mais ladeira para rolar. E eu não estou falando do Legislativo que nós podemos descartar de eleição em eleição. Eu estou falando do pessoal que é funcionário de carreira, empregado do Estado.
É preciso deixar de tratar funcionários públicos como reis e rainhas. Estes senhores e estas senhoras sabem que estão ali para cumprir a lei. E, portanto, cumpra-se a Lei Maria da Penha.
Eu já estou anotando nomes de mulheres para as próximas leis. É tanto sofrimento para a mulher e para os filhos que isto com certeza rende algum lucro para setores perversos.
Apanhou? Voltou para casa? E aí eu pergunto: onde as Delegacias de Mulheres irão proteger tantas mulheres agredidas?
Se continuarmos assim, e entrarmos na linha do imaginário, teremos campos de mulheres.
Você homem quer este caminho para a sua filha? Você filho quer este caminho para sua mãe? Você que é mãe, mulher e filha, quer continuar sendo agredida?

Não nos ouvem até porque o poder é masculino. Então em vez de rasgar soutiens, bater panelas, vamos partir para o movimento na grande rede.

Simplesmente vamos fazer link aos milhares sobre o tema. Vamos exigir o cumprimento da lei tornando as buscas na internet intermináveis. Quem não pode falar, faça link, abra um blog, republique o artigo.

Não sabe fazer? Sempre encontrará alguém que faça. E por favor, nos informe sobre sua ação em sua cidade, em seu estado. Faça por e-mail se desejar.

Vamos fazer uma onda cor de rosa, quase vermelha, da cor de nossa menstruação.
Vamos colocar o sangue que sai do nosso ventre na hora do parto.
Vamos colocar o batom que enfeita nossos lábios.

E se depois de tudo isto nos sobrar fôlego e vencermos a batalha vamos colorir o mundo com o nosso sorriso, com a nossa risada gostosa, com a nossa sensualidade.
Vamos impedir que mulheres morram em vida.
Vamos juntas, unidas.
As mulheres são as melhores aliadas quando querem ser aliadas.
As mulheres são as maiores inimigas quando querem ser inimigas.
Finalizo, repetindo perdas e danos: “as pessoas sofridas são perigosas porque sobrevivem”.

Espero por vocês na invasão mais absoluta da rede.

Vera Mattos
Jornalista
veramattosba@gmail.com
verinhamattos@yahoo.com.br
riscomulherbrasil@yahoo.com.br

5 comentários:

  1. Hoje uma mulher me disse:
    Ana estou morrendo...

    e a segurei em meu peito, a distância, procurando desesperadamente faze-la não sucumbir.

    Mas como dizer a uma mulher que não tem mais vida que retome a sua vida?
    Sua casa, seu lar, seu trabalho, sonhos, amizades, sua sexualidade, tudo se foi pelos atos de elemento agressor, pela violência...
    Como resgatar a sensibilidade desta mulher?
    Onde estão as que se vestem de rosa que não apoiam vigorosamente esta mulher em seu drama real?
    São mulheres miseráveis, são as pobres, são as de classe média, formadas, são as ricas, todas mulheres no mesmo drama , na mesma dor, única dor!

    Pergunto como Chaplin o fez em um dos seus grandes filmes:
    E agora garota já está enxergando?

    Garotas enxerguem a nós suas irmãs mulheres, garotas! Façam sua sensibilidade vir a tona numa grande explosão de solidariedade e apoio.
    Enxerguem como algumas das garotas estão sendo tratadas e falem, escrevam, postem em blogs, em Comunidades. Manifestem-se como garotas mulheres valorosas!
    Esta atitude espero de todas voces!
    Ana Maria Bruni

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  2. Cara Vera!

    Sincero, forte, surpreendente o seu manifesto de apoio à Lei Maria da Penha. Deveria haver uma forma de fazer com qu todas as brasileiras o lessem. E com a atenção devida. E que os brasileiros lessem também, com igual atenção, e assimilassem, as verdades expressadas com tamanha competência.
    E por falar em verdades, as três últimas, que fecham o seu manifesto, chegam a ser chocantes de tão verdadeiras! Suficientes para convencer qualquer mulher sobre sua força; e para fazer com que muitos homens tenha motivo para começarem a tremer.

    Carlos Vecchio

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  3. Um milhão de assassinatos

    Hoje eu li uma reportagem muito triste no Estadão, o Jornal O Estado de São Paulo.
    Nesta reportagem um estudioso do fenômeno da violência, o economista Daniel Cerqueira, do Ipea, chama a atenção para a tragédia da segurança pública brasileira.
    Cerqueira aponta alguns sinais preocupantes na área de segurança. Um deles é a falta de vontade dos políticos para adotar estratégias de médio ou longo prazo, o que não se enquadra no calendário eleitoral. Outro é o atraso no enfrentamento da criminalidade, ainda refém do modelo meramente reativo dos anos 1960, baseado, quando muito, em patrulhamento e investigações, não em estatísticas confiáveis, na antecipação aos problemas e no uso de programas sociais e de policiamento adaptados a cada realidade.

    Quando um país como o Brasil abandona os cidadãos à barbárie, fica muito difícil, defender qualquer cidadão e qualquer cidadã.

    A violência contra a mulher se inscreve neste contexto de desleixo, em que as autoridades federais dizem que o problema é estadual e as autoridades estaduais dizem que falta dinheiro para políticas mais eficazes.
    Em parte eu concordo, pois falta dinheiro para a segurança, a educação e a saúde, mas não faltam recursos para os "financistas" e haja superávit para cobrir os juros da dívida.
    Voltando ao tema em assunto, um dos problemas para proteger as mulheres e que a Lei Maria da Penha previu um monte de ações dos governos federais, estaduais e municipais e nada foi feito.
    Aliás, neste país vivemos o mundo do faz de conta, se temos um problema, vamos resolvê-lo fazendo uma lei.
    Quanto mais coisas bonitas a lei preveja, melhor, assim a gente mostra pros gringos e eles ficam contentes. É a tal de lei para ingrês ver.
    A lei Maria da Penha trouxe várias inovações a favor da proteção da mulher, mas não é aplicada. Por quê? Por quê? Eu pergunto e respondo.
    Por que quando ela descreve as responsabilidades dos promotores e juizes ela diz "PODERÁ"
    A lei não diz "DEVERÁ", a lei diz poderá, isto é "se quiser", "se estiver com vontade", "se tiver afim".


    Vamos, nós homens que amamos e respeitamos as mulheres e vocês mulheres que se valorizam, exigir justiça, justiça, para as mulheres, pois a PAZ que o Brasil tanto precisa começa dentro de cada um de nós, a PAZ começa dentro de nossos lares.

    Sou Contra Violência à Mulher, à criança, aos idosos, a todos seres humanos.
    Contra a agressão ao nosso planeta.

    Vamos começar em casa, vamos respeitar nossas MULHERES.

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  4. Martha:
    Vera fui lá no blog, é sério, o nosso maior problema na verdade, não é ter as leis, existem inúmeras, mas poucos exercem seu direito de como cidadão, cobrá-las, alguns casos admito, medo paralisa, mas ignorância também. Beijos, minha solidariedade..

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  5. Ainda, hoje, dia 14/04/2012 o artigo continua exigindo providências.
    Atuamente uma CPMI discute sobre o que todos nós sabemos a lei 11.340 ainda não saiu do papel.
    Em 24 de outubro de 2010 eu escrevi um artigo que também continua atualíssimo

    A falta da implementação da Lei Maria da Penha contribui para a continuidade da violência contra a mulher
    O poder público ainda não desenvolveu políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão

    http://amorordemeprogresso.blogspot.com.br/2010/10/falta-da-implementacao-da-lei-maria-da.html

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