quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
AS MULHERES VÍTIMAS TEMEM AS AUTORIDADES DA POLÍCIA E DA JUSTIÇA.ALÉM DOS AGRESSORES ELAS ENFRENTAM A VIOLÊNCIA OFICIAL. AO GOVERNADOR JACQUES WAGNER.
Carta ao Governador Jacques Wagner.
Bahia, Brasil. Janeiro 2008.
Companheiro Wagner,
Sabemos que muita coisa vai demorar a ser concretizada em nosso Estado e em nosso País. Sabemos também que os cargos ocupados por delegados, promotores e juízes são méritos pessoais alcançados por serviços prestados ou que pelo menos assim deveria ser. Mas acredito também que está na hora de uma análise da sua parte das ações de muitos, principalmente no interior do Estado da Bahia.
No que se refere às causas da mulher, a Lei Maria da Penha sofre a morosidade típica das grandes sociedades burocráticas. Mas, mesmo assim, apelamos para o companheiro no sentido de que nossas denúncias sejam ouvidas.
Governador me responde uma coisa: um delegado pode tomar partido antes que a apuração policial seja realizada? O delegado pode achar a vítima, mulher ou não, culpada sem que os fatos sejam apurados? O delegado pode decidir em receber ou não a queixa de uma vítima? O delegado pode rir na cara da vítima? Características assim me parecem ser de governos que nós lutamos para expulsar, razão de sua votação ter sido tão expressiva.
Pode também promotor do Ministério Público indicar que uma pessoa que mora a 600 km da capital venha se tratar psicologicamente em um dos Centros de Referência de Salvador?
Não está na hora de ter uma política voltada para a mulher no interior do Estado? De saber que nos mais de 400 municípios a violência corre solta, selvagem e desordenada? Qual é o seu projeto para conter esta onda?
Quando a vítima é uma mulher de mais de quarenta anos então a coisa se torna pior. Nós não fomos preparadas para a luta armada, não trocamos nem socos nem pontapés, não fizemos cursos de lutas nem orientais nem ocidentais. Não participamos de esportes violentos, radicais. O que nos resta então?
Confesso que hoje temos que estimular em nossas filhas a aprendizagem da defesa pessoal. Da capoeira ao tiro ao alvo. Não é guerra não. É sobrevivência. Do contrário teremos que usar soqueiras medievais para garantir o direito à vida.
Mulher na Bahia ainda sofre diversos preconceitos: primeiro tem que responder sempre a célebre “o que é que a baiana tem?”, como se isto colocasse prestígio em nossas vidas. Somos produto de exportação como mulheres brasileiras, em razão do rótulo que nos presentearam.
Governador Wagner, precisamos compreender a sua política em relação às mulheres. O plano do Presidente Lula está no papel. O enfrentamento a violência reuniu lideranças femininas.Mas não conseguimos sentir ainda as suas ações.
Como eu votei em você, como estou em seu partido há muitos anos, estou esperando suas atitudes.
Espero que, por exemplo, me permita levar até você a vítima ou uma das vítimas do amordaçamento que existe no interior da Bahia.
Fiz questão de dizer isto porque estou ficando cansada de ouvir que é do meu partido, do governo que ajudei a eleger que persistem tais atitudes.
Lamento que gente da sensibilidade de Emiliano José e Moema Gramacho não esteja cuidando de assuntos como estes que exigem sensibilidade e compreensão política. Mas que exigem sobretudo respeito à lei, respeito à Constituição.
Para não colocar em perigo a vida das pessoas que estão no interior do Estado não darei os nomes aqui. Mas alguém poderá morrer nos próximos dias como vítima do descaso do Estado. Fica a denúncia.
Ao dispor,
Vera Mattos
Radialista, Jornalista
Presidente da Fundação Jaqueira
Integrante do Fórum de Mulheres do Mercosul
Veramattos_midia@yahoo.com.br
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Mulher, desperta-te; a força da razão se faz escutar em todo o universo; reconhece teus direitos. O poderoso império da natureza não está mais envolto de preconceitos, de fanatismo, de superstição e de mentiras. A bandeira da verdade dissipou todas as nuvens da tolice e da usurpação. O homem escravo multiplicou suas forças e teve necessidade de recorrer às tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se injusto em relação a sua companheira.
ResponderExcluirOlympe de Gouges, ousou publicar em 1791, a "Declaração dos Direitos das Mulheres e da Cidadã".Condenada à morte e guilhotinada em 1793.
Abatidas pelo drama em suas vida a mulher apela desesperada e encontra barreiras onde procura proteção, orientação, segurança, sobrevivência.
A Muralha Secular se levanta contra ela. Ela se queda violentada em sua dignidade, em seu desamparo, em seu medo.Usurpam de seus direitos!
Descaso, ironia, omissão, agressividade, difamação, agressão, abusos físicos, psicológicos, abusos sexuais, torturas, estes são os relatos sofridos de mulheres em dor.
Quem são estas mulheres? Quem somos? Por que temos de ter esta dor? Por que estas autoridades nos afligem mais dores quando nossas vidas já estão despedaçadas?
Não podemos chorar, falar, denunciar, relatar o que nos acontece, pois quando encontramos quem nos escute nos definem como loucas, insanas!
Se nos manifestamos, dizem que temos de mudar nossa postura!
Se temos medo, dizem: Se você mulher morrer, caçaremos os culpados!
Acuam-nos com suas autoridades e violência! E o tempo passa e estas mulheres, nós, definhamos, emudecemos, extenuadas, sem recursos, solitárias, perdidas no labirinto burocrático..
A quem apelar?
Sim, são autoridades mas onde está a humanidade?
Não serão mais verbas, mais delegacias, mais juizados que transformarão os seres que deveriam nos proteger em seres honrados, éticos, íntegros! Conceitos deverão ser demolidos e para isto Órgãos de Segurança e Justiça deverão se unir com vigor e determinação pela erradicação da Violência contra a mulher, investigar com seriedade e punir áqueles que nos afrontam e ameaçam em nossa vida particular e no seio destes Órgãos!
Não somos temas, somos vidas e geradoras de vidas!
Somos mulheres e cidadãs, atualmente até votamos!
Ana Maria Bruni
Mas já é tarde
ResponderExcluirPrimeiro estupraram uma mulher
Mas eu não me importei com isso
Eu não era a vítima.
Em seguida agrediram outras
Mas eu não me importei com isso
Eu não era como elas
Logo estavam perseguindo outras mais
E eu não disse nada
Eu não vivia como elas
Em seguida abusaram sexualmente de menores
Mas eu não importei com isso
Elas não eram minhas conhecidas
Depois prenderam várias mulheres
Mas eu não me importei com isso
Porque não sou como elas
Em seguida difamaram outras
Mas eu não me importei com isso
Não era relacionado à minha vida
Também não me importei
Depois escutei seus gritos de socorro
Mas eu não me importei também com isso
Fingi que não os ouvi
Em seguida torturaram inocentes
Mas também não me importei
Estas situações acontecem com as outras
Agora estão me estuprando
Agora estão me agredindo
Agora me perseguem
Agora estão querendo me prender
Agora estão me difamando
Agora estão querendo calar a minha voz
Mas já é tarde
Como eu não me importei com as outras mulheres,
Não sobrou nenhuma para se importar comigo.
Ana Maria C. Bruni
Antologia Poética de Bertolt Brecht
ResponderExcluirElogio da Dialética
Bertold Brecht (1898-1956)
A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o começo
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos
Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã!
Os que lutam
ResponderExcluir"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."
Tantos já falaram por nós e continuamos no meio da opressão e violência
Ana Maria
Somente através do engajamento de toda esfera pública, facilitando e agilizando as incursões na solicitação e encaminhamento de denúncias,informações, documentos e resoluções, serão obtidos resultados das ações de Ouvidorias que representam as vozes dos cidadãos e cidadãs do Brasil.
ResponderExcluire são necessários escândalos para que não hajam mais escândalos!
ResponderExcluire é necessário que a injustiça domine para que a justiça e solidariedade sejam despertadas!
e é necessário que muitos sofram de violência, para que a dignidade e a coragem sejam reveladas.
e são necessárias muitas dores, para que outros reaprendam o significado da compaixão.
e são necessários muitos mártires para que homens e mulheres reaprendam o significado de humanidade.
Conseguimos atualmente inverter a ordem natural da nossa civilização. Jovens que nada sabem da vida, ditam e executam regras como se a conhecesse.
ResponderExcluirNos ouvem, não escutam... Alguns, depois de horas de espera, te atendem já de pé,de saída, te afrontam protegidos pela autoridade e poder.
Como ovelhas, aguardamos em expectativa ansiosa, uma palavra, uma decisão, uma ação.
Só nos falta bater continência, esta está subtendida no sorriso condescendente do outro lado. O passado não está morto: nem passado é ainda.
Em alguém temos de confiar! É mister!
E lá vamos nós, batendo de porta em porta,
E você engole o fel, o estrume imposto.
Reúne forças e diz a este ou a esta, que através deles sua vida, seu descanso, seu sustento, dignidade,seus direitos estão entregues, necessita de orientação, proteção e neles deposita sua confiança como pessoas de bem.
Trégua imposta, aperto de mão.
A credulidade é um defeito da nossa natureza;queremos nos enriquecer de idéias positivas, quando deveríamos ao contrário ter muito cuidado com elas."
Dias após, você toma conhecimento que a farsa, inadmissível, já fora armada.
Não te ouvem, não te escutam mais.
Sabem que voce sabe quem realmente são e que você nada poderá fazer
Que bom que temos mais uma voz para gritar em nosso nome e por nós.
ResponderExcluirÉ salutar sua idéia de escrever(lembrar de cobrar a resposta) ao Governador falando um pouco da nossa luta no Interior. Desde o dia 4/10/07, dia da última audiência com as testemunhas de defesa, que aguardo a decisão do Juiz sobre o meu processo e até agora nada aconteceu. Vale salientar que ainda tive sorte por ter encontrado apoio na Delegacia e no Ministério Público, porém, meu processo esbarra na lentidão da Justiça.Enquanto isso, sou prisioneira do meu destino, já que o meu agressor mora na minha Cidade e no meu Bairro. Não tenho lazer nenhum já que a mãe dele me persegue onde quer que eu esteja e para não correr riscos ou colocar minha familia em riscos vivo prisioneira, enquanto que, quem deveria estar preso continua a trabalhar, passear e viver. Está na hora de alguém nos socorrer antes que sejamos apenas um número no cemitério, já que hoje número na delegacia e no fórum.
A violência na Bahia aumenta assustadoramente. O número de mulheres agredidas por seus "companheiros" também. Assassinadas com requinte de crueldade.
ResponderExcluirA polícia baiana não tem mais condições de atender a demanda. Vivemos como se aqui houvesse sido instalada uma guerra.
Violência dentro e fora de casa.
E o governador fica calado.
Até hoje não respondeu a esta carta.
Vera Mattos
ResponderExcluirSobre a violência e o descaso das autoridade te digo:
E percebi
Que ninguém se importa
Mas o que importa
É que eu me importo
E isto é o que importa
E assim consegui sentir a liberdade. Não encontraremos a justiça nem nossos direitos, muito menos proteção.
È entre nós e Deus,é o que posso te dizer após 3 anos
Te abraço
Ana Maria C. Bruni