terça-feira, 15 de janeiro de 2008

BOM DIA, BRASIL?


Leitura de fatos violentos publicados na mídia
Ano 8, nº 01, 14/01/08
BOM DIA, BRASIL?




É sete de janeiro de 2008. Certamente, muitos brasileiros tomavam café da manhã enquanto assistiam ao telejornal da Rede Globo de Televisão, Bom Dia Brasil. Entre as notícias veiculadas está aquela que vem do Maranhão e informa que crianças estão trabalhando, deixaram as aulas ante à “oportunidade” de um trabalho temporário na queima dos cocos de babaçu. Uma das crianças entrevistadas diz: “Não é muito bom, mas o jeito é trabalhar, porque tem que comprar comida. Se não trabalhar é mais difícil pra gente”.



De acordo com a notícia, a criança que não tem altura para “alcançar o forno, ajuda a juntar os cocos embaixo das palmeiras”. Uma das mães externa o seu lamento: “Eu fico até com pena, porque eles são crianças e sofrem desde pequeno, perdem aula, passam fome, tudo isso atrapalha quem estuda”.

De um lado temos a saudação otimista contida na expressão que dá nome ao jornal – Bom Dia Brasil – e, de outro lado, um menino diz: “a gente não vai para a escola para ajudar a mãe quebrando coco. Isso acontece muito”. Tudo isto se mostra no comecinho do ano cuja entrada foi marcada por eventos violentos salpicados por todas as partes do País. Mas, como de hábito, é tempo de serem renovadas as esperanças e reafirmados os compromissos de dias melhores para todos.

Há muito vemos a distância entre as mensagens típicas da época de fim de ano que tomam 365 dias como unidade e o diário da vida dos grupos sociais mais pobres, que têm cada dia como uma eternidade a ser vencida. Neste intervalo curto-infinito decisões graves são tomadas, por exemplo: a escola ou a sobrevivência.

A escolha politicamente correta é pelos estudos, é claro. Mas o argumento político não se estende ao viver, por exemplo, de um menino que queima babaçu em tempo hábil para o mercado. Este menino tem a proteção da Lei, mas esta não se efetiva por si só, ao contrário, dentro do tempo da queimada de babaçu a lei é outra e é marcada pela urgência, pela premência de restar vivo para os outros dias do ano. É um tempo em que aquela criança não é criança e passa a ser força, no sentido físico do termo, a ser usada para o trabalho. No plano subjetivo, aquela menina ou aquele menino expressa a condição de uma infância adulterada pela assunção forçosa de responsabilidades do mundo adulto: “Não é muito bom, mas o jeito é trabalhar...”



Estes relatos formam imagens a serem tomadas a sério em todos os dias do ano. É importante que sejam concretizadas as proteções, legalmente, previstas à infância e à adolescência, ampliando-se assim, as margens para as coincidências entre a saudação “Bom Dia Brasil” e a vida de cada brasileiro.

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