terça-feira, 15 de abril de 2008
ITAPOAN SOFRE COM CRIMES DE EXTERMÍNIO.PMs INVADEM SORONHA E MATAM DOIS HOMENS.
Bairro de Itapoan, Salvador, Bahia.
Baixa do Soronha. Segunda-feira, 10 horas da manhã. Soldados do Batalhão de Choque da Polícia Militar invadem o local, de armas na mão, atirando para todos os lados. “Sai da frente que bala não tem olho”, gritava um deles para crianças apavoradas. Quem estava na rua correu. Os amigos Adison Veloso dos Santos, 28 anos, um ajudante de pedreiro conhecido como “Macarrão”, e José Mário Tambuque Roma, de 21 anos, também correram, tentando escapar da fúria dos PMs. Não tiveram sorte. Adison foi alcançado poucos metros adiante, dominado, levado para um matagal, e executado a tiros. José Mário conseguiu entrar na casa de uma vizinha, mas os policiais colocaram um muro abaixo, entraram na casa, espancaram um trabalhador, agarraram José Mário e o levaram para o mesmo matagal onde haviam matado Adison e o executaram também, de joelhos. Depois foram embora.
Esta é a versão narrada por moradores assustados e revoltados, que interditaram a Avenida Dorival Caymmi, por mais de cinco horas, para denunciar a ação truculenta dos policiais. A versão oficial é outra. Na 12ª Delegacia os PMs disseram que procuravam traficantes, foram recebidos à bala e mataram os agressores. Teriam apresentado na DP dois revólveres, maconha e crack. Mas nada disso foi mostrado à imprensa.
No inicio da tarde de ontem, pneus queimados fecharam a Avenida Dorival Caymmi, no bairro de Itapuã, num protesto pela morte de dois moradores da Baixa do Soronha. Segundo os vizinhos, o ajudante de pedreiro Adison Veloso dos Santos, 28 anos, conhecido como “Macarrão” e José Mário Tambuque Roma, 21, foram executados por policiais militares lotados no Batalhão de Choque. “Eles já chegaram atirando”, disse uma moradora que preferiu não ser identificada. Nas paredes das casas as marcas de perfuração eram visíveis. “Olha aquilo. Tudo isso aconteceu hoje de manhã”, continuou, se referindo aos tiros disparados por volta das 10 horas.
Conforme os moradores os PMs chegaram atirando, os dois rapazes que conversavam na rua teriam corrido, com medo de serem atingidos. “Conseguiram pegar Adison primeiro e o executaram”, disse uma testemunha. José Mário conseguiu se esconder dentro de uma casa. “Os PMs derrubaram o muro da casa, espancaram o filho da proprietária, que também é filho de um sargento na PM e arrastaram José Mário”. O rapaz foi levado para um matagal, onde foi atingido com diversos tiros. Ele foi socorrido e levado para o Hospital Menandro de Farias, onde chegou morto.
Nem as súplicas dos amigos fizeram com que os policiais não os executassem. “Ouvi quando “Macarrão” pediu que não o matassem, pois ele tinha uma filha de dois anos para criar”. Segundo a vizinha, os dois seriam apenas usuários de maconha. “Nunca fizeram mal a ninguém.
Trabalhavam, um tinha até carteira assinada”.
Construção interrompida
De acordo com moradores do local, no momento em que foram surpreendidos, os rapazes se preparavam para reconstruir a casa de uma vizinha, que foi destruída num incêndio no sábado. “Pela manhã eles compraram as telhas. A comunidade fez uma vaquinha para me ajudar nos materiais”, disse muito abalada a proprietária do imóvel. “Queremos justiça! Somos seres humanos como eles e como qualquer outra pessoa. Toda vez que eles entram aqui é desse jeito e ainda dizem às crianças para saírem da rua pois “bala não tem olho”, isso é uma truculência”.
O medo e a indignação da população era grande. “Se vocês não estivessem aqui eles já teriam batido na gente”, disse um outro morador se referindo a presença da imprensa. Segundo ele, a arbitrariedade da polícia na comunidade cresce a cada dia. “Xingam mães de família e até crianças”. De acordo com ele, que disse chamar-se apenas Antônio, em dezembro uma ação semelhante aconteceu, onde “eles mataram outro pai de família. Chegam batendo até nas crianças menores. Quando não encontram nada pegam droga e armas e dizem que é nossa”. No local das mortes cartuchos de pistola Ponto 40 – de uso exclusivo da polícia – foram encontrados em meio às marcas de sangue no matagal.
Em ocorrência policial registrada na 12ª Delegacia de Polícia a versão dos PMs diz que os dois amigos estariam armados com dois revólveres calibres 38 e 32, e teriam disparado contra os policiais no momento em que foram abordados. “Também estavam com 12 pedras de crack e uma quantidade de maconha”, disse uma agente. Ainda segundo ela, policiais do Batalhão de Choque faziam uma ronda rotineira no local no momento em que avistaram os dois rapazes e fizeram uma abordagem.
Uma equipe da Polícia Militar estava no local conversando com os moradores, tentando acabar com a manifestação. “Só estão aqui por causa de vocês”, disse outra testemunha, referindo-se à presença da nossa equipe de reportagem. De acordo com ela, constantemente a polícia entra na comunidade derrubando as portas da s casas e invadindo as propriedades sem ao menos um mandado em mãos.
Por Karina Baracho
http://www.tribunadabahia.com.br
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Venho dá o meu muito obrigada por expor a verdade de maneira tão clara.
ResponderExcluirMeu querido José Mário que a família chamava carinhosamente de coração se foi mais ainda existe milhões de jovens que estão sendo vítima todos os dias,principalmente do descaso.
Precisamos de políticas públicas e ação por parte da sociedade como um todo para barrar essa triste realidade.
Mais uma vez obriga a senhora
reporter Vera Mattos