quinta-feira, 10 de abril de 2008

Na Academia de Letras da Bahia,“Micropoderes, macroviolências”. Livro de Suzana Varjão

Quando você for convidado pra subir no adro
Da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos, pobres como pretos,
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados



No próximo dia 16 de abril, na Academia de Letras da Bahia, às 18h30min, será lançado Micropoderes, macroviolências, da jornalista Suzana Varjão. O livro (re)compõe a atmosfera de uma cidade ainda dividida entre casas-grandes e senzalas, que a autora denomina de bolhas e vãos. É uma narrativa sobre a “guerra de lugares” – ou a “guerra das raças” – da sociedade brasileira. Uma história contada a partir do noticiário sobre violência dos três principais jornais impressos de Salvador.



Fruto de dissertação de Mestrado defendida no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Faculdade de Comunicação da Ufba, Micropoderes, macroviolências teve a publicação recomendada pela banca de doutores, pela “importância social” da pesquisa. Mas resulta, sobretudo, de sete anos de militância no Movimento Estado de Paz (MEP) e no Fórum Comunitário de Combate à Violência (FCCV). E fecha um ciclo importante da luta em defesa dos direitos humanos.



Origem – O livro começou a ser esboçado a partir da morte da colunista de teatro Maristela Bouzas, seqüestrada, violentada e assassinada, no centro da capital baiana. Uma experiência traumática, que redefiniu a trajetória de vida da escritora, e se reflete no estilo da narrativa, que “trafega, de modo deliberadamente transparente, entre o dado e o protesto; o argumento e o fato; a descrição e a explicação; o discurso e a análise; o objetivo e o subjetivo; o sujeito e o objeto; os traços da academia e os rastros das ruas”.



Como explica Tânia Cordeiro, co-orientadora da pesquisa que resultou na publicação, Micropoderes é um estudo “que se constrói sobre farto material empírico e objetiva a compreensão de procedimentos que constituem o habitus jornalístico relativamente à construção midiática do acontecimento violento”. Uma análise “contundente”, que alerta “especialmente aqueles que escrevem ou lêem jornais diários acerca da potencialidade da palavra impressa e sua responsabilidade na produção da ordem – ou da desordem – social”, na síntese de Eneida Leal Cunha, orientadora do trabalho.



Micropoderes, macroviolências chega ao mercado editorial com o aval do movimento social brasileiro. Além do Fórum Comunitário de Combate à Violência e do Movimento Estado de Paz, a publicação conta com o apoio de organizações nacionais e internacionais, entre as quais, a Fundação Avina, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Agência de Notícias dos Diretos da Infância (ANDI), o Observatório de Favelas, o Instituto Sou da Paz e a rede Desarma, Brasil!



Coquetel – O coquetel de lançamento deste livro “sobre o inconsciente da comunicação”, como resume a autora, promete ser um evento descontraído, com show da cantora baiana Noeme Bastos. No repertório, músicas que remetem ao universo reconstruído por Micropoderes, macroviolências, que evidencia as engrenagens (re)produtoras de violências físicas e simbólicas na capital baiana. Engrenagens que “Haiti”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, expõe, de modo emblemático:

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