*Vera Mattos
Há alguns anos atrás o jornalismo corria atrás das informações sobre os crimes:
Dados completos da vítima.Tipologia (homicídio, tentativa de homicídio, estupro, lesão corporal, latrocídio e linchamento). A quem era atribuído o crime se a policial civil, policial militar, grupo de extermínio, desconhecidos, marginal aqui entendido como ladrão ou bandido, outros caracterizados como do grupo próximo ou familiar da vítima.
Havia tempo para buscar-se o motivo do crime: se ação policial, assalto, conflito, envolvimentos com drogas, com justiceiros ou grupos de extermínio.
Levantamento do instrumento utilizado para o êxito do evento: armas e seus diversos tipos. Detalhamento do crime, circunstâncias, região etc.
Hoje já não há mais tempo para isto. Os meninos da Bahia tombam sobre o solo baiano e derramam sangue. Conta a polícia que a ação é de grupos de extermínio que aparecem sempre caracterizados como justiceiros, cobradores de dividas do tráfico, guerra de quadrilhas.
Então a vitima fica assim: morreu um jovem não identificado assassinado por um desconhecido. Mas o motivo é dito com a letra do poder: jovem morto por vinculação ao tráfico de drogas. E leva-se para o Instituto Médico Legal – IML. Nas gavetas espera-se (?) que alguém reconheça oficialmente e venha procurar aquele corpo para enterrar.
Os jovens pobres e negros estão morrendo. O sangue vermelho dos jovens negros está escorrendo sobre o solo baiano.
E não tem demagogia neste discurso não. Faz tempo que falamos sobre isto. Faz tempo que suplicamos soluções quando é dever do Estado nos dar segurança. Quando é dever do Estado nos dar condições e, por conseguinte, também a estes jovens.
Os grupos de extermínio agem assim livremente na Bahia. As listas dos que irão morrer circulam livremente entre os justiceiros que estão a serviço de um poder maior do que o
Estado.
O nosso governador está pessimamente assessorado. Ele que é homem que teve votos suficientes que lhe assegurariam a possibilidade de mudanças radicais na Bahia parece que se entregou a outras questões. Eu, sua eleitora, fico indignada. Jaques Wagner é melhor você rever o seu governo e olhar a imensa matança que estão praticando em seu nome.
Quantos secretários de segurança pública já passaram por você? Que pessoas você procurou ouvir? E os movimentos sociais que ajudaram a te eleger já estiveram com você ou apenas com seus vaidosos assessores?
Wagner tem jovens morrendo. Jovens negros tombando diariamente. A sua polícia quando chega mata e depois lacra o cadáver e diz que foi culpa do tráfico.
Wagner os seus policiais civis e militares estão morrendo, já não podem usar suas fardas. Eles também são mortos para defender a população e em troca recebem um salário miserável.
Wagner temos viúvas de todos os lados. Temos crianças órfãs de todos os lados. Temos mães que não tem como enterrar seus filhos.
Wagner você ouve o grito de dor destas mulheres? Você ouve o grito de dor destas crianças? Você vai ao enterro dos militares e civis mortos?
O que você faz Wagner? Eu te peço: não me envergonhe, não envergonhe quem te elegeu.
Temos direito a uma cidade pacífica, a uma violência em limites que possam ser compreendidos.
Wagner: coloca a cabeça no travesseiro e que venha um clarão de luz que te ajude a oferecer uma saída para tudo isto.
Vamos sair do discurso para a prática.
Renove as suas práticas e não fique no cartilha política da aceitação e da passividade.
Escuta companheiro: hoje, ainda hoje, você terá tempo, se desejar, de salvar muitas vidas.
*Artigo publicado na edição de 07/08/2008 do jornal Tribuna da Bahia.
Vera Mattos é Jornalista e Radialista.
Dirigente da Rede Risco Mulher Brasil, dirigente do Fórum de Mulheres do Mercosul/capitulo Brasil, integrante do Movimento Estado de Paz, entre outros.
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