quinta-feira, 20 de maio de 2010
Vera Mattos escreve: MULHERES QUE AMAM DEMAIS.
Mulheres que amam demais e esquecem de amar a si mesmas. Elas estão sempre voltadas para o outro. Na busca de agradar ao homem que escolheram, tornam-se vítimas voluntárias de si mesmas. Voltam-se para o ser amado como tábua de salvação, colocam no outro a responsabilidade de serem felizes e culpam a si mesmas, culpam a família, culpam os amigos, culpam a fé, culpam a religiosidade. Tudo porque perderam o amor.
A estranha dor é devastadora, é um câncer emocional quem perde a vida, a mulher quer se libertar do desejo de obter nova oportunidade junto ao homem que considera perdido e passa a cometer toda uma série de desatinos e compulsões, Pode desenvolver anorexia por achar que estava gorda e por isto ele a deixou; pode desenvolver a obesidade porque é levada à compulsão de comer cada vez mais, saciar o desejo através da comida, da bebida e do fumo. O ser amado sumiu, evaporou, a deixou tão desamparada que o sofrimento impede qualquer movimento de libertação, a vida ficou cinza e perdeu o sentido, não há razão para luta, única certeza é de dar continuidade ao sofrimento, manter morbidamente o sofrimento, visitar o fundo do poço, elaborar estratégias para ficar mais doente, elaborar estratégias que leve o ser amado a sentir-se culpado, esbravejar contra a família, filhos e pais, comparar a vida com a da própria mãe, transformar o caminho que parece deserto em caminho de pedras intransponíveis.
A mulher que ama demais vive a dependência absoluta do homem amado, somente ele presta, somente ele convém. Mesmo que ele repita mil vezes que não a quer mais, mesmo que ele peça afastamento, ela permanece estagnada. Sim, ele tem que repensar, ele tem que rever as atitudes, ele tem que de novo colocá-la em primeiro plano.
E a mulher que ama demais não existe, ela definha, ela procura psiquiatra, psicanalista, psicoterapeuta, procura terapias alternativas, entra em academia e procura realizar atividades físicas de maneira acentuada. Ela é refém de si mesma. Ela não se liberta do sentimento. Ela não sabe que muitos outros homens existem e que tem dezenas que poderão formar com ela um lindo par. Ela não quer! Ela tomou a decisão de sofrer, de ir ao fundo do poço na tentativa de resgatar o amor, mas o amor não volta e voltará por mera piedade.
E que mulher quer um homem que fique com ela por piedade:
A mulher que ama demais é um carro desgovernado, suas emoçoes estão em absoluto descontrole, é cheia de mágoas, tem expectativas de vinganças.
A mulher que ama demais sofre de todas as dores e somatiza, enfrenta um labirinto de desilusões, vive da expectativa de novas possibilidades com alguém que já perdeu, vive na expectativa de reconstruir o outro para ela. E vivendo a vida do outro, ela esquece de viver a própria vida. Ao esquecer de si mesma, joga fora a chance de construir uma nova história, ou quem sabe, até novas histórias.
Todas as pessoas que estão vivendo ao lado de uma mulher que ama demais estão sofrendo. Ela deseja vingança, ela não admite o fim, ela tem inveja da nova relação dele, ela não conseguirá resistir a tanto sofrimento. Não poderá encarar a nova relação do outro, até em suicídio irá pensar. A vida chega ao ponto do insuportável. A vida chega ao limite do fundo do poço.
Quem irá retirar essa mulher de lá? Mesmo que ele atire a corda para que consiga subir para retornar à realidade, ela não retornará por vontade própria, ela se manterá ali vigiando a vida do outro, sonhando estar com ele, sonhando em ser feliz com ele, sonhando ocupar aquele lugar. Pobre mulher que passa a vida sem nada produzir além do próprio sofrimento. Ela está tão atenta à vida do homem escolhido que nem observa a finitude da vida dela.
“Dedicado às mulheres que amam demais”, Vera Mattos, presidente da Fundação Jaqueira/BA – jornalista e psicanalista, ativista na luta contra a violência às mulheres e às crianças, além de proteção aos idosos.
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