Refletindo sobre a referida hipótese, é possível entender que Leandro morreu pelo gesto de carinho fraternal que teria sido interpretado como uma afronta àqueles jovens que, provavelmente, consideram as próprias convicções e orientações sexuais como únicas a serem respeitadas. Ao verem duas pessoas do sexo masculino caminhando abraçadas teriam encontrado razões para responder àquela "obscenidade" através da força física, quem sabe por que carreguem traços do machismo presente em nossa cultura pelos quais o "homem tem de provar que é homem!". | Leitura de fatos violentos publicados na mídiaAno 12, nº 08, 03/07/2012 |
HOMOFOBIA: ABRAÇOS FATAIS |
Era madrugada de domingo, 24 de junho de 2012. Os irmãos gêmeos José Leandro e José Leonardo saíram de uma festa junina em Camaçari e caminhavam pela rua abraçados, quando foram surpreendidos com as ações violentas perpetradas por oito jovens que saíram de um micro-ônibus e começaram a agredi-los. E assim morreu Leonardo. Assim! Como assim? Assim mesmo.
De acordo com as declarações da delegada que cuida do caso, Maria Teresa Santos Silva, os agressores não conheciam a vítima, portanto, não tinham motivos para matá-los. A hipótese mais provável para o crime é a homofobia.
Refletindo sobre a referida hipótese, é possível entender que Leandro morreu pelo gesto de carinho fraternal que teria sido interpretado como uma afronta àqueles jovens que, provavelmente, consideram as próprias convicções e orientações sexuais como únicas a serem respeitadas. Ao verem duas pessoas do sexo masculino caminhando abraçadas teriam encontrado razões para responder àquela "obscenidade" através da força física, quem sabe por que carreguem traços do machismo presente em nossa cultura pelos quais o "homem tem de provar que é homem!".
No caso em pauta, bastou aos oito heterossexuais projetarem seus olhos sobre dois homens abraçados pela rua para se sentirem desafiados a provar a sua distinção e superioridade sexual. Esta pretendida dominação sobre a sexualidade alheia, pelo que tem sido relatado da ocorrência, dá aos olhos dos indivíduos estreitas lentes as quais, mais que ver circunstâncias distintas dos padrões por eles consentidos, elas criam sobre as cenas as ditas circunstâncias. Assim sendo, até um homofóbico pode ser vítima destes olhos sentenciadores.
Esta dimensão indica o alto grau de intolerância. Por via das dúvidas, mata-se e arranja-se, quem sabe, uma justificativa: "Pô, foi mal, não era gay, mas e se fosse, teríamos acertado em cheio!" E eis aí o elemento mais aberrante. É como se o absurdo se tornasse maior porque as vítimas são dois irmãos e não um casal de homossexuais e, sendo assim, o erro dos algozes toca ao alvo e não à prática de agressão contra um segmento de seres humanos que são dignos de direitos como quaisquer outros.
Cabe lembrar que a delegada Maria Teresa, citada pelo A Tarde pronunciou-se contrária a tais comportamentos: "Estamos no século 21 e matar uma pessoa porque é homossexual é um absurdo. Um jovem pagou com a vida porque foi confundido com um gay".
Estes episódios evidenciam a necessidade de transposição para a vida cotidiana dos direitos e garantias que estão asseguradas na legislação do nosso País. É urgente chegarmos a um acordo sobre o fato de que toda pessoa é ser humano, todo indivíduo tem direito, todos temos deveres e os nossos erros no sentido jurídico devem ser julgados pelas instâncias competentes.
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