terça-feira, 7 de outubro de 2008

Jolivaldo Freitas escreve: O que é preciso para ser candidato.

O que leva uma pessoa a se candidatar a prefeito de uma cidade, de qualquer porte, é algo a se pensar com muita atenção. O candidato deve ter algum tipo de desvio, não é possível que assim não seja. Em sã consciência, quem gostaria de ser comparado a juiz de futebol ou gastar um dinheirão para se eleger, sabendo que não vai receber de volta e que por mais que se esforce não vai agradar a todos.
O candidato é uma figura digna de estudo dos mais renomados psicólogos lá do Mont Serrat, que disputam com os profissionais da Boa Viagem o cetro de melhores cérebros da Cidade Baixa. Um candidato para conseguir voto bebe na mesma caneca do banguela. Aceita tomar café em copo com o fundo sujo e cheio de borra. Almoça várias vezes no mesmo dia e come de buchada de bode a meninico de carneiro, sem direito a fazer cara feia, mesmo sendo vegetariano.
O candidato come comida sem sal, come comida com muito sal. Come feijoada fria e toma cerveja quente. Come em lata de goiabada fazendo a vez de prato, e tira um cochilo no colchão de onde o dono da casa expulsa Rex e suas pulgas. Aperta mão de cotó, beija criança remelenta e chama de “minha linda” menina que de tão feia o espelho arrebenta. Bate pênalti ou dá o primeiro chute em torneio de futebol dentro do curral.
Para piorar tem de dar bom dia a maluco, abraço no bêbado e acenar para os desconhecidos, como se fossem amigos de infância. Tem sempre de estar com uns trocados no bolso, pois sempre vai aparecer aquela mãe com a criança no colo pedindo dinheiro pro remédio ou para comprar leite e aproveitar para falar mal do marido ausente.
Candidato bom vai a velório de quem não conhece, nunca ouviu falar e nem sabe quem é, faz discurso tão tocante que até mesmo ele acredita e chora de verdade, deixando filhos e viúva abestalhados de ver e ouvir e vaidosos pela presença tão ilustre num momento de dor. È preciso mostrar que é macho e, portanto, tem de subir no lombo do jegue e participar da corrida. Tem de matar um boi para acalmar a fome dos acólitos. Tem de conviver dentro de casa com todo tipo de gente, que o chama pelo nome, come o que tem no fogão, bebe o que tem na geladeira e ainda mexe com suas filhas. Caras que nunca viu na vida, mas candidato não pode fechar as portas.
Coisa ruim de agüentar é carregar nos braços afilhado da hora, e ali mesmo, ter de comprar o enxoval do bebê, pois não basta o candidato ser compadre. Tem de participar. Pior é quando seguram em seu braço e à voz pequena alguém, garante no pé do ouvido, que soube de boca pequena que ele está eleito. E pede um adjutório. Muitos garantem ter milhares de votos e na hora do vamos ver nem ele votou no candidato. Mas não deixou de pegar uma graninha para a gasolina.
Candidato tem de participar de debate em escolinha, vendo que a diretora da escola está feliz com sua presença e a criançada esperando o sinal de ir embora. É preciso ajudar a bater laje, mesmo sabendo que vai ter de se encher de antiinflamatório para diminuir as dores da hérnia de disco. Tem de pisar na lama e pular cerca. Tem de subir escadas que vão dar no céu e enfrentar cachorro vira-lata. Não pode esquecer de chamar todo mundo pelo nome. Candidato bom tem de ter boa memória.
Foi o caso de um candidato que na campanha encontrou um eleitor e perguntou como ia o pai.
- Morreu ano passado – disse consternado.
- Ah! Lembro. Até ajudei no enterro – respondeu o candidato entristecido.
- Não ajudou, não! – Retrucou o eleitor.
- Não lembrava. Mas, sua senhora mãe está viva? – Perguntou o candidato.
- Está – Disse o eleitor.
- Então, assim que ela morrer me ligue para dar o caixão – Pediu o candidato.



Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista.
e-mail: jfk6@uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você é livre para oferecer a sua opinião.