"Cabe ao PT uma grande responsabilidade. Do contrário essa aliança pode se quebrar ou até pior, surgir uma antialiança ao PT. Pode até haver separação", disse.
Sentado sob um retrato do histórico líder comunista João Amazonas (1912-2002) na reformulada sede do partido no centro de São Paulo, Rabelo disse que o PC do B prepara para 2012 o lançamento do maior número de candidatos a prefeito de sua história, muitos deles contra o PT - como o vereador Netinho de Paula, na capital paulista - e não descartou alianças pontuais com partidos de oposição a Dilma.
Quanto à recente aproximação do partido com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), Rabelo admitiu, pragmático, não haver afinidades ideológicas, mas defendeu a aliança. "Com o Kassab não há uma identidade ideológica, há aproximações políticas. Se tivéssemos, por exemplo, a mesma ideologia que o PT nós seríamos do PT, faríamos parte do PT", disse Rabelo, que falou ainda sobre o movimento do prefeito em direção à base aliada à presidenta
Dilma Rousseff. "Não estamos indo para o lado do Kassab. O Kassab é que está vindo para o lado de cá." Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
iG - O PC do B já traçou uma estratégia para 2012?Renato Rabelo - O PC do B levou 15 anos tendo somente candidatos proporcionais e assim mesmo concentrando em algumas candidaturas. De 2004 e 2006 para cá começamos a mudar essa orientação e ter candidaturas majoritárias. Agora pretendemos ir mais ainda. Em 2010, fomos o quarto partido mais votado para o Senado, mais até do que o DEM. E se tivemos estes votos é porque temos lideranças importantes. Essa acumulação eleitoral vai desembocar em 2012. O que a gente chama de projeto 2012 é o maior da história do PC do B. Podemos até eleger prefeitos de capitais, como por exemplo a Manuela (
D'Ávila) em Porto Alegre, onde podemos contar com apoio até do PT. O governador Tarso Genro (PT) admite que PC do B teve um papel importante na eleição dele. Em São Paulo queremos dar peso à candidatura do Netinho de Paula.
iG - O senhor disse que durante 15 anos o PC do B só teve candidaturas proporcionais. Isso se deve em grande parte aos apoios oferecidos ao PT. Em 2012 essa relação vai mudar?Rabelo - Na evolução política há sempre variações nas relações. Não se pode dizer que uma relação política vai ser igual a vida inteira. Toda aliança é fruto de um momento. Tudo na vida é assim. Pode mudar para melhor ou para pior. Pode mudar para uma aproximação maior ou para um afastamento. Nós tivemos sempre uma relação de primeiro nível com o PT. O que acontece agora é que o PT é o partido hegemônico na esfera federal e luta para manter essa hegemonia. Exatamente por isso pode cometer erros, tender a querer uma hegemonia absoluta. Se nesse processo não houver entendimento e confiança mútua pode criar problemas e afastamentos, uma reação em sentido contrário, uma frente contra o partido hegemônico. Isso a história mostra. Então cabe ao PT uma grande responsabilidade que é exercer uma hegemonia que dê harmonia à aliança. Do contrário essa aliança pode se quebrar ou até pior, surgir uma antialiança ao PT. Pode até haver separação. Depende da atitude de cada partido.
iG - A forma como o PT tem lidado com a divisão de cargos do governo Dilma é um risco?
Rabelo - O governo está começando. Ainda não se pode dizer. Mas vai ser um fator indicador importante e vamos levar em conta tudo isso. Não vamos raciocinar com o fígado mas se a atitude é política vamos responder politicamente. Dentro das nossas condições, é claro.
iG – Qual é sua opinião sobre a aproximação do PC do B com Gilberto Kassab?Rabelo – Há uma convergência com o prefeito em algumas questões políticas que já vem de um ano ou mais. O episódio da mesa da Câmara de Vereadores (
onde o PC do B apoiou Kassab contra o PT) mostra isso. Nós apoiamos o candidato do prefeito porque aquele grupo dominava a mesa há muito tempo. O prefeito Kassab resolveu enfrentar essa questão e nós tivemos um papel importante porque nossos dois vereadores foram a fiel da balança. Kassab está determinado em vir para um partido da base de apoio do governo federal. É por isso que houve essa aproximação. Para o PC do B, a definição política dele é muito importante. Não vamos fazer aliança com pessoas que estão do lado político que não é o nosso. Em resumo: não estamos indo para o lado do Kassab. O Kassab é que está vindo para o lado de cá.
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