sexta-feira, 13 de maio de 2011

Represália talibã após morte de Bin Laden mata 88 no Paquistão.


Agus Morales.

Islamabad, 13 mai (EFE).- Pelo menos 88 pessoas, a maioria cadetes das forças de segurança do Paquistão, morreram nesta sexta-feira em um duplo ataque suicida executado no norte do país pelos talibãs em "vingança" pela morte de Osama bin Laden.

A Polícia garantiu à Agência Efe que 79 recrutas e nove civis morreram na ação realizada em frente à academia da guarda de fronteiras ('Frontier Corps', conhecida por FC) na localidade de Charsada, que fica a duas horas de carro de Islamabad.

Por causa da intensidade das explosões, ao menos 15 corpos ficaram carbonizados. Além dos mortos, 105 pessoas sofreram ferimentos, 25 delas com gravidade.

O duplo atentado ocorreu quando os recrutas deixavam o centro militar para entrar em um ônibus que os levaria às suas casas para alguns dias de descanso, após um período de treinamento no centro de formação.

Ao menos 15 destes ônibus sofreram danos por causa das potentes explosões, de acordo com uma das fontes da Polícia de Charsada.

O atentado foi assumido por um porta-voz do movimento talibã paquistanês (Tehrik-i-Taliban Pakistan, TTP), Ehsanulah Ehsan, quem em mensagem de texto enviada à imprensa afirmou que "a vingança pela (morte de) Osama continuará" na forma de ataques.

"Não envieis vossos filhos para alistarem-se nas forças de segurança paquistanesas", advertiu o porta-voz na mensagem, redigido em urdu.

Os FC, vestígio do Império britânico, são pensados para proteger o flanco ocidental do país e é formado basicamente por pashtuns, a mesma etnia das áreas tribais e da qual procedem também os talibãs.

Este é o primeiro grande ataque desde a morte de Bin Laden na cidade de Abbottabad, ao norte do país, no dia 2 de maio em uma operação dos EUA, embora naquele mesmo dia uma bomba detonada por controle remoto matou nove pessoas perto de uma mesquita, precisamente em Charsada.

Em comunicado de condenação, o primeiro-ministro, Yousuf Raza Gillani, criticou o desrespeito dos insurgentes "à vida e à religião" e a continuidade de "sua própria e vil agenda" política.

Gillani reiterou a vontade do Paquistão de lutar contra o terrorismo, em um momento em que a comunidade internacional colocou em dúvida a sinceridade dos esforços do país e o papel de seu Exército e seus serviços secretos (ISI).

A localidade na qual Bin Laden foi encontrado, Abbottabad, é uma cidade de tamanho médio e não muito distante de Islamabad, onde fica a sede de uma importante academia de formação militar, Kakul, e vivem inúmeros militares aposentados.

Apesar das suspeitas, Gillani se esforçou nos últimos dias em lembrar que foram os paquistaneses que pagaram o preço mais alto no cenário posterior aos atentados de 11 de setembro de 2001: 30 mil civis e outros 5 mil membros das forças de segurança morreram desde então nos ataques insurgentes e operações militares.

Neste ano, os talibãs atentaram em várias ocasiões contra as forças de segurança paquistanesas, com especial intensidade na província noroeste de Khyber-Pakhtunkhwa (KPK). Como exemplo citou a ação contra outro centro de recrutamento militar que matou 31 cadetes em Mardan, no mês de fevereiro.

O atentado desta sexta-feira é um duro golpe às forças de segurança paquistanesas, mas confirma que o Paquistão continua entre os principais alvos de atentados talibãs, da rede terrorista Al Qaeda e de grupos relacionados.

Tanto o ISI quanto o Exército admitiram desconhecer que os EUA planejavam a operação contra o líder da Al Qaeda, e estão fazendo esforços para demonstrar que forneceram informações relevantes à CIA (agência de inteligência americana) que serviram para ajudar a localizar o paradeiro de Bin Laden.

Uma das versões mais divulgadas é que a CIA pode ter atuado a partir das chamadas em árabe interceptadas e compartilhadas pelo ISI que serviram para puxar o fio da meada que levou até Bin Laden, afirmou a Efe uma fonte próxima aos círculos militares. Mas o pensamento não é unanimidade. EFE

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