Quinta, 29 de novembro de 2012
Os verdadeiros responsáveis pelo atentado do Riocentro. Entrevista especial com Jair Krischke
"Fica evidente que havia dentro do Estado brasileiro, mesmo que fosse uma ditadura, um Estado paralelo, um Estado terrorista que praticava crimes hediondos e que lesava a humanidade", constata o historiador.
Confira a entrevista.
O documento que comprova a prisão do deputado federal e engenheiro Rubens Paiva e o envolvimento do exército com o seu desaparecimento durante a ditadura militar demonstram que a ação do Riocentro "foi planejada e levada a efeito pelo Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-Codi do Rio de Janeiro, ou seja, por um setor militar que foi criado como um aparelho da repressão e tinha uma atuação duríssima, porque queriam que a ditadura permanecesse e que se prolongasse indefinidamente", diz Jair Krischke à IHU On-Line em entrevista concedida por telefone.
Para ele, o documento encontrado nos arquivos do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias permite rever a história e confirmar que os militares organizaram um atentado "para adiar a abertura democrática no momento, porque os 'comunistas subversivos continuavam ativos'", ironiza.
Krischke prestou seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade na última terça-feira, 27-11-2011, denunciando a Operação Condor no Brasil e sugerindo a recuperação de arquivos que estão sobre o domínio do Comando Militar do Sul. "Saio satisfeito após dar meu depoimento, e posso dizer que, finalmente, o nosso país, a exemplo dos demais que já fizeram, está recuperando a história recente do Brasil", conclui.
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Jair Krischke (foto abaixo) é ativista dos direitos humanos no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai. Em 1979, fundou o Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, a principal organização não governamental ligada aos direitos humanos da região sul do Brasil. Também é o fundador do Comitê de Solidariedade com o Povo Chileno.
O documento que comprova a prisão do deputado federal e engenheiro Rubens Paiva e o envolvimento do exército com o seu desaparecimento durante a ditadura militar demonstram que a ação do Riocentro "foi planejada e levada a efeito pelo Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-Codi do Rio de Janeiro, ou seja, por um setor militar que foi criado como um aparelho da repressão e tinha uma atuação duríssima, porque queriam que a ditadura permanecesse e que se prolongasse indefinidamente", diz Jair Krischke à IHU On-Line em entrevista concedida por telefone.
Para ele, o documento encontrado nos arquivos do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias permite rever a história e confirmar que os militares organizaram um atentado "para adiar a abertura democrática no momento, porque os 'comunistas subversivos continuavam ativos'", ironiza.
Krischke prestou seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade na última terça-feira, 27-11-2011, denunciando a Operação Condor no Brasil e sugerindo a recuperação de arquivos que estão sobre o domínio do Comando Militar do Sul. "Saio satisfeito após dar meu depoimento, e posso dizer que, finalmente, o nosso país, a exemplo dos demais que já fizeram, está recuperando a história recente do Brasil", conclui.
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Jair Krischke (foto abaixo) é ativista dos direitos humanos no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai. Em 1979, fundou o Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, a principal organização não governamental ligada aos direitos humanos da região sul do Brasil. Também é o fundador do Comitê de Solidariedade com o Povo Chileno.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual a importância e o significado de conhecermos hoje os detalhes da explosão da bomba no Riocentro em 1981?
Jair Krischke – A partir da análise dos documentos encontrados, fica clara a responsabilidade do Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-Codi do Rio de Janeiro no episódio, apesar de eles terem negado o caso. Foi instaurado um inquérito policial que, claro, não resultou em nada, mas prova que os autores do caso foram eles. Se a bomba não tivesse explodido no carro de dois agentes, teria acontecido um morticínio de mais de 20 mil pessoas que se encontravam no show. Imagina mais de 20 mil brasileiros mortos em uma explosão que queriam atribuir aos comunistas. Os ditadores queriam, mesmo depois da anistia, permanecer no poder, atribuindo esse atentado à esquerda. Então, por isso esses documentos são importantes, pois revelam quem foram os verdadeiros responsáveis pelo atentado e qual a dimensão que esse caso poderia ter tomado.
IHU On-Line – Em que sentido esses documentos são reveladores para que se esclareça como o episódio do Riocentro está ligado ao centro de comando do aparelho de repressão do Estado?
Jair Krischke – Toda essa ação foi planejada e levada a efeito pelo DOI-Codi do Rio de Janeiro, ou seja, por um setor militar que foi criado como um aparelho da repressão e que tinha uma atuação duríssima, pois queria que a ditadura permanecesse e que se prolongasse indefinidamente. Então, a ideia deles foi produzir esse atentado e atribuí-lo à esquerda, para adiar a abertura democrática no momento, porque os "comunistas subversivos continuavam ativos". Então, essa revelação é muito oportuna especialmente neste momento em que há no Brasil uma Comissão Nacional da Verdade, que poderá, a partir desses documentos, aprofundar a investigação e bem mais além do que até hoje foi feita.
IHU On-Line – Que informações importantes aparecem nos documentos encontrados na casa do coronel Molinas Dias sobre a prisão e morte do deputado cassado pela ditadura Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos e cuja morte foi negada pelos militares?
Jair Krischke – Os documentos comprovam que Rubens Paiva esteve nas mãos do DOI-Codi. Isso evidência que ele foi torturado, assassinado, teve seu corpo desaparecido, e por quem? Por aqueles militares que operavam no DOI-Codi. Esses documentos desmascaram, de uma vez por todas, a autoria desse crime bárbaro. Esse é mais um documento pelo qual a Comissão Nacional da Verdade poderá buscar mais informações. Há uma assinatura neste documento. De quem é a assinatura? Identificando-a, será possível saber se a pessoa que assinou ainda está viva ou não, e se poderá depor na Comissão da Verdade.
Os militares tinham esse costume de negar os crimes que cometiam, crimes hediondos etc. Como eles mantinham esse hábito, negaram o caso envolvendo o deputado Rubens Paiva, que foi exilado e havia retornado ao país para trabalhar como engenheiro. É claro que ele mantinha relações com uma série de pessoas e que, segundo a ditadura, eram pessoas subversivas. Certamente, esta foi a razão pela qual ele foi vítima dessa barbárie.
IHU On-Line – Como compreender que documentos dessa envergadura estivessem em mãos de uma pessoa?
Jair Krischke – Esse era um hábito muito cultivado pelos repressores; eles levavam documentos importantes para casa. No caso do Rubens Paiva [1], certamente o coronel não tinha nada a ver diretamente com o assunto, mas guardou os documentos para que, caso algum ex-colega do aparelho repreensivo quisesse lhe denunciar por alguma coisa, teria outras provas. Era uma regra entre os "arapongas" não confiar nem na sua própria mãe. Então, entende-se por que ele teria documentos que não tinham nada a ver com a sua atividade. Por outro lado, aqueles documentos que foram manuscritos, estes sim eram da sua responsabilidade.
IHU On-Line – O que esses episódios evidenciam sobre as práticas do regime militar com aqueles que eram considerados "inimigos"?
Jair Krischke – Fica evidente que havia dentro do Estado brasileiro, mesmo que fosse uma ditadura, um Estado paralelo, um Estado terrorista que praticava crimes hediondos e que lesava a humanidade. Tenho esperanças de que no futuro isso irá aparecer e um dia essas pessoas serão responsabilizadas, porque esses são crimes imprescritíveis.
IHU On-Line – Qual a validade desses documentos para o trabalho da Comissão Nacional da Verdade?
Jair Krischke – São documentos absolutamente inéditos. Nós nunca antes tivemos qualquer outra manifestação ou documento que narrasse o caso do Riocentro. Esses documentos trazem informações detalhadas, de minuto a minuto; é uma confissão de responsabilidade. Através deste documento se pode buscar outros responsáveis. O coronel estava lá no DOI-Codi comandando a ação, mas havia certamente mais de 20 agentes de campo, os quais ainda não sabemos o nome. Uma investigação poderá apurar essas informações.
Quando foi instaurado um inquérito policial militar, o primeiro militar indicado para presidir o inquérito policial foi o coronel Dickson Grael [2]. Ele deu uma declaração para a imprensa dizendo que faria o inquérito "doa a quem doer". Imediatamente ele foi afastado. Foi nomeado um segundo coronel, que adoeceu, o qual foi substituído por um terceiro, que fez um inquérito e não apurou nada. Depois, o coronel Dickson Grael se aposentou do exército e escreveu um livro sob o título À sombra da Impunidade, onde aponta o seu dedo acusador para o coronel Júlio Miguel Molinas Dias [3], que era o comandante. O mesmo ele disse para o Jornal do Brasil. Até o momento, só tínhamos esse indicativo. Agora, temos um documento de próprio punho, o que possibilitará uma investigação. Então, por isso a importância dos documentos, já que num passado recente tudo foi negado. Agora, não há dúvida.
IHU On-Line – Qual a novidade e a motivação que estes dados recentes, principalmente aquele envolvendo Rubens Paiva, traz para os debates sobre a Lei da Anistia?
Jair Krischke – É tempo de se discutir, e isto vai reforçar aquilo que já está posto, ou seja, de a Lei de Anistia não tem a menor validade no âmbito internacional. O Brasil já está condenado pela Corte Americana de Direitos Humanos a não adotar o critério da Lei de Anistia, que foi uma autoanistia, na verdade. Então, todos esses episódios, e certamente aparecerão outros, irão evidenciar que os crimes foram tão hediondos que o Supremo será sensível, e não irá querer compactuar com eles. Apesar das críticas à Comissão da Verdade, essa é a que nós temos e, como brasileiros, temos o dever de lutar por ela e cobrar tudo aquilo que entendamos que deva ser cobrado.
IHU On-Line – O senhor esteve em Brasília nesta semana. Como foi seu depoimento na Comissão Nacional da Verdade?
Jair Krischke – Prestei o meu depoimento, provando documentalmente que quem criou a Operação Condor foi o Brasil. Documentalmente, provei a primeira Operação Condor em dezembro de 1970, e a segunda em junho de 1971. Fiz um pedido à Comissão, e certamente ficaram comprometidos em executar, em relação aos documentos do DOPS do Rio Grande do Sul. O estado do Rio Grande do Sul foi o único que, publicamente, disse que queimou os documentos do DOPS, em maio de 1982. Mas isso foi uma farsa, uma redonda farsa, porque um ano depois eu resgatei documentos que, segundo o Estado, haviam sido queimados, com duas anotações posteriores à data da suposta queima. Esses documentos foram microfilmados e se encontram em poder do Comando Militar do Sul. Provei isso que estou dizendo e fiz um apelo à Comissão Nacional da Verdade, que tem poderes legais para recuperar, junto ao Comando Militar do Sul, todos esses documentos, que são patrimônio do estado do Rio Grande do Sul e que, neste momento, se encontram em mãos indevidas. Saio satisfeito após dar meu depoimento, e posso dizer que, finalmente, o nosso país, a exemplo dos demais que já fizeram, está recuperando a história recente do Brasil.
IHU On-Line – Quais são as perspectivas de que os arquivos da ditadura sejam disponibilizados a partir dos trabalhos da Comissão da Verdade?
Jair Krischke – Muitíssimo boas. Muitos arquivos já estão disponíveis, é só saber buscá-los. Invariavelmente digo que não basta ser alfabetizado, tem que saber buscá-los no Brasil e no exterior também.
NOTAS
IHU On-Line – Qual a importância e o significado de conhecermos hoje os detalhes da explosão da bomba no Riocentro em 1981?
Jair Krischke – A partir da análise dos documentos encontrados, fica clara a responsabilidade do Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-Codi do Rio de Janeiro no episódio, apesar de eles terem negado o caso. Foi instaurado um inquérito policial que, claro, não resultou em nada, mas prova que os autores do caso foram eles. Se a bomba não tivesse explodido no carro de dois agentes, teria acontecido um morticínio de mais de 20 mil pessoas que se encontravam no show. Imagina mais de 20 mil brasileiros mortos em uma explosão que queriam atribuir aos comunistas. Os ditadores queriam, mesmo depois da anistia, permanecer no poder, atribuindo esse atentado à esquerda. Então, por isso esses documentos são importantes, pois revelam quem foram os verdadeiros responsáveis pelo atentado e qual a dimensão que esse caso poderia ter tomado.
IHU On-Line – Em que sentido esses documentos são reveladores para que se esclareça como o episódio do Riocentro está ligado ao centro de comando do aparelho de repressão do Estado?
Jair Krischke – Toda essa ação foi planejada e levada a efeito pelo DOI-Codi do Rio de Janeiro, ou seja, por um setor militar que foi criado como um aparelho da repressão e que tinha uma atuação duríssima, pois queria que a ditadura permanecesse e que se prolongasse indefinidamente. Então, a ideia deles foi produzir esse atentado e atribuí-lo à esquerda, para adiar a abertura democrática no momento, porque os "comunistas subversivos continuavam ativos". Então, essa revelação é muito oportuna especialmente neste momento em que há no Brasil uma Comissão Nacional da Verdade, que poderá, a partir desses documentos, aprofundar a investigação e bem mais além do que até hoje foi feita.
IHU On-Line – Que informações importantes aparecem nos documentos encontrados na casa do coronel Molinas Dias sobre a prisão e morte do deputado cassado pela ditadura Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos e cuja morte foi negada pelos militares?
Jair Krischke – Os documentos comprovam que Rubens Paiva esteve nas mãos do DOI-Codi. Isso evidência que ele foi torturado, assassinado, teve seu corpo desaparecido, e por quem? Por aqueles militares que operavam no DOI-Codi. Esses documentos desmascaram, de uma vez por todas, a autoria desse crime bárbaro. Esse é mais um documento pelo qual a Comissão Nacional da Verdade poderá buscar mais informações. Há uma assinatura neste documento. De quem é a assinatura? Identificando-a, será possível saber se a pessoa que assinou ainda está viva ou não, e se poderá depor na Comissão da Verdade.
Os militares tinham esse costume de negar os crimes que cometiam, crimes hediondos etc. Como eles mantinham esse hábito, negaram o caso envolvendo o deputado Rubens Paiva, que foi exilado e havia retornado ao país para trabalhar como engenheiro. É claro que ele mantinha relações com uma série de pessoas e que, segundo a ditadura, eram pessoas subversivas. Certamente, esta foi a razão pela qual ele foi vítima dessa barbárie.
IHU On-Line – Como compreender que documentos dessa envergadura estivessem em mãos de uma pessoa?
Jair Krischke – Esse era um hábito muito cultivado pelos repressores; eles levavam documentos importantes para casa. No caso do Rubens Paiva [1], certamente o coronel não tinha nada a ver diretamente com o assunto, mas guardou os documentos para que, caso algum ex-colega do aparelho repreensivo quisesse lhe denunciar por alguma coisa, teria outras provas. Era uma regra entre os "arapongas" não confiar nem na sua própria mãe. Então, entende-se por que ele teria documentos que não tinham nada a ver com a sua atividade. Por outro lado, aqueles documentos que foram manuscritos, estes sim eram da sua responsabilidade.
IHU On-Line – O que esses episódios evidenciam sobre as práticas do regime militar com aqueles que eram considerados "inimigos"?
Jair Krischke – Fica evidente que havia dentro do Estado brasileiro, mesmo que fosse uma ditadura, um Estado paralelo, um Estado terrorista que praticava crimes hediondos e que lesava a humanidade. Tenho esperanças de que no futuro isso irá aparecer e um dia essas pessoas serão responsabilizadas, porque esses são crimes imprescritíveis.
IHU On-Line – Qual a validade desses documentos para o trabalho da Comissão Nacional da Verdade?
Jair Krischke – São documentos absolutamente inéditos. Nós nunca antes tivemos qualquer outra manifestação ou documento que narrasse o caso do Riocentro. Esses documentos trazem informações detalhadas, de minuto a minuto; é uma confissão de responsabilidade. Através deste documento se pode buscar outros responsáveis. O coronel estava lá no DOI-Codi comandando a ação, mas havia certamente mais de 20 agentes de campo, os quais ainda não sabemos o nome. Uma investigação poderá apurar essas informações.
Quando foi instaurado um inquérito policial militar, o primeiro militar indicado para presidir o inquérito policial foi o coronel Dickson Grael [2]. Ele deu uma declaração para a imprensa dizendo que faria o inquérito "doa a quem doer". Imediatamente ele foi afastado. Foi nomeado um segundo coronel, que adoeceu, o qual foi substituído por um terceiro, que fez um inquérito e não apurou nada. Depois, o coronel Dickson Grael se aposentou do exército e escreveu um livro sob o título À sombra da Impunidade, onde aponta o seu dedo acusador para o coronel Júlio Miguel Molinas Dias [3], que era o comandante. O mesmo ele disse para o Jornal do Brasil. Até o momento, só tínhamos esse indicativo. Agora, temos um documento de próprio punho, o que possibilitará uma investigação. Então, por isso a importância dos documentos, já que num passado recente tudo foi negado. Agora, não há dúvida.
IHU On-Line – Qual a novidade e a motivação que estes dados recentes, principalmente aquele envolvendo Rubens Paiva, traz para os debates sobre a Lei da Anistia?
Jair Krischke – É tempo de se discutir, e isto vai reforçar aquilo que já está posto, ou seja, de a Lei de Anistia não tem a menor validade no âmbito internacional. O Brasil já está condenado pela Corte Americana de Direitos Humanos a não adotar o critério da Lei de Anistia, que foi uma autoanistia, na verdade. Então, todos esses episódios, e certamente aparecerão outros, irão evidenciar que os crimes foram tão hediondos que o Supremo será sensível, e não irá querer compactuar com eles. Apesar das críticas à Comissão da Verdade, essa é a que nós temos e, como brasileiros, temos o dever de lutar por ela e cobrar tudo aquilo que entendamos que deva ser cobrado.
IHU On-Line – O senhor esteve em Brasília nesta semana. Como foi seu depoimento na Comissão Nacional da Verdade?
Jair Krischke – Prestei o meu depoimento, provando documentalmente que quem criou a Operação Condor foi o Brasil. Documentalmente, provei a primeira Operação Condor em dezembro de 1970, e a segunda em junho de 1971. Fiz um pedido à Comissão, e certamente ficaram comprometidos em executar, em relação aos documentos do DOPS do Rio Grande do Sul. O estado do Rio Grande do Sul foi o único que, publicamente, disse que queimou os documentos do DOPS, em maio de 1982. Mas isso foi uma farsa, uma redonda farsa, porque um ano depois eu resgatei documentos que, segundo o Estado, haviam sido queimados, com duas anotações posteriores à data da suposta queima. Esses documentos foram microfilmados e se encontram em poder do Comando Militar do Sul. Provei isso que estou dizendo e fiz um apelo à Comissão Nacional da Verdade, que tem poderes legais para recuperar, junto ao Comando Militar do Sul, todos esses documentos, que são patrimônio do estado do Rio Grande do Sul e que, neste momento, se encontram em mãos indevidas. Saio satisfeito após dar meu depoimento, e posso dizer que, finalmente, o nosso país, a exemplo dos demais que já fizeram, está recuperando a história recente do Brasil.
IHU On-Line – Quais são as perspectivas de que os arquivos da ditadura sejam disponibilizados a partir dos trabalhos da Comissão da Verdade?
Jair Krischke – Muitíssimo boas. Muitos arquivos já estão disponíveis, é só saber buscá-los. Invariavelmente digo que não basta ser alfabetizado, tem que saber buscá-los no Brasil e no exterior também.
NOTAS
[1] Rubens Beyrodt Paiva (Santos, 26 de dezembro de 1929 — desaparecido em 20 de janeiro de 1971): engenheiro civil e político brasileiro desaparecido durante o regime militar. Era filho de Jaime Almeida Paiva, advogado, fazendeiro do Vale do Ribeira e despachante do Porto de Santos, e de Araci Beyrodt.
[2] Coronel Dickson Grael: ex-diretor do Riocentro, afastado alguns dias antes do atentado. Coronel da reserva que foi o responsável pela reabertura das investigações sobre as bombas que explodiram no Riocentro, no dia 1° de maio de 1981, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o capitão Wilson Luís Chaves.
[3] Júlio Miguel Molinas Dias: coronel reformado, 78 anos, foi morto a tiros em frente de casa, em Porto Alegre.O coronel era comandante do destacamento de operações internas do Exército no Rio de Janeiro, na época do caso Riocentro.
[2] Coronel Dickson Grael: ex-diretor do Riocentro, afastado alguns dias antes do atentado. Coronel da reserva que foi o responsável pela reabertura das investigações sobre as bombas que explodiram no Riocentro, no dia 1° de maio de 1981, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o capitão Wilson Luís Chaves.
[3] Júlio Miguel Molinas Dias: coronel reformado, 78 anos, foi morto a tiros em frente de casa, em Porto Alegre.O coronel era comandante do destacamento de operações internas do Exército no Rio de Janeiro, na época do caso Riocentro.
Para ler mais:
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