terça-feira, 18 de março de 2008

40 MIL PESSOAS SOMEM POR ANO NO BRASIL


O desespero da falta de informações leva milhares de mães brasileiras a prestarem queixa de desaparecimento de crianças e adolescentes. Dados da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, órgão do Ministério da Justiça (MJ), revelam que 40 mil pessoas desaparecem no Brasil a cada ano.


Deste total, algo em torno de 10 a 15% permanecem desaparecidas, por longos períodos de tempo e, às vezes nunca são encontradas. Entre os sumidos, muitos são crianças e adolescentes. Na Bahia, por ano desaparecem em média 700 a 800 pessoas, sendo que o número de crianças é considerado pequeno, ficando em torno de 100 a 120. Mas o índice de localização é alto, chegando a 66%, de acordo com dados da Polinter, Coordenação de Polícia Interestadual, unidade da Polícia Civil responsável por esta área de atuação.


Na Bahia, dramas como o de Vera Lúcia Coelho, 46 anos, dona-de-casa e moradora de Camaçari, são cada vez mais comuns. Seu filho de 11 anos, Olavo Santos Júnior, desapareceu no dia 25 de fevereiro e desde então, familiares vivem a expectativa por notícias. “Júnior é um menino estudioso, faz capoeira na Cidade do Saber e nunca foi envolvido com coisas erradas. No domingo, ele foi ao circo com dois colegas e depois, tomou café e dormiu. Na segunda-feira, foi para o colégio e pediu dinheiro para consertar a bicicleta e cortar o cabelo. Não fez nada que prometeu e sumiu”, conta a mãe.


Porém, a hipótese levantada por familiares para o desaparecimento do garoto nasceu das queixas que o garoto fazia a sua irmã. “Ele sempre falava em fugir, porque eu não deixava ele ficar na rua até tarde. Não passava das 21 horas”, disse Vera Lúcia. Ainda longe de casa, Olavo ligou para uma vizinha, no último dia 9, e disse que estava em Plataforma. Porém, a ligação foi cortada e este, não mais retomou contato. “O pior foi quando ligaram dizendo que tinha um corpo no IML. Cheguei a ir para Salvador e nada”, lembra.


Para a família, a peregrinação custa caro. Sem dinheiro para arcar com o transporte e telefonemas, Vera Lúcia é impedida de procurar o filho, mesmo que por iniciativa própria. “Fui para Salvador com a conta certa para voltar. Não tenho mais como gastar dinheiro, vou entregar a Deus. Não posso sair sozinha porque tenho pressão alta”, lamenta. A baiana Josenilda Ribeiro Lima, 56 anos, que viveu o drama de ver sua filha desaparecida e amargar cinco anos até uma notícia concreta.


A jovem Simone Pinho, 26 anos, viajou para Lençóis em 2000 e desapareceu. Josenilda passou a enfrentar uma batalha de viajar para garimpar informações com a polícia e moradores da região. Em 2002, ainda sem notícias de sua filha única, fundou uma Ong com seu nome, registrada do Movimento Nacional de Busca e Apoio à Pessoas Desaparecidas Simone Pinho.


“Com cinco meses do desaparecimento, a única pista encontrada foi a bolsa de minha filha num rio da região, com todos os documentos e seu periquito de estimação, sem a cabeça. Mesmo com essa cena horrível, não queria acreditar na possibilidade que Simone estivesse morta. Mas em 2005, após prisão de José Vicente Matias, o serialquiler Corumbá, chegou a informação que uma baiana tinha sido morta”, conta Josenilda Lima. Desde então, a luta foi travada para trazê-lo de São Luiz do Maranhão à Bahia para localizar o corpo enterrado. Mais dois meses até o resultado do DNA e a confirmação da morte.


Desde a fundação, a Ong já catalogou dois mil desaparecidos, destes, localizou 450. Entre os casos de crianças desaparecidas, um bebê de 1,7 anos que sumiu, dentro de casa, enquanto sua mãe tomava banho e pediu à vizinha para olhá-lo. Desde 2001, nunca foi encontrado. “Falta uma investigação mais profunda. Tem casos escabrosos que possuem suspeitos e nós não temos estrutura para investigar”, lamenta Josenilda Ribeiro Lima.
Em oito anos, mais de seis mil pessoas sumiram na Bahia


Em oito anos, mais de seis mil pessoas sumiram na Bahia.

De acordo com o diretor da Polinter da Bahia, Joelson dos Santos Reis, em oito anos, já foram mais de 6.400 desaparecimentos de pessoas no Estado. O índice de elucidação dos casos chega a 66% e só não é maior, segundo ele, porque muitos familiares não retornam à Polinter para registrar o retorno de desaparecidos. Em 2007, foram registrados 734 desaparecimentos, sendo que 546 pessoas foram encontradas. Entre os desaparecidos no ano passado, 21 crianças e 117 adolescentes. Este ano, até início de março, dos 141 casos registrados, 88 já foram solucionados. “Esse índice pode ser maior. Muitos parentes que vêm registrar queixas, quando o familiar desaparecido volta para casa, não retornam ao órgão para dar baixa”, afirma Reis.


Entre os principais tipos de desaparecimento estão a fuga do lar (conflito com familiares); conflitos de guarda (subtração de incapaz); rapto consensual (fuga com namorado); perda (por descuido, negligência, desorientação); situação de abandono (situações de rua); vítima de acidente, intempérie, calamidade; tráfico para fins de exploração sexual; seqüestro; transferência irregular de guarda (perda de contato); fuga de instituição; além de suspeita de homicídio ou extermínio.


“Em 2007, foram registradas 438 queixas de homens adultos desaparecidos, o que se deve na maioria dos casos, por abandono de lar ou problemas mentais. Já entre as adolescentes, as fugas com namorados são muito comuns, como o caso complicado que localizamos uma menina que havia fugido atrás de um rapaz do circo. Já as crianças, muitas vezes se perdem na rua, são seqüestradas ou morrem. Mas, se comparado com outros estados, o índice baiano ainda é menor”, garante o diretor da Polinter. Joelson Reis aposta em um novo sistema que deverá ser lançado em breve, que disponibilizará cadastro de informações e fotos dos desaparecidos via internet.


No site do Ministério da Justiça, (www.desaparecidos. mj.gov.br), há um cadastro que oferece esse tipo de serviço, alimentado e atualizado de acordo com dados de cada região. Com o slogan “Esta saudade pode ter fim”, o MJ disponibiliza também, através do Disque 100, um serviço público de denúncias e informações.

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