Mistério na morte de empresário baiano
Por Karina Baracho*
“Os restaurantes não são meus, mas dos meus clientes”, era o que sempre dizia o empresário Leonel Evaristo da Rocha, 63 anos, dono da rede de restaurante Bargaço. No final da noite de terça-feira, uma carreira empresarial de sucesso foi interrompida por balas assassinas. Leonel foi morto em Brasília por homens não-identificados, que se suspeita sejam pistoleiros. Sua morte está cercada de mistério, uma vez que ele não tinha inimigos e a hipótese de assalto está descartada, pelas circunstâncias em que o crime aconteceu. Em sua homenagem, todas as lojas funcionaram durante todo o dia de ontem.
De acordo com as informações levantadas pela polícia da capital federal, Leonel voltava do restaurante Tucunaré na Chapa. Quando passava pela BR-450, próximo ao Núcleo Bandeirante, o carro onde estava com o seu gerente de Fortaleza, Luzivan Farias, foi abordado por desconhecidos. Conforme a polícia, os homens teriam ordenado que o gerente saísse do veículo. Em seguida, teriam disparado pelo menos duas vezes no empresário. O gerente nada sofreu. Leonel não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
Conforme o delegado titular da 11ª Delegacia de Polícia, de Brasília, Bartolomeu Araújo – responsável pelo caso – inicialmente foi trabalhada a hipótese de latrocínio – roubo seguido de morte, mas esta tese foi logo descartada em decorrência das características do crime.
Não foi levado nenhum pertence das vítimas, inclusive R$ 800, US$ 1.400 e 10 euros que estavam com ele. Durante a manhã de ontem a perícia examinou o veículo alugado onde o empresário estava no momento em que foi abordado.
Os peritos colheram digitais e tentaram encontrar provas. O vidro do passageiro, onde Leonel estava foi quebrado, e vários pontos do veículo ficaram com marcas de sangue. O gerente disse á polícia que um carro de cor branca parou perto deles por volta das 22 horas. Acrescentou ainda que dois homens armados fizeram sinal para que eles parassem. Destacou que foi obrigado a descer e ficar de costas e ouviu três tiros em seguida. Os homens teriam fugido.
Araújo informou que os tiros atingiram o rosto do empresário. Na tarde de ontem, a esposa da vítima e outras testemunhas foram ouvidas. Ainda não existem suspeitas de quem teria tirado a vida de Leonel, assim como o motivo do crime. O empresário estava em Brasília desde segunda-feira e tinha ido à capital federal receber um prêmio.
Informações que circularam ontem à noite em Brasília dão conta de que o delegado Bartolomeu Araújo viu com muita desconfiança e reservas as declarações do ex-gerente da filial de Goiás. Luzivan Farias, agora respondendo pelo restaurante em Fortaleza, e que dava carona a Leonel.
A polícia quer saber por quê, ao invés de levar o patrão diretamente para o hotel onde ele estava hospedado no Centro de Brasília, resolveu pegar uma estrada deserta, alegando que iria passar primeiro no Hotel Naum, localizado num ponto afastado da cidade, para pegar algumas roupas.
A polícia já sabe também que Luzivan foi gerente da filial do Bargaço em Goiás, que acabou fechada, e que teria deixado dívidas trabalhistas. Como o empresário Leonel Evaristo era muito correto e exigente, surgiu a suspeita de que ele estivesse cobrando satisfações e soluções do seu gerente.
Policiais acharam estranho que, não tendo levado nada do empresário, os matadores tenham levado o celular e R$ 200,00 de Luzivan, conforme ele declarou ao delegado.
Outro ponto que intrigou policiais experientes de Brasília foi o tempo que o gerente levou para providenciar socorro. Mas, de acordo com uma fonte da 11ª Delegacia de Polícia, de Brasília, "são meras suspeitas que serão esclarecidas durante as investigações.
Funcionários lamentam a morte do patrão e amigo
; Parentes, amigos e funcionários receberam a trágica notícia e estavam muito abalados com o crime. “É uma situação muito triste. Ele sonhava em ter uma filial do seu restaurante em cada capital”, disse o gerente da matriz em Salvador, Geraldo Francisco da Silva, 41 anos. Funcionário há 20 anos, ele acrescentou que o empresário era uma pessoa muito boa. “Ajudava os funcionários no que podia e sentava à mesa com os clientes. Parece que estou anestesiado, pensando que isso é um pesadelo e que vou acordar”.
Ao lembrar do patrão, a primeira cozinheira de Leonel, Maura Rosário Bonfim, 61 anos, se emocionou. “Trabalho com ele há 31 anos. Nunca esperava essa tragédia”. Conforme ela, o empresário sempre entrava na cozinha do restaurante para verificar o andamento do trabalho. “Agora não temos mais ele. Vou sentir muita falta, era um ótimo patrão”, disse com os olhos marejados.
O movimento do restaurante no inicio da tarde de ontem foi normal. Mesmo com a tristeza estampada nos rostos, os funcionários trabalharam normalmente. “Está sendo muito difícil fazer o serviço hoje”, destacou Maura. Com 19 anos de casa, o garçom Elson de Araújo, 40 anos, que afirmou não ter dormido à noite, lembrou do empresário com pesar e emoção. “Se a senhora verificar, aqui não tem ninguém com menos de dez anos de casa. Isso significa o quanto é agradável trabalhar aqui, somos uma família. Até agora não consegui comer nada. Está sendo muito difícil”.
Leonel se destacava por sempre querer o melhor para os seus clientes. “Era muito batalhador. Aqui o cliente sempre tinha razão”, informou o amigo da família Mário Freitas. Muito abalados, nenhum dos nove filhos do empresário teve condições de conversar com a imprensa. Dois deles foram até Brasília providenciar o translado do corpo para a capital baiana, que está previsto para chegar às 5 horas de hoje. O enterro vai ser ás 14h no Cemitério Jardim da Saudade. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Abrasel Bahia, emitiu ontem nota de pesar, lamentando "a morte do amigo e associado Leonel Evaristo da Rocha, 63 anos, ocorrida ontem, em trágicas circunstâncias, no Distrito Federal".
De garçom a empreendedor
; Personagem ilustre da memória boêmia de Salvador, o empresário pernambucano Leonel Evaristo da Rocha, radicado na Bahia e responsável por uma trajetória ímpar de luta e vitórias, tornou-se famoso pelo tempero e sofisticação do Restaurante Bargaço. Leonel era pernambucano de nascimento, mas se considerava baiano por adoção e coração. Escolheu a Bahia para criar a sua família e iniciar a sua vida profissional como garçom, até a inauguração do primeiro Restaurante Bargaço, em 1971.
Ainda criança, Leonel Evaristo da Rocha deixou a localidade pernambucana de Limoeiro e passou a viver em Recife, acolhido pelo feirante João Caboclo. A determinação que lhe era nata o fez montar sua barraca de frutas, sinal da sua aptidão para os negócios. Ainda jovem, desempenhou atividades como camelô, borracheiro e vendedor de jornais, até entrar para o ramo que o fez famoso: a gastronomia. De lavador de pratos, garçom, balconista, cozinheiro, até se tornar dono do restaurante onde então trabalhava, em Recife, ainda aos 17 anos.
Mas foi na década de 70, que Rocha chegou a Salvador e iniciou o processo de expansão da rede de restaurantes, marcada pela sofisticação de pratos típicos da culinária baiana. Depois abriu filiais em Brasília, São Paulo, Recife, Fortaleza e João Pessoa, além de Portugal e Estados Unidos. Capítulo à parte, a marca que fez da rede internacionalmente conhecida, nasceu da autoria inusitada de um pintor, que ao errar a placa do restaurante, inicialmente batizado de Bar do Garçom, registrou o nome Bargaço.
Ao todo, mais de 46 mil refeições são servidas ao mês, preparadas por mais de mil funcionários, incluindo os pescadores de trinta barcos pertencentes à empresa, encarregados do fornecimento que já chegou a 30 toneladas de peixe e camarão fresco por mês. Com um faturamento anual de 12 milhões de reais e lucro líquido de 1,2 milhão, o Bargaço foi classificado pela Revista Veja, como um “empreendimento de peso, com uma rentabilidade maior do que muitas grandes indústrias”.
*Tribuna da Bahia
Deve ser investigado esse caso a fio, como na menina isabela, pois se trata de um empresario de prestigio. Leonel era reconhecido, precisamos ver quem na verdade mandou fazer isso ou quem fez isso!!
ResponderExcluirCom certesa vamos saber quem
ResponderExcluirfoi o mandante dessa barbaridade
confio na policia DF
e que ele deja o destino dele
Homens do bem são dizimados, exterminados.
ResponderExcluirA corja impera, prepoente na certeza da impunidade segue no caminho da construção do caos e na demolição de valores que sustentam um povo,uma nação.
Incrédulos observamos tantos desmandos, tanta violência, descaso, injustiças.
Mais sangue corre dos justos baianos e não conseguimos estancá-lo.
Ana Maria Bruni