terça-feira, 22 de abril de 2008

LUÍS EDUARDO MAGALHÃES. DEZ ANOS DE SAUDADES.



Há dez anos, deputado preparava-se para disputar o governo do estado e vislumbrava a Presidência

Cíntia Kelly/Correio da Bahia

Hoje, completam- se dez anos da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães. A data será lembrada por amigos, familiares e políticos em uma missa que acontece às 19h, na Igreja da Vitória, em Salvador. Na quarta-feira, às 18h, outra homenagem a Luís Eduardo, que faleceu no dia 21 de abril de 1998 aos 43 anos, vítima de enfarte – interrompendo uma trajetória política que tinha a Presidência da República como limite –, será feita no memorial que leva seu nome, localizado na Avenida Paralela.


No ano em que se foi, Luís Eduardo, apontado como sucessor natural do pai, Antonio Carlos Magalhães, preparava-se para disputar o governo do estado. Em um discurso feito no Palácio de Ondina, ele afirmou, em março de 1998, que aquele era o momento ímpar na sua carreira política, quando deixara de concorrer a uma vaga na Câmara Federal para, caso fosse eleito, suceder Paulo Souto à frente do governo baiano.


“Este é sem dúvida o momento mais importante e mais difícil de toda a minha vida pública. Mais importante porque, para qualquer baiano, a honra de disputar uma eleição para governar o estado é o maior título que qualquer político poderia aspirar. E mais difícil porque suceder, numa seqüência, a Antonio Carlos Magalhães e a Paulo Souto é praticamente uma tarefa impossível”, disse.


Luís Eduardo deixava clara a sua intenção de dar seguimento ao desenvolvimento do estado. “Fiquem certos de que se as urnas confirmarem meu nome no início de outubro, eu darei continuação a esse trabalho, porque essa é a minha responsabilidade. Não só minha, mas da Bahia, que não pode abrir mão do seu desenvolvimento, do seu crescimento e da sua mudança. Não teria sentido uma candidatura se não fosse para dar prosseguimento a esse trabalho. Tenho a responsabilidade dupla de ser filho do maior e do melhor político brasileiro e, ao mesmo tempo, do homem que conheci que mais ama a Bahia”, ressaltou.


Admiração - O governador Jaques Wagner (PT), que era próximo a Luís Eduardo, ressaltou a sua admiração pelo deputado, de quem disse ser amigo. “Fui contemporâneo do deputado Luís Eduardo Magalhães, como líder da oposição quando ele era o presidente da Câmara Federal, ligado ao governo Fernando Henrique Cardoso. Desenvolvi, além da amizade, um relacionamento que foi de respeito, apesar das diferenças de pensamento”, frisou Wagner.


Segundo o governador, Luís Eduardo era exemplo de político ético. “Era um líder que respeitava acordos feitos e contribuiu para melhorar o relacionamento entre governo e oposição e a própria política baiana com base no diálogo, respeito e cumprimento dos acordos. Eu e Fatinha (a primeira-dama Fátima Mendonça) tivemos uma relação de amizade com o deputado”, pontuou.


Homenagens - Em março de 2005, amigos, familiares, personalidades e políticos fizeram uma grande homenagem a Luís Eduardo, que completaria 50 anos de vida. A data também foi lembrada com uma missa. “Lembro-me de um comício dele em Simões Filho. Prometi a ele que participaria de todos os seus comícios. Porque ele atendeu a um apelo meu: disse a Luís Eduardo que ele precisava aprender a administrar para ser governador da Bahia. Porque, para ser presidente da República, é preciso, antes ser governador. O caminho dele era o da presidência da República”, disse, na ocasião, o ex-governador Lomanto Júnior.


Todos os anos, o aniversário de Luís Eduardo, cuja morte, que representou um grande golpe para ACM – apesar de o líder baiano ter se recuperado e seguido em frente –, também é lembrado no Congresso Nacional e na Assembléia Legislativa da Bahia. Em homenagem a Luís Eduardo, também foram criados prêmios e batizadas obras e até municípios, como o que leva o nome do parlamentar baiano no oeste do estado.


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A Presidência


Na condição de presidente da Câmara, em 17 de outubro de 1995, Luís Eduardo assumiu interinamente a presidência da República por cinco horas e 37 minutos, ocasião em que sancionou uma lei alterando o quadro de pessoal da Marinha e nomeou o embaixador do Brasil em Israel. Durante os dias 6 e 7 do mês seguinte, voltou a ocupar o cargo, devido a viagens do presidente Fernando Henrique e do vice-presidente Marco Maciel.


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Primeiro comício aconteceu em Simões Filho


Simões Filho foi o primeiro município que Luís Eduardo escolheu para dar o pontapé na sua campanha ao governo do estado, em 12 de março de 1998. Para um público de milhares de pessoas, o deputado mostrou que a sua candidatura estava atrelada aos ex-governadores Antonio Carlos Magalhães e Paulo Souto.


“Essa campanha se inicia justamente com aqueles que modificaram, que ajustaram a Bahia e hoje não se trata mais apenas de política partidária, mas dos homens que mudaram a Bahia, e esse trabalho tem que continuar. Não foi fácil ajustar o estado, contrariar interesses, mas fazer sempre o certo. Antonio Carlos Magalhães iniciou esse trabalho em 1991. Em 1994, nós tivemos a vitória que a Bahia queria, de Paulo Souto, que hoje é o governador mais bem avaliado do Brasil pelas suas qualidades de homem público íntegro e correto, trabalhador, decente, que engrandeceu nosso estado”.


Em outro trecho do discurso, Luís Eduardo destacava que a sua intenção era de dar continuidade à política de educação e saúde, adotada por ACM e Souto. “É justamente para continuar uma política de valorização da educação, para melhorar as condições de saúde, mas sobretudo para promover o desenvolvimento econômico, que vai gerar empregos para nossa gente, que eu pretendo continuar o trabalho que Paulo Souto realiza hoje na Bahia. É com o objetivo de continuar e se possível melhorar que nós vamos para a campanha vitoriosa de 4 de outubro”.


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Respeito e admiração dos adversários


Luís Eduardo Magalhães nasceu em 16 de março de 1955, em Salvador, quando seu pai, Antonio Carlos Magalhães, iniciava a carreira política como deputado estadual. Filho de político, ele logo cedo deixou clara sua vocação para a atividade. Aos 18 anos, ainda estudante secundarista, Luís Eduardo iniciou sua carreira política, em 1973, como oficial de gabinete do pai, então governador da Bahia. Encerrado o primeiro governo de ACM, ele foi nomeado chefe de gabinete da 1ª Secretaria da Assembléia Legislativa da Bahia, permanecendo como funcionário até 1979, quando foi eleito deputado estadual pela extinta Arena, com apenas 23 anos e a maior votação já conferida a um deputado estadual na história política do estado – 125.338 votos.


No plano pessoal, Luís Eduardo passara no vestibular da Universidade Federal da Bahia em 1975, no curso de direito. Naquele mesmo ano, conheceu a estudante de letras Michelle Marie Pimentel, com a qual casou-se em 1976. Do casamento, nasceram os três filhos: Paula, Carolina e Luís Eduardo Magalhães Filho, o Duquinho. Em 1982, reelegia-se deputado estadual, dessa vez pelo extinto PDS. Eleito presidente da Assembléia Legislativa em 1983, exerceu o cargo até 1985. No ano seguinte, elegeu-se deputado federal, com 138 mil votos, a maior votação do estado naquele pleito. Foi o primeiro de três mandatos de Luís Eduardo na Câmara dos Deputados.


Em 1992, Luís Eduardo Magalhães foi escolhido para o cargo de líder do PFL na Câmara. Consolidou-se como referência no cenário nacional, como um político respeitado e admirado. Apoiou o Plano Real e teve importância fundamental nas articulações para a formação da aliança PFL-PSDB, que elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso, tendo chegado a ser convidado a ocupar o posto de vice-presidente na chapa. Recusou o convite. Acreditava que ainda era hora de continuar sua luta nas fileiras do Congresso Nacional.


Em fevereiro de 1995, assumia a Presidência da Câmara dos Deputados, aos 39 anos de idade. Por força do cargo, ocupou por duas vezes, sempre de forma discreta, a Presidência da República. Foi líder do governo em 97/98, com participação decisiva nas votações da reforma administrativa e da nova legislação sobre a Previdência Social.


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Um exemplo nunca morre


Jamais esquecerei aqueles primeiros momentos em que tomei contato com a perda de meu pai. Tinha 16 anos de idade e o turbilhão daquelas horas me marcou para sempre. Sim, eu sofria uma dor profunda, um desamparo, um choque, mas, ao mesmo tempo, sentia a energia de milhares e milhares de pessoas nas ruas prestando um tributo à memória daquele grande homem. Guardo uma sensação um tanto ambígua daquelas horas de aflição pois, se foi ali que perdi um pai que tanto amei, foi ali também que testemunhei a força que um exemplo pode significar.


Luís Eduardo Magalhães é muito mais do que meu pai. Por isso, passados dez anos de sua perda, acho que me cabe traçar um ponto de equilíbrio entre o legado que ele me deixou como filho e como cidadão.
Luís Eduardo está sempre comigo. É meu grande companheiro. Converso com ele várias vezes, todos os dias. Quando estou diante de uma decisão, procuro me conectar com seus ensinamentos e, de alguma forma, é como se ele me apontasse o caminho. Luís Eduardo sempre foi um conselheiro de seus amigos, de meus queridos avós Antonio Carlos e Arlette, e hoje sua ponderação me ajuda a seguir em frente.


Procuro me inspirar no exemplo de Luís Eduardo, buscando estar à altura do que ele significou. Luís Eduardo sempre me socorre ensinando-me que é preciso construir pontes ao invés de obstruí-las. Luís Eduardo sempre me lembra que harmonizar, buscar a convergência, o diálogo é algo muito mais trabalhoso, mas produz também resultados mais perenes.


A construção de uma sociedade mais justa deve estar baseada em princípios sólidos. Abrir mão de valores não é sinônimo de habilidade; é degeneração. Mas ser fiel a princípios não pode servir como pretexto para a intransigência, a truculência, o isolamento. A arte na vida pública é aproximar os opostos de maneira infatigável, tendo em vista o interesse comum. Esse é o legado de Luís Eduardo. Essa é a minha referência, minha meta, meu objetivo de vida.


Como filho, a perda de Luís Eduardo exigiu muito de minha família. Mas, como a vida é sábia e generosa, aquela fatalidade nos uniu de uma maneira que nunca, nada, jamais irá nos afastar. Nossa união foi forjada na dor. Minhas irmãs queridas, Carol e Paula, e minha amada mãe, Michelle, são uma dádiva que o destino me proporciona todos os dias. Seguirei sempre ao lado delas.


Hoje não é um dia de tristeza. É um dia de alegria. Dez anos depois que Luís Eduardo nos deixou, é claro que lamento cada hora que não pude estar ao lado dele, de viver com ele, de aprender com ele. Mas, ao mesmo tempo, percebo a grandeza de meu pai ao constatar, com orgulho, sua maior lição: a de que um exemplo nunca morre.


Luis Eduardo Magalhães Filho


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Atuação na Constituinte


Luís Eduardo Magalhães não gostou da Constituição que assinou em 1988 – considerava-a uma carta de intenções prolixa, demagógica, conservadora e incapaz de dar ao país as condições de enfrentar os desafios do crescimento e reverter o quadro de desigualdades sociais.


Na Constituinte, além de tornar-se membro titular da Comissão de Sistematização, Luís Eduardo Magalhães foi um dos fundadores do chamado “Centrão”. Como um dos principais articuladores do “Centrão”, em dezembro de 1987, Luís Eduardo declarou que o bloco não pretendia massacrar a minoria, mas buscar o entendimento em torno de suas principais tarefas, entre as quais a de desestatizar o projeto de Constituição aprovado pela Comissão de Sistematização e a de viabilizar avanços para os trabalhadores.


Em maio de 1988, Luís Eduardo reconheceu a “pobreza ideológica” do “Centrão”, destacando-se como defensor da livre iniciativa e da abertura econômica ao capital estrangeiro, tendo sempre como marca a capacidade de articulação. Graças a essas características, o deputado baiano atuou para impedir ao máximo confrontos entre direita e esquerda no segundo turno da Constituinte em torno de questões econômicas e sociais.


Também na Constituinte, que promulgou a nova Constituição em 5 de outubro de 1988, Luís Eduardo votou contra o rompimento de relações diplomáticas do Brasil com os países com políticas de discriminação racial, a limitação do direito de propriedade privada, o mandado de segurança coletivo, a remuneração de 50% para o trabalho extra, a jornada semanal de 40 horas, o aviso prévio proporcional, a soberania popular, a proibição do comércio de sangue, a limitação dos encargos da dívida externa, a criação de um fundo de apoio à reforma agrária e a desapropriação da propriedade produtiva.


Votou a favor da pena de morte, do presidencialismo e do mandato de cinco anos para o presidente José Sarney. Não esteve presente à votação sobre o aborto e absteve-se quanto à legalização do jogo do bicho.

2 comentários:

  1. Grande Luis Eduardo, um grande exemplo nunca morre e a Bahia nunca esquecerá, à exemplo disso é a grande adimiração que o atual governador do estado, que sempre foi contra o carlismo, tem ao seu respeito. Luís Eduardo tinha a simpatia de todos que eram carlistas, em uma época que 95% dos políticos baianos no poder eram carlistas, mais do que isso, ele tinha a simpatia dos que não eram carlistas e eram contra o seu pai, Antônio Carlos, como o Geddel, Waldir, Lomanto e o Wagner. Luís Eduardo fez muito, representou muito... Mas mesmo assim ele poderia ter feito muito mais se não fosse levado tão prematuramente. Salve Luís! Sílvio.

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  2. Concordo com o comentarista que me antecede aqui.

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