quarta-feira, 25 de junho de 2008

MORRE UMA GRANDE MULHER. RUTH CARDOSO.

Memória
O país rende homenagem à ex-primeira-dama Ruth
25 de Junho de 2008

A morte da antropóloga Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi lamentada por autoridades e políticos de todos os partidos. Parlamentares, ministros e antigos colegas de dona Ruth afirmaram que ela foi mais que uma primeira-dama convencional, dando um novo sentido a esse título. O governo de São Paulo e o Congresso Nacional anunciaram homenagens oficiais. A ex-primeira-dama, que morreu na noite de terça, em sua casa, será sepultada na quinta-feira, na capital paulista.

O PSDB, cuja fundação foi acompanhada de perto por Ruth Cardoso , cancelou a sessão solene que marcaria o vigésimo aniversário do partido, na manhã desta quarta. "A comemoração será apenas um registro dos 20 anos de PSDB. Vamos homenagear a vida de dona Ruth Cardoso", afirmou o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM). O PSDB prepara requerimento para que o Congresso faça uma sessão solene em homenagem a ela na semana que vem. O governo paulista declarou luto oficial de três dias.

O deputado tucano José Aníbal (SP) afirmou que "dona Ruth foi a maior ativista do programa de inclusão social no Brasil, mobilizando a sociedade e o governo". "Foi uma primeira-dama ao mesmo tempo competente e discreta, capaz de produzir um programa da importância do Comunidade Solidária, com recurso privado e gestão pública", lembrou o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). "Ela era a consciência crítica do marido, do governo e de todos nós", afirmou o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM).

Papel destacado - Os opositores do governo FHC, incluindo os integrantes do PT, também prestaram tributo à ex-primeira-dama, ressaltando que ela teve papel importante para o país. "Além de ser uma pessoa de grande capacidade e de grande produção intelectual, ela foi sempre comprometida com a luta pela democracia e teve papel relevante na nossa história", disse o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). A presidência da Câmara lembrou, em nota, que a ex-primeira-dama era uma "intelectual destacada".

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que Ruth Cardoso "foi uma mulher extraordinária que soube honrar a condição de primeira-dama com discrição e autoridade. De inteligência privilegiada, sabia conciliar atitudes incisivas e diretas com uma ternura peculiar". Já o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, divulgou nota destacando o trabalho de "ativista social" de Ruth Cardoso. "Ela nunca desistiu da luta pelo bem-estar dos brasileiros, principalmente dos mais necessitados", lembra.

Internação - A ex-primeira-dama morreu às 20h40 de terça-feira, em sua casa, no bairro de Higienópolis, na capital paulista. Tinha 77 anos e foi vítima de arritmia cardíaca decorrente de doença coronariana, segundo informam os médicos Arthur Beltrani Ribeiro, Walter C. Lima e Edson Stefanini. Na quinta-feira passada, havia sido internada e examinada no hospital Sírio Libanês, após sentir dores no peito. Na segunda, recebeu alta e retornou à residência, depois de passar por um procedimento de cataterismo.

O velório está marcado para as 11 horas, na Sala São Paulo, sede da orquestra sinfônica do estado, no centro da capital paulista. O velório deve se estender até 21 horas. O sepultamento deverá ocorrer às 10 horas de quinta, no Cemitério da Consolação, também na região central. Nascida em 1930, na cidade de Araraquara, interior de São Paulo, Ruth Correa Leite Cardoso era antropóloga e foi professora da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Em 1972, obteve o título de doutora em Antropologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Depois, concluiu pós-doutorado na Universidade de Columbia, em Nova York, e também foi professora em universidades americanas e inglesas. Ela se casou com o então sociólogo Fernando Henrique Cardoso em 1953. O casal teve três filhos. Durante o mandato de FHC (1995-2003), ela coordenou o projeto Comunidade Solidária, que se dedicava ao combate à pobreza e à exclusão social.

Antropóloga - Atualmente, dona Ruth fazia parte do conselho diretor da Oscip (organização da sociedade civil de interesse público) Comunitas, que fora criada para para dar continuidade aos projetos do Comunidade Solidária. Entre os cargos de destaque que ocupou estão o de presidente do conselho assessor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre Mulher e Desenvolvimento e integrante da junta diretiva da Fundação das Nações Unidas e da Comissão sobre as Dimensões Sociais da Globalização da OIT.

A antropóloga publicou vários estudos nas áreas de cultura e política, com ênfase em assuntos como os movimentos sociais, participação política, imigração, a juventude, comunicação de massa, violência e cidadania. Entre seus livros mais conhecidos, destacam-se A Aventura Antropológica e Bibliografia sobre a Juventude. De acordo com colaboradores mais próximos, Ruth Cardoso deixou o hospital, no início da semana, disposta e alegre -- o que só aumentou o choque dos amigos com a notícia da morte.
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