terça-feira, 15 de julho de 2008

O QUE É QUE A BAHIA TEM ?





 
 
 
 
Semestre Sangrento

1.122 assassinatos em Salvador


Por Silvana Blesa

   Treze duplos homicídios, dez triplos e três chacinas, sendo a maior delas com sete inocentes mortos. É o retrato da tragédia em que se transformou a segurança pública em Salvador e no Estado. Estes números contribuíram para transformar o primeiro semestre de 2008 no mais sangrento dos últimos anos. No ano passado, de janeiro a junho, ocorreram em Salvador e RMS 768 homicídios. Este ano, no mesmo período, o crescimento da violência foi assustador, com o registro de 1.122 assassinatos. Quase o dobro em comparação aos números do mesmo período do ano anterior. E são dados oficiais, do Centro de Documentação e Estatística da Polícia Civil (Cedep). Deste total, pelo menos 90% estariam relacionados com o tráfico de drogas. As causas das mortes estão ligadas ao crescimento do tráfico na cidade e às deficiências do aparelho estatal de segurança pública. Módulos da Polícia Militar, importantes na prevenção e no policiamento ostensivo, estão fechados ou destruídos nos bairros de maior incidência criminal.
  Nas delegacias, transformadas em depósito de presos da Justiça, os agentes policiais trabalham em condições precárias.
  As estatísticas revelam uma média de 7 a 9 homicídios por dia em Salvador e RMS, enquanto no ano passado aconteciam entre 3 e 4 assassinatos. Nos primeiros seis meses de 2007, o Centro de Documentação e Estatística da Polícia (Cedep) tinha registrado um triplo homicídio em maio e uma chacina em junho. O aumento do número de mortes chega a 46%, comparando-se o primeiro semestre deste ano com o do ano passado. A delegada Inalda Cavalcante titular da Delegacia de Homicídio confirma que a maioria das mortes tem ligação com o tráfico de drogas.
   As palavras da delegada mostram claro que as chacinas tanto de Mussurunga, quando sete pessoas inocentes foram executadas, e a do Alto das Pombas/Calabar, com quatro executados, tinham ligação direta ou indiretamente com o tráfico de drogas. No primeiro caso, que vitimou sete trabalhadores sem nenhum vínculo com a criminalidade, as execuções foram cometidas por traficantes que disputam o controle do tráfico na Baixinha de Mussurunga. Na chacina do Alto das Pombas, segundo informações da polícia, os quatro rapazes mortos faziam parte de uma quadrilha que disputa o comando do tráfico na localidade.
  Esse é o triste caminho por onde a primeira capital do Brasil está trilhando. A população vive amedrontada. Sair de casa para se divertir ou qualquer outra atividade tornou-se um ato de coragem, porque muitos acabam não retornando aos seus lares, como aconteceu no último domingo no bairro do Garcia. Neste dia, um grupo de amigos assistia ao jogo do Vitória X Portuguesa, e um bando formado por 12 homens armados chegou atirando contra as pessoas que se encontravam no estabelecimento, matando na hora o deficiente físico Valdir Ferreira da Costa, 43 anos. Seis pessoas ficaram feridas, entras elas o tenente PM Raimundo Gomes Barroso Neto, 27, que seria o alvo dos atiradores. José Lauro Marques, 47, o "Zé do gás" foi ferido com gravidade e assim como o policial ainda está internado no Hospital Geral do Estado (HGE). Na Rua Prediliano Pita, onde aconteceu o ataque e nas proximidades, os moradores estão temendo um novo atentado e poucos ousam ficar nas ruas, principalmente durante a noite. O delegado chefe da Polícia Civil, Joselito Bispo, afirma que a polícia está atuante no combate à criminalidade, principalmente nos bairros considerados de maior índice de violência, com operações constantes nos finais de semana, quando o número de mortes é mais elevado. Bispo descarta a existência de crime organizado na capital, e assegura que a polícia está preparada e atenta.


  
Jovens e pobres são os mais sacrificados

   ; Para representantes de entidades que lidam com os efeitos da violência, o quadro é preocupante. Com base nos dados sobre os assassinatos nos últimos anos em Salvador e Região Metropolitana, a pesquisadora e professora Tânia Cordeiro, também gestora do Fórum Comunitário de Combate à Violência (FCCV) criado desde 1996, explica que a violência é uma questão social com repercussões na saúde e na qualidade de vida das pessoas, sendo o principal causador de mortes precoce entre os jovens de 15 a 39 anos. Essas mortes são mais visíveis, segundo Tânia, nas periferias da cidade, atingindo principalmente os jovens negros, pobres e de baixa escolaridade,
  A professora Tânia Cordeiro reforça que "é preciso que o Estado atue com políticas públicas nos bairros periféricos, dando oportunidade de trabalho aos jovens para que eles possam sair do mundo da marginalidade". Conforme a gestora, os jovens precisam de estudos, trabalho e oportunidades para ingressar no mercado de trabalho.
  Sem isso, o caminho mais fácil é o da clandestinidade, da marginalidade. Além disso, diz a pesquisadora, muitos encontram a morte entrando numa concorrência de caráter extremo pelo que consideram fácil e rentável o dinheiro do mundo das drogas.


  
Na periferia, muito medo, dor e silêncio

   ; A violência em Salvador vem atingindo principalmente as classes mais baixas. As pessoas residentes em bairros periféricos e invasões estão se sentindo desprotegidas e ameaçadas pela ação dos traficantes que dominam os locais em busca do 'poder do tráfico'.
  E a população dessas comunidades acaba se tornando vítima também da violência oficial. Na busca de traficantes, policiais invadem as residências ao arrepio da lei, desrespeitam cidadãos e terminam por matar pessoas, fazendo "justiça". Foi o que teria acontecido na Invasão do Golfo Pérsico, na Boca do Rio. Os moradores acusaram a Polícia Militar de matar cinco jovens que de acordo com os agentes teriam envolvimento com a criminalidade. Familiares das vítimas explicaram que os jovens tentaram se entregar, mas os policiais mataram todos os cinco, entre eles um menino de 14 anos. Com os suspeitos a polícia teria apreendido uma submetralhadora e duas pistolas.Neste cenário de violência e morte, impera a lei do silêncio. Num cenário de crime, ninguém nunca viu nada nem sabe de nada. Este é uma das dificuldades que a polícia enfrenta para desvendar um crime, principalmente quando nem a vítima é identificada.
  Poucos são os que têm coragem de denunciar os crimes e a comercialização de drogas, que tem se tornado um grande comércio nas ruas das periferias e das invasões, alcançando também os chamados bairros nobres, como Ondina, Barra e Itaigara. Maconha e cocaína são "passadas" em plena luz do dia. O medo faz com que a população fique presa em casa, deixando as ruas livres para os traficantes.
 
 
 


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