terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Os afrodescendentes no rede bahia revista

Chama a atenção o fato de não chamar a atenção de ninguém; não haver nenhum tipo de abordagem ou mesmo análise sociológica, a nova estética dos programas de televisão, notadamente o jornalismo. Não estou abordando conteúdo, pois isso demandaria mais tempo e espaço, mas limitando o exposto à realidade que vem sendo constatada há alguns meses. O programa Rede Bahia Revista, da TV Bahia, por exemplo, está fazendo história. Interessante é que apesar disso, ainda não capitalizou em termos de impacto, talvez justamente pelo fato de está sendo uma coisa tão natural, que nem mesmo os críticos de sites, jornais e blogs, ou mesmo os RPs da casa se deram conta.
Pois, pare para pensar que pela primeira vez nas telas baianas três afrodescendentes participam ao mesmo tempo de um programa-chave de uma importante rede de televisão local. Apresentam, debatem e mantêm a liderança no horário. No Rede Bahia Revista estão o conhecido jornalista da área cultural Osmar Martins (Marrom), egresso do jornalismo impresso; a carismática Wanda Chase (que também foi de jornal) e a boa surpresa que é a apresentadora Georgina Mainart. Eles dominam o programa, algo que nunca aconteceu (como diria Lula), na história deste país.
Basta ver que a Globo sempre aproveitou repórteres afrodescendentes, mas jamais em grupo ou como âncora. Lembro da emoção que foi em novembro de 2002 - eu estava de plantão na TV Bahia – quando entrou no ar (o Jornal Nacional estava fazendo 33 anos de criado) na bancada do JN o jornalista negro Heraldo Pereira. Foi uma revolução dentro dos padrões globais. Heraldo, em entrevista a dezenas de jornais, fez questão de dizer que não queria servir como referência histórica e que sempre esteve preparado como profissional. Mas, o foi, mesmo sem ele querer. Estava apresentando o mais importante programa de jornalismo do país.
Mas, não lembro de um grupo de afrodescendentes, como ocorre hoje no Rede Bahia Revista, está participando na pole-position de um programa. Lembro, sim, que num evento reunindo jornalistas, no final dos anos 80 do século passado, se chamava a atenção para a ausência de negros nos programa de TVs regionais. O primeiro a apresentar um programa, esportivo, diga-se de passagem, foi saudoso jornalista Cléo Montalvão, na TV Aratu, quando ela ainda retransmitia a TV Globo, nos anos 70 do século passado. Daí em seguida vieram outros espaçadamente, e outras, notadamente na TV-E a na TV Bahia, a exemplo de Ricardo Mendes (hoje professor e atuando no jornalismo impresso), que conseguiu alcançar posição importante dentro do jornalismo televisivo. Ele passou pelo próprio Rede Bahia Revista, tendo sido em seguida repórter do Jornal Nacional (Globo), e editor-chefe do Núcleo de Rede (TV Globo) na TV Bahia.
É uma situação bastante interessante para esta cidade formada e amalgamada por quase dois milhões de afrodescendentes, quando vemos espaços sendo preenchidos por talentos oriundos deste caldeirão. Ainda mais nos programas jornalísticos das Tvs - e não de mero entretenimento ou de escândalos -, e em posições que podem ser consideradas até mesmo de elite perante a sociedade. E vale dar os parabéns para a TV Bahia. E olha que não se trata de cotas.
É qualificação profissional e visão gestora diferenciada.


Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista.
e-mail: jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

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