terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Salvador,Bahia:22 mulheres agredidas por dia, só em janeiro

Somente no primeiro mês deste ano foram registradas 733 ocorrências de violência contra a mulher. O dado, fornecido pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), é alarmante e significa dizer que, em média, 22 mulheres são agredidas diariamente. Em todo o ano passado, a mesma delegacia registrou 8.509 ocorrências. Os números de agressões à mulher ocorridas na capital baiana, no entanto, deve ser muito maior – já que nem todas as mulheres denunciam seus agressores.
A violência contra a mulher é algo secular e existem várias formas de violência, como lesão corporal (socos, pontapés, bofetões, estupro e etc.), atos de luxúria e ameaça de morte. Nem todas as agressões deixam marcas corporais, como é o caso das ofensas verbais, que causam dores que ultrapassam a dor física, como humilhações e torturas.
A dona de casa Maria. G J. C., de 54 anos, disse que sofre todos os dias com os xingamentos e humilhações do seu marido. “Ele me deu um murro no rosto que me fez desfalecer. As marcas físicas sumiram, mas permanece o que mais me tortura: as ofensas verbais. Ele me diz coisas como ‘você não serve mais para nada, além de lavar e cozinhar’, os xingamentos são os mais baixos possíveis”, desabafou a dona de casa.
Este é apenas um, entre as centenas de casos que acontecem diariamente e são omitidos pelas mulheres, que acabam pagando um preço muito alto pelo silêncio, que é reflexo do medo, da dependência psicológica e financeira. Como o caso de Maria, que sofre com a agressão verbal há mais de 10 anos e que, por não trabalhar e não ter para onde ir, vive em constante sacrifício.
A delegada titular do Deam, Celi Carlos, disse que, apesar do silêncio de muitas mulheres, os números de denúncias têm aumentado. “O grande número de ocorrências registradas, atualmente, é um sinal de que muitas mulheres, apesar das ameaças e das dependências estão tomando coragem, e denunciando seus agressores”, explicou.
A violência contra a mulher, não está restrita a classe social e não escolhe raça ou idade. O que pesa na hora de denunciar o agressor é a dependência entre as pessoas de maior poder financeiro as mulheres. Por conta disso, elas acabam se calando contra a violência recebida por medo, vergonha ou dependência amorosa



Independência feminina ajuda a denunciar


A delegada explicou que a violência contra a mulher sempre existiu e que é reflexo de uma sociedade machista, mas que essa cultura tende a diminuir, principalmente, pela inserção da mulher no mercado de trabalho. “As mulheres estão mais independentes e isso ajuda muito na hora de denunciar, mas o que mais preocupa são aquelas dependentes emocionalmente, que têm condições financeiras, mas que acham que não conseguem viver sem o parceiro. Esse desapego é o mais complicado”, explicou.
A mulher violentada deve ter coragem para denunciar o agressor, seja uma violência física ou moral. Dessa forma, ela estará protegida contra futuras agressões, além de incentivar outras mulheres. A delegada ressaltou que, enquanto houver a ocultação do crime sofrido, a solução para esse problema fica mais difícil, contando apenas com as denúncias anônimas.
A Lei Maria da Penha conceitua e define as formas de agressões sofridas por mulheres no cotidiano: violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Conforme a delegada Celi Carlos, o número de denúncias está crescendo em decorrência da Lei Maria da Penha, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto de 2006, que aumentou o rigor das punições por agressões contra a mulher ocorridas no âmbito familiar.
Com base na Lei Maria da Penha, os agressores podem ser presos em flagrante ou terem prisão preventiva decretada. O tempo de detenção para os agressores é de até três anos. Além disso, a violência doméstica contra mulheres é considerada do tipo penal pública, que não precisa da autorização da vítima para o prosseguimento da investigação.

Por Lucy Andrade
Fonte: Tribuna da Bahia

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