Estava conversando com meu amigo o famoso cirurgião bariátrico Marcos Leão, que é vice-presidente nacional da associação médica que reúne os especialistas na sua área e famoso também por suas palestras internacionais; também é diretor do Yacht Clube da Bahia. Ele ouvindo calado, coisa que não é do seu feitio – aliás, já me disseram que quando está em procedimento cirúrgico ou conta piada ou vira o Cão, a depender da atuação dos assistentes, pois ele é perfeccionista por mania – e eu explanando sobre praga de pobre.
Na verdade, não se vê rico vociferando e quando faz isso vira notícia do Jornal da Globo, sai na Capricho, no sites de fofocas e vira um disse-me-disse desproporcional. Eu nunca vi político jogando praga no outro. Nem vereador, que está mais afeto aos pobres, até crescer, virar deputado e passar a ser convidado para feijoadas e saraus dos colunáveis. Vereador só é chamado para inauguração de laje ou puxadinho. Vem aquela senhora com os cabelos ralos e faltando um dente e diz, chamando pelo nome como se fosse parente:
- Não sei quem, apareça lá em casa neste domingo para pegar uma dobradinha. Obrigado pelo cimento! Vá sozinho que já tem gente demais.
E o vereador vai, senão perde a meia dúzia de votos e fica mal falado lá no Alto de Coutos. E, se não for, quem fez o convite joga praga que é para não ser reeleito. Pois, voltando ao doutor Marcos Leão, eu dizia que não se mexe com pobre. Toda esta conversa eu puxei pelo fato de uma procuradora da União ter mandado, e dado 30 dias de prazo ou leva multa, derrubar boa parte da construção do Yacht Clube.
O argumento é que o clube foi se espraiando, bota um tijolo aqui, outro ali, passa um tempo, bota um azulejo, mais um tempo e vai mais um saco de cimento e assim foi ampliando sua área construída sobre o espelho do mar e comendo a encosta e hoje domina toda a parte de baixo da Ladeira da Barra – e pelo que soube já tentou tomar até mesmo a ilhota de pedra que pertenceu ao bisavô de Marco Pólo, emblemático vendedor de coco e outras coisas e objetos no Porto da Barra, um rastafari nato. A ilhota fica acima, na estradinha que vai dar por trás do Forte de São Raimundo e é frequentada por pescadores. Pois, o pessoal do Yacht botou olho gordo, mas não deu certo. Claro que Marco Pólo jogou praga e ficou esperando, igual a Jararacussu que pica, dá um bote para trás e fica espiando onde a vítima vai cair. Mas, a praga dele foi acrescida da praga coletiva conjurada por centenas de pessoas que moram na Vila Brandão. Uma área de casas com puxadinhos e afins, abaixo da Igreja da Vitória e que vai dar justamente na angaragem do clube. O Yacht construiu a garagem para colocar os barcos e lanchas e depois queria proibir os moradores de terem acesso ao mar. Foi uma confusão, deu nos jornais, apareceu advogado para defender os direitos do povo em nome de deus e de Netuno e no final o clube recuou. O povo, entretanto, manteve a praga de um dia o Yacht afundar. Não afundou, mas se não tomar cuidado será implodido.
Então meu famoso amigo doutor Marcos Leão, de cima da sua sabedoria explodiu:
- Vade retro!
Fiquei ofendido, pois no imaginário popular a tradução para a citação latina é: "Vá de ré". Marcos, perdendo ainda mais a paciência, retrucou: "Foi o que eu quis dizer seu terrorista":
- E não me jogue praga!
É isso. Pobre não pode nem argumentar . Nunca mais que o doutor Marcos Leão me convida para ir ao Iate (viu como de raiva mudei o grafismo do nome do clube), nem mesmo para lustrar seu portentoso veleiro azul e branco, que nunca perdeu uma regata. Tomara que... brincadeirinha..
Publicada: 03/07/2009
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