O preconceito contra os negros continua forte.
E se concentra hoje nas religiões de matriz africana de um modo impressionante.
E trata-se de um preconceito perigoso.
Pode converter-se em violência se contra ele não se alevantarem as vozes da razão, as vozes da humanidade, as vozes a favor da convivência fraterna entre diversos.
O caso do “menino das agulhas”, assim denominado, sem nome, é simbólico, perigosamente simbólico desse preconceito.
Aonde será que foram buscar a idéia de que as religiões de matriz africana sejam capazes de infligir qualquer tipo de castigo físico às pessoas? Quanto mais contra crianças? Isso é falso, perversamente falso.
O grave é que isso vai se reproduzindo, como se verdadeiro fosse, e de repente está todo mundo repetindo. É mais uma injustiça profunda. Outra presença da herança da escravidão.
Não, não me venham dizer que o povo de terreiro sacrifica animais para reforçar o preconceito, para falar de uma “religião de bárbaros”.
Os rituais do candomblé não são cruéis.
Os métodos adotados para abater os animais consumidos pela sociedade brasileira são, aí sim, profundamente cruéis. Aí não há barbarismo, não é?
Ainda que eventualmente uma pessoa do candomblé cometa algum delito não se poderá culpar toda uma religião. Quem for culpado, que pague. Acaso se faz isso, se condena toda uma religião, quando problemas semelhantes afetam um pastor, um padre, outro sacerdote de qualquer religião?
As palavras têm peso.
O que é magia negra? Apenas uma palavra que visa desqualificar as religiões de matriz africana. Uma forma de tentar desmoralizar os conhecimentos e ritos ancestrais dos povos de terreiro.
Não se tenha medo da palavra magia. É que quando se lhe acrescenta a qualificação de negra tudo se modifica. E se modifica porque, no arsenal dos preconceitos, a palavra negra (ou negro) implica logo algo lúgubre, quem sabe misterioso, quem sabe perigoso.
Assim, cabe dizer que não existe magia negra. Existe um conhecimento, se quiserem uma magia, que passa de geração a geração, e que manteve inteira uma religião extraordinária. Uma religião que propaga a paz, a convivência entre diferentes, que abraça a todos, que não luta pela conversão de ninguém. Que quer apenas ter o direito de seguir adiante, seguindo seus ritos, tão firmemente cultivados ao longo dos séculos.
E qual a cor da magia das outras religiões?
Caberia qualificar os seus ritos dessa ou daquela maneira? Conferir-lhes esta ou aquela cor? Branca, amarela, roxa, marrom, azul? Ou cabe, nesse mundo da religião e da cultura, simplesmente respeitar os ritos de cada uma das crenças, deixar com que vivam suas tradições, a seu modo? Que vivam todas as cores, todos os ritos, todos os cultos.
Os povos de terreiro querem paz. O direito de viver em paz.
Emiliano José é jornalista, escritor e deputado federal.
Muito bom, é também o meu pensamento em tudo.
ResponderExcluirNa na luta de pelo poder da igreja católica (que não acabou ainda), associaram tudo que é ruim a "religião dos negros". Pois como os negros fariam algo de bom se eles não tinham nem sequer alma? Argumentava a igreja para validar a escravidão, o verdadeiro holocausto brasileiro.
Parabéns!
Ricardo Barreira
www.ricardobarreira.com