domingo, 4 de abril de 2010
O BANHO DE SANGUE EM SALVADOR ATINGE A TODAS AS MULHERES.
Salvador vive um dos momentos mais trágicos de sua história.
O que parece simples constatação, estatística e números transforma em banal o que é doloroso, vergonhoso, vil. Corajosamente, a Tribuna da Bahia vem publicando uma série de matérias sobre a matança que está sendo realizada em Salvador. Contrariando diversos interesses, o jornal vem publicando em seu dia a dia matérias sobre a barbárie que acontece dentro da capital da alegria, da felicidade, do “sorria você está na Bahia”.
Estamos na Semana Internacional da Mulher e uma série de acontecimentos festivos surge para que possamos avaliar os avanços.
De novo eu pergunto: comemoramos o que? O banho de sangue em Salvador? A matança de jovens negros? Em uma das fotos publicada pela Tribuna já não me chama mais a atenção os corpos cobertos apenas por sungas. Há um detalhe mais cruel: os três jovens estão de braços atados por uma espécie de lacre plástico . Ou seja, a execução se deu após terem suas roupas retiradas, e os braços colocados para trás, e somente depois executados.
A execução destes jovens é de uma violência que clama uma denúncia maior. Se eles são ou não integrantes do tráfico, se são ladrões, assassinos eu não sei. Sei apenas que a Bahia retrocede e envergonha o Brasil. Envergonha a América do Sul.
É uma guerra urbana que se desenvolve aqui. Estes homens que morrem diariamente têm mães, tem mulheres, tem filhos.
Então, como comemorar o Dia Internacional da Mulher? As mães, mulheres e filhas destes assassinados pela sociedade por acaso não são mulheres?
Levantei esta questão por diversas vezes em reuniões com representantes e lideranças femininas.
Que tipo de assistência presta o Estado a estas mulheres?
Que órgão do governo procura saber da origem desses rapazes, quem leva atendimento psicológico, cesta básica, medicamentos, e uma palavra qualquer a estas famílias?
É a marginalização absoluta.
Chega doer a expressão “pertence ao tráfico”
E por isto o grupo de extermínio mata.
Ministério Público deve avançar a passos largos para tentar conter esta matança.
O que se passa na Bahia não é mais caso para governo do estado e para a presidência da República.
A dureza e a cara da morte banalizada como “assepsia social” fere a todos os princípios e a todos os direitos.
Provem que eles pertencem ao tráfico.
Provem que existe grupo de extermínio e informem a origem.
Não podemos viver em uma sociedade que tolera que os seus valores sejam colocados vergonhosamente em praça pública.
Jovens não podem ser abatidos desta forma.
A sociedade baiana precisa ir às ruas, precisa se mobilizar.
Um jornal e alguns programas locais não podem fazer sozinhos esta empreitada.
A sociedade tem que denunciar internacionalmente os episódios que aqui se desenvolvem.
O medo ronda a cidade,
Se está em casa, existe medo.
Se está no carro, existe medo.
Se está no ônibus, existe medo.
Falar pode ser proibitivo.
Calar e consentir é a grande saída para a maioria das pessoas.
Não.
Não a indiferença.
Não ao descaso.
Não a vergonha de ser baiana e brasileira.
Esta terra está sendo banhada pelo sangue jovem e
pela sanha criminosa de justiceiros.
Assepsia social?
Os jovens negros e pobres querem ter o que os jovens brancos e de classe média possuem?
O que é isto minha gente!!!
Que vergonha é esta?
Onde está a força do povo baiano?
Onde está a força de quem construiu o Dois de Julho?
Onde estão as forças do Caboclo e da Cabocla?
Mães que perderam seus filhos,
Mulheres que estão perdendo seus companheiros,
Filhas que perderam seus pais.
Viúvas adolescentes.
Este é o drama que envergonha Salvador.
Não podemos viver em uma sociedade em que estes valores parecem não sensibilizar a sociedade.
Isto talvez seja mais podre ainda do que o grupo de extermínio.
Eu, pessoalmente, tenho grande orgulho de ter iniciado a minha vida jornalística na Tribuna da Bahia.
Ao companheiro Josalto Alves posso dizer sobre sua árdua missão. Experiência, capacidade e excelência em jornalismo você tem. Experiência em segurança pública você adquiriu ao longo de uma história iniciada em momentos terríveis da ditadura.
Louvo Walter Pinheiro e Paulo Roberto Sampaio pela dedicação ao tema.
E nos prontificamos para em conjunto com a Tribuna da Bahia honrarmos os compromissos éticos, o respeito a Constituição e, sobretudo, buscando a revalorização da vida.
Vera Mattos
Jornalista, Presidente da Fundação Jaqueira
21 de abril de 2008*
* A situação é pior em 2010.
Vera Mattos é membro do Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos.
http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4537&Itemid=5
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