quinta-feira, 27 de maio de 2010

A execução do Delegado Clayton Leão. Sua última entrevista.

Segurança
Delegado relata ações contra violência
e antes de concluir entrevista é executado.





Rádio Líder – Dr. Clayton Leão, bom dia.


Delegado Clayton Leão – Bom dia Marco Antônio. Primeiro, quero pedir desculpas por não estar presente aí, gostaria muito, mas passei aqui em Abrantes da delegacia, tive um pequeno contratempo e justamente para não faltar o compromisso, a gente tem essa primeira conversa por telefone. Você sabe que a gente a 18ª Delegacia de Polícia está sempre disposto a atender os meios de comunicação, a imprensa e toda a sociedade de Camaçari.

RL – Clayton, quero iniciar esse bate papo contigo falando da paralisação dos policiais civis. Camaçari também faz parte e está aí dentro do contexto. A população de Camaçari está prejudicada em que sentido quando se trata da questão da paralisação dos policiais?

CL – Na verdade é uma paralisação não só da Bahia, mas nacional, a Polícia Civil, de todo o Brasil está parada em busca de uma melhoria do piso salarial para a categoria. Ela está sendo feita através da PEC 300/446, na verdade são duas PECs, que é uma proposta de emenda constitucional que já foi votada e aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados em Brasília e ela não só vai abranger a policia civil, mas como vai abranger toda a polícia militar. Na verdade essa PEC vai estipular um piso nacional para todo policial, tanto civil quanto militar e bombeiro também, que já faz parte da polícia militar. E com relação à paralisação, a orientação do sindicato é que 30% do efetivo da Polícia Civil esteja trabalhando. Ontem mesmo, fizemos contato com o Ministério Público, foi inaugurada a cadeia pública em Salvador e os presos começaram a ser recolhidos de toda a capital e consequentemente, também da região metropolitana. A tendência é que todas as delegacias, não só da capital, mas da região metropolitana não tenham nenhum preso provisório, ou seja, a pessoa é presa em flagrante e encaminhada para a delegacia e fica lá custodiada durante o prazo de conclusão de inquérito policial, que são dez dias para o réu preso. Isso vai melhorar o trabalho da Polícia Civil, uma vem que, com a custódia lotada, policiais que estariam dando atendimento ao público e fazendo diligências e investigação, que é o trabalho da Polícia Civil, ficam tomando conta de preso, visita de preso, familiares de preso. Inclusive, Marco Antônio, isso é um absurdo, quando o preso tem algum problema de saúde, no mínimo dois três policiais civis tem que levar esse custodiado, que tem direito a atendimento médico, para o hospital para ter o atendimento, ou seja, isso é um desvio de função da polícia civil. A gente conta também com o apoio da Polícia Militar, que vem ajudando a fazer essa condução de presos.

RL – A gente sabe do seu trabalho à frente da delegacia e do trabalho dos seus companheiros de investigação. A cidade aqui não é uma cidade fácil de ser policiada, a gente sabe disso, até porque fica na região metropolitana e não é fácil fazer o policiamento de uma cidade como essa, principalmente o policiamento investigativo. Para a gente encerrar este bate-papo, pergunto, como é que o senhor faz a análise neste momento?

CL – Eu queria fazer um resumo. Eu cheguei aqui em Camaçari em dezembro de 2008, vim de uma unidade do COE – Centro de Operações Especiais da Polícia Civil –, trabalhava diretamente com repressão a roubo a banco em todo o estado da Bahia. Vim para Camaçari a convite do secretário, do delegado geral, já fazendo um trabalho totalmente diferenciado, que era trabalhar numa unidade circunscricional, numa cidade em que a polícia estava, em parte, desacreditada. Chegamos, priorizamos combater principalmente o tráfico de drogas. Hoje a gente tem uma certeza, posso afirmar com convicção, que o tráfico de drogas em Camaçari recuou. Para se ter uma idéia, Marco Antônio, em Salvador uma pedra de crack é vendida a três, quatro, cinco reais. Em Camaçari, é até um absurdo se falar isso, é tabelado a R$ 10. Isso quer dizer que a polícia no geral vem trabalhando, vem combatendo o tráfico de drogas. A oferta está menor, a procura infelizmente continua grande por parte dos usuários, mas a oferta está menor, os traficantes estão com medo. Em um ano demos 127 flagrantes de traficantes com grande quantidade de droga apreendida. Quando paramos para contabilizar a droga, principalmente crack, a gente deu mais de R$ 800 mil de prejuízos aos traficantes. O trabalho para repreender é esse. Mas a gente trabalha, principalmente a Polícia Civil, no intuito de pegar o traficante aonde mais dói nele, que é no bolso, que a gente quebrando ele no bolso, ele não vai ter mais como comprar droga, vai ter que pagar advogado caro. A gente tem trabalhado junto com o Ministério Público, que apóia as nossas ações, principalmente dentro de uma legalidade que até então, não se ouve falar em nenhum tipo de ilegalidade cometida pela Polícia Civil. O Poder Judiciário também, apesar de estar em greve. Temos contato direto com os juízes. Eles têm apoiado o trabalho da Polícia Civil também. A gente, em 2009, conseguiu reduzir os homicídios, foram 76 em 2008 e em 2009, foram 73. Quer dizer, foram três a menos, em uma época que a violência só tende a aumentar em todo o Brasil e diga-se de passagem, desses 76 homicídios registrados em 2008 em Camaçari, muitos são desova. Desova no sentido de violência iniciada em uma outra cidade e vieram jogar os corpos em Camaçari. Infelizmente esses corpos que são achados na nossa região são contabilizados como homicídios em Camaçari. Foi divulgada no ano passado uma pesquisa em que Camaçari aparecia como a cidade mais violenta do Brasil para jovens de 14 a 24 anos. Não é verdade. Esses dados foram colhidos em anos anteriores à nossa chegada, levando em consideração fatores que nada tem a ver com a segurança pública. Levaram em conta assiduidade em colégio e taxas de desemprego, o que não tem a ver com a segurança pública. Ou seja, são fatores sociais, independem do trabalho da polícia.

RL – Para encerra mesmo. E o caso Glauber, doutor?
CL – Peraí, peraí, peraí...

RL – Doutor, doutor...
... Meus Deus do céu, assassinaram Clayton aqui na cascalheira. Venham minha gente, pelo amor de Deus, pelo amor de Deus, alô, Marco Antônio, minha gente, pelo amor de Deus...


RL – O que houve?
... Pelo amor de Deus, pelo amor de Deus.


RL – O que é que está havendo aí?
...
RL – Meu Deus do céu, o que foi que houve aí? Atenção Polícia Civil, atenção pessoal da 18ª delegacia de Polícia, algo grave aconteceu aí. Atenção, atenção dá uma ligada. O que foi que houve aí? Pega o telefone aí senhora por favor.

... Alguém pelo amor de Deus

RL – Esse é o telefone do delegado dr. Clayton. Mantenham contato com a delegacia agora. Vamos continuar ouvindo aí. Chamar atenção dos agentes da 18ª D.P. Algo grave aconteceu no momento que a gente falava com o delegado titular da 18ª DP, falando do trabalho da polícia, falando o que realmente a polícia vem fazendo.

... Meu amor, meus Deus do céu, me ajudem pelo amor de Deus, me ajudem, aí meu Deus do céu...

RL – Algo grave acaba de acontecer, não sabemos o que.

... Pelo amor de Deus, socorro. Ele estava dando uma entrevista...

RL – Atenderam o telefone, uma senhora informou que atiraram no delegado, na cabeça. É isso que a cidade de Camaçari está ouvindo?

... Eu tava passando aqui na hora. A gente não tem como falar agora, vamos dar socorro aqui ao delegado, sabemos que alguém atirou.


* O áudio da entrevista foi cedido pela Mídia Clip.
** Transcrição do conteúdo - repórter Karina Baracho

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