terça-feira, 11 de maio de 2010

Na entrevista com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, uma questão não queria calar.


Foto: Marco Aurélio Martins | Ag. A TARDE

O senhor acha que aquele episódio do folder, em que falou que “jornalistas são pagos para falar mentira” afetou sua imagem?

Não falei dos jornalistas. Depois foi esclarecido. E o jornal O Estado de São Paulo botou as coisas no lugar. Alguns jornais, principalmente no Rio de Janeiro, e o Globo particularmente, não gosta dessas mudanças que estamos fazendo na cultura. Em parte porque não gostam do governo e também porque eles são clientes do Ministério, usuários da Lei Rouanet e preferem tudo como está porque tem acesso mais fácil. No Dia da Cultura, a Frente Parlamentar da Cultura pediu para o MinC imprimir um folder. É a maior frente parlamentar, suprapartidária e nós imprimimos. No folder está escrita a palavra “Vote”, mas é para que votem nas dez leis que vão dar qualidade à cultura no Brasil. Tinha “Vote na cultura” e, atrás, o nome de 400 parlamentares, do presidente do DEM e do PSDB e, evidentemente, de parlamentares da base do governo, e não era nada de vote na eleição. Quando cheguei no parlamento para uma sessão, o folder já havia sido distribuído e já tinha havido a sessão do Dia da Cultura Havia uma inquietação entre os senadores de oposição, exatamente num dia em que Serra caia e Dilma subia, e um deles se virou pra mim e disse: “Não é nada contra a sua pessoa o que vai acontecer aqui, mas se não fosse isso seria o ar-condicionado”. Aí eles fizeram uma cena daquilo, dizendo que o Ministério estava financiando campanha eleitoral. Demóstenes Torres fez um barulho enorme. O Globo colocou uma foto minha segurando o folder e vi uma nítida intenção de manipular e mistificar e fizeram barulho no Senado para ter reprrcussão na imprensa. Aí um dia depois eu fui pro Rio para assinar um convênio com o BNDEs, e avisei aos jornalistas que não ia falar do Senado porque aquele evento era mais importante. Aí um jornalista da Folha, uma jornalista do Globo e mais uns três furaram o bloqueio e vieram até mim. Um jornalista da Folha, um garoto, começou a me provocar: “O sernhor não tem vergonha, não?”, disse. Ele, como era da idade da minha filha, resolvi conversar. “Você leu o folder? Então, leia?” “É , mas eu teria vergonha”, disse o jornalista, “isso é caso de processo”. “Você sabe o que é integridade? Tem um conceito ético e um conceito que a cultura oriental que diz que quando vc disassocia várias dimensões você vira cínico”, eu disse, meio que chamei ele de cínico indiretamente. Aí disse que meu pinto, meu estômago, meu coração e minha cabeça tem vínculo que se eu perder alguns aspectos vão ser prejudicados, pense nisso. Ele continuou provocando e eu disse: “Se respeite que eu não sou como vocês que são pagos pra contar mentira”. Foi uma briga com um cara que estava me desrespeitando No outro dia, os editoriais diziam que era a imprensa. Em cima da gravação o Estado, que é conservador e não tem simpatia pelo governo fez uma boa matéria, objetiva ,e aprendi a respeitar esse veiculo. Eu falei com o dedo na cara dele porque perdi a paciência. Eu perdi a cabeça porque comecei vendo uma pessoa da geração da minha filha e acabei vendo um canalhinha, um candidato ao que muitos acabam sendo no futuro.

Até porque, ministro, esse enfoque de ser pago para mentir está mais conforme as assessorias de imprensa do governo e de políticos do que a própria imprensa…

Mas era um jornalista da Folha. que provavelmente antes de sairda redação recebeu ordem de me desrespeitar e provocar. Eu falei pra ele. Até o negócio do pinto. Vocês ficaram surpresos que o ministro tem pinto. Dois dias depois teve a abertura da Conferência da Cultura aqui, estava eu e o governador, aí um cara lá embaixo, um professor universitário, disse: “Ministro, ministro, olhe, baiano não tem pinto não, baiano tem pau”. Aí eu disse para o governador: “Cada um com sua demanda”. No sul, se chocaram. Aqui estão me cobrando linguagem mais explícita. No meio artístico recebi muitas cartas de solidariedade, inclusive de Zé Celso Martinez Correa, exaltando a necessidade de se enfrentar a hipocrisia. Aquilo passou, não falei com a imprensa, mas com um cara que havia me desrespeitado.

E sobre a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão?

Eu sou contra a obrigatoriedade. Acho que o acesso à imprensa deve ser um direito de todos. Na Europa, nos países que morei e fui, a formação de jornalista é complementar, você é economista e estuda jornalismo. Porque se você tem só as técnicas jornalisticas, você tem uma massa de indivíduos sem conteúdo, mas que sabe compor. Além do rebaixamento da capacidade de uma boa imprensa, o que você tem é a dificuldade de acesso. Eu não fui disc-jóquei porque diziam que eu não tinha diploma, não era sindicalizado e sei que faria um bom programa de música africana. Não é o salve-se quem puder, acho que tem que ter uma formação, mas tipo uma pós-graduação, para capacitar pessoas quer são formadas em outras áreas poderem exercer a função.

Fonte:Revista Muito.

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