sábado, 20 de outubro de 2012

Número de mulheres que são chefes de família dobra em 10 anos, aponta IBGE



O número de mulheres chefes de família dobrou em uma década no Brasil. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de dados apurados para o Censo Demográfico, mostra que o volume de mulheres responsáveis pelo domicílio saltou de 9,048 milhões para 18,617 milhões entre 2000 e 2010. Já o número de homens chefes de família permaneceu praticamente inalterado, em 31 milhões. No total, o Censo 2010 contabilizou 49,9 milhões de chefes de família em todo o país.
A reportagem é de Alessandra Saraiva e publicada pelo jornal Valor, 18-10-2012.

Para o IBGE, o maior volume de mulheres chefes de família representa um avanço, que reflete maior presença das mulheres no mercado de trabalho e melhor nível de escolaridade. Taxas menores de fecundidade também favoreceram o resultado. Mas, alguns especialistas alertam que o dado pode indicar maior quantidade de mulheres que precisam cuidar dos filhos após a partida dos maridos, com o término de uniões conjugais.

Ontem, o IBGE divulgou os resultados de nupcialidade, fecundidade e migração e famílias e domicílios do Censo 2010. Os responsáveis pelo domicílio não necessariamente são aqueles que ganham mais dentro da família, explicou o técnico da coordenação de população e indicadores sociais do IBGE, Gilson Gonçalves de Matos.

Nessa classificação se encaixam os que assumem a responsabilidade total pela família, de maneira mais ampla do que somente pagar as contas. "Por exemplo, o pai, ou a mãe, pode se declarar responsável, mas ainda morar com filhos que ganham mais do que ele", exemplificou.

Para o técnico do IBGE, o avanço das mulheres chefes de família representa uma verdadeira mudança, nos valores culturais, quanto ao papel da sociedade brasileira. As mulheres, diz Matos, assumem a chefia de suas casas como reflexo da participação cada vez maior no mercado de trabalho e da melhora no nível de escolaridade. "A tendência é que este cenário [de crescimento no número de mulheres chefes de família] continue nos próximos anos", afirmou.

O otimismo de Matos em relação aos números divulgados não é compartilhado pela professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hildete Pereira de Melo. Para ela, o salto no número de chefes de família é um "atraso". Ela justificou sua posição ao se aprofundar sobre os termos "responsáveis pelo domicílio", ou "chefes de família".

"Isso delimita, na prática, a pessoa que fica no domicílio, que permanece com a responsabilidade maior, que é a criação dos filhos", disse Hildete. Para ela, a maior parcela de mulheres chefes de família indica que a responsabilidade de criação das crianças e adolescentes nas famílias fica concentrada na mãe.

"A conexão maior que o pai tem, dentro da família, é com sua mulher, e não com os filhos. Nas separações, os homens se mudam de casa, enquanto as mulheres permanecem nos domicílios", disse a professora.

Outro obstáculo enfrentado pela mulher chefe de família, de acordo com Hildete, é a renda do trabalho. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011 mostrou que as mulheres receberam, no ano passado, em torno de 70,4% do rendimento de trabalho dos homens, diz a especialista.

Na faixa de menor poder aquisitivo, a situação das mulheres como chefes de família é pior, na análise da professora da Universidade Católica de Petrópolis, Ana Lúcia Paes de Barros. Em seu estudo "Mulheres Pobres e Chefes de Família", a pesquisadora ressaltou que, de maneira geral, as mulheres chefes de família têm menos anos de estudo, taxas de participação no mercado de trabalho inferiores e salários menores do que os dos homens que também são chefes de família.

O crescimento das mulheres como chefes de família já tinha sido notado pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri. Para ele, o resultado pode ser interpretado tanto por uma ótica negativa quanto positiva.

Assim como o IBGE, Neri lembrou que a melhora na participação das mulheres no mercado de trabalho e nos níveis de escolaridade e renda também teriam contribuído para o resultado. "Acho que é uma "mudança sociológica", mas não acho intrinsecamente ruim", disse o presidente do Ipea.

Com taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição, Brasil fez a transição demográfica

"O Brasil já completou a fase final da transição demográfica, com a fecundidade caindo de cerca de 6 filhos por mulher nos anos 1960 para níveis abaixo da reposição em 2010, com 1,9 filho", constata Eduardo L. G. Rios-Neto, professor no Departamento de Demografia da UFMG, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 18-10-2012.
Segundo ele, "a população brasileira deixará de crescer em algum ponto a partir de 2030".
Eis o artigo.
Os dados possibilitam a difusão de uma realidade não totalmente conhecida por pessoas não especializadas, além de permitir uma reflexão sobre suas implicações.

Este é o caso da taxa de fecundidade total abaixo do nível de reposição. Uma população com a taxa de fecundidade de 2,1 filhos por mulher no período reprodutivo (15 e 49 anos) terá crescimento populacional nulo, caso esta persista por longo período.

O Brasil já completou a fase final da transição demográfica, com a fecundidade caindo de cerca de 6 filhos por mulher nos anos 1960 para níveis abaixo da reposição em 2010, com 1,9 filho.

Dados de outras pesquisas sugerem que a fecundidade já pode estar em 1,7. De qualquer forma, a população brasileira deixará de crescer em algum ponto a partir de 2030.

Há várias explicações. Os fatores clássicos são: aumento na escolaridade feminina, maior participação delas na força de trabalho, aumento na escolaridade dos filhos, queda da mortalidade infantil e maior urbanização.

Há explicações mais complexas associadas às relações de gênero, ao papel de fatores culturais mais específicos como a religião ou até o papel da TV e do consumo de bens duráveis e de luxo. Embora seja instigante saber o que causou a queda da fecundidade, dificilmente haverá um consenso.

Um debate mais recente e mais importante trata da fecundidade abaixo do nível de reposição, se esta taxa cairá mais ainda e até que ponto.

Não há dúvidas de que a escolaridade materna está correlacionada com a queda.

Os dados do IBGE mostram que a fecundidade das mulheres com ensino superior completo é de 1,14 filho, enquanto as sem instrução e com ensino fundamental completo têm fecundidade de 3 filhos.

Exercícios com os dados dos Censos de 2000 e 2010 revelam que quase metade da queda na fecundidade se deveu ao aumento na escolaridade das mães, enquanto a outra metade se deveu a mudanças de comportamento das mulheres.

Nessa perspectiva, a fecundidade poderia continuar caindo caso a escolaridade materna continuasse aumentando.

Cabe lembrar que fecundidade abaixo do nível de reposição não é necessariamente nefasta. Do lado positivo podemos citar o fato de que a redução no número de crianças em idade escolar possibilita uma verdadeira revolução na qualidade da educação.

Censo retrata um novo perfil da família brasileira

Os dados do Censo 2010 divulgados ontem também revelam novas características das famílias brasileiras. Cresceram as uniões informais, os casamentos inter-raciais, as separações e os divórcios.

Pouco mais de um terço dos brasileiros que vivem algum tipo de união conjugal não formalizou o casamento no civil nem no religioso. A chamada união consensual foi a única que teve crescimento na década, passando de 28,6% para 36,4%. A proporção de pessoas casadas no civil e no religioso, no mesmo período, caiu de 49,4% para 42,9% na década.

– O casamento informal era mais concentrado na região Norte, e entre casais de baixa renda. Agora, está mais disseminado. É comum a decisão de passar por uma experiência antes de contrair matrimônio. Existe também uma questão econômica, já que a união consensual requer menos gastos, não só com a festa, mas com todas as formalidades – afirma Ana Lúcia Saboia, do IBGE.
A reportagem é publicada pelo jornal Zero Hora, 18-10-2012.

As uniões entre casais de raças diferentes estagnou no país. Em 1960, 88% dos casais eram formados por pessoas da mesma raça, percentual que caiu para 80% em 1980. Em 2000, chegou a 70,9%. Em 2010, o índice ficou praticamente o mesmo: 69,3%. Os dados mostram, também, que homens e mulheres tendem cada vez mais a se unir a pessoas do mesmo nível educacional. Em 2010, 68,2% dos casais tinham o mesmo nível de instrução. Em 2000, eram 65%.

– Os ganhos em escolaridade tornam a população um pouco mais homogênea – diz o técnico do IBGE Leonardo Athias.

Mudanças demográficas, como queda da taxa de fecundidade, econômicas, como ingresso crescente da mulher no mercado de trabalho, e legais, como a diminuição na burocracia para o divórcio, também contribuíram para mudanças no perfil das famílias brasileiras. A proporção de divorciados quase dobrou em 10 anos, passando de 1,7% da população para 3,1%. Os casados caíram de 37% para 34,8%. Com as mulheres tendo menos filhos e mais tarde, houve um aumento das famílias formadas por casais sem filhos, que passaram de 15% para 20,2%. Mas o arranjo familiar mais comum continua a ser o de casais com filhos: 55%. Em 2000, eram 63,6% das famílias.

Do total de 27,4 milhões de casais com filhos, um sexto (16,3%) vive com enteados, além de filhos, ou só com enteados. Esses casais formam o que o IBGE chama de "famílias reconstituídas". Outro dado inédito mostrou que a maior parte dos 60 mil casais gays (53,8%) são formados por mulheres. Do total de pessoas que declararam ter cônjuges do mesmo sexo, 47,4% se disseram católicas e 20,4% sem religião. Pouco mais de um quarto (25,8%) tinha curso superior completo, índice bem superior à média nacional, de apenas 8,3%. Por causa da maior inserção da mulher no mercado de trabalho, cresce a proporção de casais em que os dois cônjuges têm renda. Em 2010, 62,7% dos casais tinham renda do marido e da mulher. Eram 41,9% em 2000.

Dados do país revelados pelo IBGE
UNIÕES
Confira algumas curiosidades do mais recente censo:
- Mais de um terço das uniões no Brasil são consensuais. Este tipo de relacionamento aumentou de 28,6%, em 2000, para 36,4% do total, no último levantamento.
- O número de casados caiu de 37% para 34,8% entre 2000 e 2010. O percentual de divorciados quase dobrou no mesmo período, passando de 1,7% para 3,1%.
- 69,3% dos brasileiros escolhem parceiros da mesma cor ou raça. Esse comportamento é mais forte dentre os grupos de brancos (74,5%), pardos (68,5%) e indígenas (65,0%)
CHEFIA DO LAR
- O percentual de famílias chefiadas por mulheres (reconhecidas como responsáveis pela casa) no país passou de 22,2% para 37,3%, entre 2000 e 2010.
CONDIÇÕES DE VIDA
- 52,5% dos domicílios são considerados adequados (contra 43,9% em 2000), ou seja, contam com abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta e indireta e até dois moradores por dormitório.
- Entre 2000 e 2010 houve um crescimento na proporção de domicílios onde vive um só morador, passando de 9,2% para 12,1% das casas.
- O percentual de domicílios com até dois moradores por dormitório (padrão considerado adequado) cresceu de 62,9% em 1991 para 81,9%.
FECUNDIDADE
- A taxa de fecundidade (média de filhos por mulher) caiu de 2,38 em 2000 para 1,90 – abaixo da taxa de reposição da população (que é 2,1), o que acelera o envelhecimento médio dos brasileiros.
- A proporção de casais sem filhos aumentou entre 2000 e 2010, passando de 14,9% para 20,2% do total.
MIGRAÇÃO
- 35,4% da população não residia no município onde nasceu, sendo que 14,5% (26,3 milhões de pessoas) moravam em outro Est



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