quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Jorge Amado: "Vim de ler os originais de “Maristela”, novo romance de Luiz Ademir Souza, e vejo como acertei quando, ao apresentar alguns livros de jovens baianos à Academia Brasileira de Letras"


 

GENTE E VIDA

JORGE AMADO

                          Vim de ler os originais de "Maristela", novo romance de Luiz Ademir Souza, e vejo como acertei quando, ao apresentar alguns livros de jovens baianos à Academia Brasileira de Letras, entre os quais um de sua autoria, "Defuntos-Carnavais", disse-lhe que o que é importante é continuar a trabalhar, não lhe faltando vocação e talento para o exercício da literatura.
                           Há um evidente avanço do ficcionista de um para outro livro. Em "Maristela" Luiz Ademir domina a matéria sobre a qual trabalha, já se expande  numa maior afirmação dos personagens e dos ambientes. Mantendo ainda o diálogo como principal eixo da construção romanesca-  e seu diálogo é natural e vivo – Já a enriquece no entanto com uma mais ampla perspectiva , sobretudo quando retrata o ambiente de Conceição do Almeida, a realidade do fumo e suas cinsequências. As figuras em "Maristela" crescem e se afirmam fortemente. Sente-se o romancista a dominar pouco a pouco  seus meios de expressão.
                           Os Livros de Luiz Ademir Souza, o último devido à conotação social, lembram-me de um romance que li em minha juventude: "Passageiros do 3ª ", de Kurt Kleber, na qual toda narrativa era desenvolvida através do diálogo e com sucesso. Não sei se a intenção consciente de Luiz Ademir é solucionar assim a problemática da ficção, deixando de lado outros elementos da narrativa.  Penso que seu caminho e sua afirmação dependem de ele continuar a trabalhar e ampliar o território de seus evidentes acertos.

                         Gostei de reencontrar Conceição do Almeida como chão de um livro, terra de "Maristela" e da gente de Luiz Ademir. Lembro-me dos tempos distantes em que parei na pequena cidade do recôncavo baiano enquanto escrevia "Jubiabá". Eu era então um jovem cheio de ambição literária e de ímpeto, assim como Luiz Ademir e tantos jovens de hoje. Se fui adiante, eu o devo a ter tido disciplina e humildade em meu trabalho. Só o próprio romancista pode realmente com trabalho constante, dar medida justa e necessária ao ímpeto e à ambição que o levam a querer criar gente e vida. "





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