sexta-feira, 12 de março de 2010

O avanço da mulher



Joaci Góes

Não se conhece um movimento social que tenha avançado tanto, em tão curto espaço de tempo, quanto o da valorização da mulher nos últimos cinquenta anos.
De fato, a descoberta da pílula anticoncepcional, em 1960, deu à mulher a possibilidade de melhor administrar o uso do seu tempo, a exemplo da escolha do momento da gravidez, permitindo-lhe preparar-se para os desafios da sociedade do conhecimento em que passamos a viver. É possível que tenha sido no Brasil onde esse avanço feminino se tenha realizado de modo singularmente espetacular. Senão vejamos.

Das três maiorias nacionais oprimidas - as mulheres, os pobres e os negros-, as mulheres são, de longe, a que mais conquistas realizou, sendo que os pobres e os negros continuam sem perspectivas de mudanças favoráveis, à medida que não se adensa e não prospera, com a velocidade devida, a compreensão coletiva de que a educação é o único instrumento capaz de assegurar o avanço social na sociedade do conhecimento em que, queiramos ou não, estamos inapelavelmente imersos. O sistema de cotas, de constitucionalidade ora em discussão no STF, se aprovado, pouco alterará este panorama, de que são prova as frustradas experiências internacionais.

Apesar da trágica omissão do setor público em ver a educação como o grande diferencial da sociedade contemporânea, em seu processo competitivo, as mulheres foram à luta e priorizaram o seu preparo, conscientes de que, a exemplo dos judeus - segmento populacional mais perseguido de todos os tempos-, para competir com os homens no ambiente de trabalho e vida afora, elas teriam que ser dobradamente capazes.

Já ao redor de 1970, pela primeira vez no Brasil, o número de mulheres graduadas em cursos superiores foi superior aos homens, sendo que, desde então, essa maioria feminina nunca parou de crescer, aproximando-se, agora dos 66% para elas contra 34% dos homens. Isto é: as mulheres representam praticamente o dobro dos homens na conquista de grau universitário. As mulheres só perdem para os homens nas profissões que se apoiam nas chamadas ciências exatas, com especial ênfase para a Física e a Matemática, mas não demora e elas chegam lá.
Os bons resultados não se fizeram esperar.

Apesar da discriminação salarial que sofrem, a massa salarial auferida pelas mulheres já igualou a dos homens, sendo que nada menos de 42% delas figuram nas mais recentes estatísticas como “cabeça do casal”, em matéria de renda. Além disso, não para de crescer o número de mulheres à frente do seu próprio negócio, ou como executivas de organizações dos mais variados portes.

A presença da mulher no comando da gestão pública, por outro lado, vem crescendo de ano para ano, de eleição para eleição, de modo sensível, ainda que em velocidade menor. Sem mencionar o crescimento de sua participação em atividades gerenciais do serviço público, nas três esferas do poder, entre as eleições de 1986 e as de 2006, o número de mulheres eleitas para a Câmara dos Deputados subiu de 26 para 45, de zero para dez no Senado e de zero para quatro na chefia de executivos estaduais, sendo que duas figuram como aspirantes de ponta às eleições presidenciais deste ano. Convenhamos que se trata de um avanço exponencial.

Enquanto isso na Bahia as mulheres fizeram bis no Tribunal de Justiça. Mais uma vez a Mesa Diretora é composta por quatro mulheres e um homem, com as desembargadoras Telma Britto como presidente, Maria José Sales Pereira, primeira vice-presidente, Lealdina Torreão, segunda vice-presidente, Lícia de Castro Laranjeira Carvalho, corregedora das comarcas do interior, cabendo ao único varão, desembargador Jerônimo dos Santos, o posto de corregedor geral da justiça.
É preciso dizer mais para concluirmos que estamos vivendo o embrião de um promissor matriarcado?

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