SALVADOR: 124 PESSOAS ASSASSINADAS ESTE ANO. OLHA LÁ UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO!

A MATANÇA CONTINUA

Por Karina Baracho

Ademir Souza de Assis, 27 anos, Lucimário Nascimento de Almeida, 26 e Jailson Silva Alexandrino, 22, três amigos que residiam no bairro de Valéria, encontraram a morte de maneira cruel na Vila Antônio Balbino, ou “Brongo”, uma localidade do bairro do IAPI.

Jailson fora visitar a mãe, que havia se mudado há pouco para o bairro e convidou os amigos para acompanhá-lo. Não sabia que o destino dos três estava selado. Morreram sem saber o porquê. Os corpos foram encontrados na manhã de ontem.

Eles tinham ido visitar a mãe de Jailson, que está morando no IAPI há 15 dias”, explicou um familiar que preferiu não sei identificado temendo represálias. Acrescentou que os assassinos levaram os tênis das vítimas, assim como documentos e dinheiro, mas a versão não foi confirmada pela polícia. “Temos que aguardar o parecer dos peritos”, disse um policial, analisando que o furto de objetos às vezes acontece para confundir as investigações.

Familiares destacaram ainda que os amigos eram trabalhadores e não estavam envolvidos com drogas. “Jailson trabalhava como caixa em uma farmácia”, disse um dos primos do rapaz. Um tanto perplexo com a morte do primo, ele salientou que Jailson não tinha amigos, muito menos inimigos no local onde foi morto. “Minha tia se mudou pra lá há pouco tempo, ele foi fazer uma visita e chamou os amigos, não conhece ninguém por lá”.

Os corpos dos três foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues. Parentes dos outros dois preferiram não falar com a imprensa. A 2ª Delegacia de Polícia, da Liberdade, investiga o crime. “Estamos averiguando a vida pregressa das vítimas, mas inicialmente parece que eles não tinha nenhum tipo de envolvimento com a polícia”, disse um dos agentes que investiga o caso.

12 de janeiro O casal, Francisca Balbina Santos, 39 anos e Marcelo Oliveira de Santana, 20 anos, foi morto com vários tiros dentro da residência, em Jardim Santo Inácio.

15 de janeiro Djair Santos de Jesus, 16 anos, foi morto por policiais militares na invasão de Péla-Porco. O jovem retornava de uma partida de futebol com amigos por volta de meia-noite, quando o grupo foi abordado por PMs.

16 de janeiro O ajudante de pedreiro Thiago Nascimento Carvalho, 21 anos, foi assassinado a tiros durante a madrugada, na Rua 12 de Setembro, local conhecido como Beco do Bozó, bairro de Cosme de Farias. Ele foi morto por três homens encapuzados.

19 de janeiro Alexandre Macedo Fraga, 17 anos, também foi morto por PMs, segundo a comunidade local, em Portoseco Pirajá. 22 de janeiro Ricardo Marcos dos Santos, 20 anos, artista circense foi morto e a população acusa a participação de policiais civis. O artista circense foi assassinado com oito tiros em uma quadra de futebol no bairro da Boca do Rio.

05 de fevereiro Magno Silva dos Santos e Marcos Alexandre Machado de Jesus, ambos com 25 anos e envolvidos com o tráfico de drogas, foram executados no Conjunto Nova Primavera, em Boiadeiro, subúrbio de Plataforma.

11 de fevereiro Eric Rosa Santos, 19 anos, foi encontrado com quatro tiros na cabeça no interior do Honda Civic preto de placa JQK-8222, abandonado na Baixa do Manu, bairro de Pernambués.

22 de fevereiro Arivaldo Tavares do Rosário, Cleiton Pereira Conceição, 18 anos, e Josemilton Pereira Nascimento, 25 anos, residentes de Areia Branca foram mortos supostamente por um grupo de extermínio.

Um dia depois das mortes de três jovens, cujos corpos foram encontrados numa estrada do Centro Industrial de Aratu, outro rapaz, também jovem e não identificado, foi localizado na manhã de sábado, na mesma localidade. O crime aconteceu no acostamento da Via Periférica II.

A última vítima vestia bermuda branca e camisa amarela, e com ela não foi encontrado qualquer documento. A delegada Dalva Cardoso Nascimento, plantonista da Delegacia de Homicídios, acompanhou os trabalhos da Polícia Técnica no local, mas as investigações serão pela 8ª Delegacia (CIA), unidade responsável pelo triplo homicídio cometido na véspera.

Os três executados na sexta-feira foram identificados por familiares como Eduardo José Ramos Júnior, Edson Pereira dos Santos, ambos de 21 anos, e Rogério Silva dos Santos, de 17 anos. Edson residia no bairro de Santa Cruz e respondia por assalto em inquérito instaurado no município de Vitória da Conquista.

As primeiras informações dizem que Eduardo, que era estudante, e Rogério, que residia em Itinga, não tinham antecedentes criminais.

124 pessoas foram assassinadas este ano

Estudos apontam um aumento de 30% no consumo de cocaína em todo o país. Junto ao maior uso, cresce também a violência e a criminalidade. Cada dia mais estabelecido, o tráfico de drogas impõe suas próprias leis e eleva o número de assassinatos na capital baiana. Dados do Centro de Documentação e Estatística Policial (Cedep) contabilizaram 1.337 homicídios em 2007, 370 a mais que no ano anterior, quando foram catalogados 967. Nos dois primeiros meses de 2008, 124 pessoas já foram assassinadas.

A polícia não tem como precisar quantas destas mortes estão relacionadas às drogas, mas o que se percebe a cada ocorrência é a estreita ligação entre drogas e homicídios. “Através dos relatos de familiares e testemunhas sabemos que a maioria das vítimas tem envolvimento com a venda ou com o uso de drogas”, destacou a delegada Inalda Cavalcante, titular da Delegacia de Homicídios (DH).

“Pesquisas comprovam que as apreensões correspondem a 5% de toda a droga em circulação nas ruas”, destacou o delegado Edenir de Macedo, da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE), no bairro dos Barris, informando que as apreensões também vêm crescendo. “Além da cocaína, flagramos com freqüência a venda de crack, principalmente nas camadas de baixa renda”.

De acordo com ele, os acusados são, em sua maioria, jovens da periferia na faixa etária de 18 a 26 anos, que se vêem tentados a idéia de dinheiro rápido e fácil. “Existe uma interconexão de delitos, além de traficar eles roubam para somar recursos e matam na disputa de bocas”, ressalta, acrescentando ainda: “O tráfico é o mais seguro para eles”. Em localidades como a Baixa da Égua, Nordeste de Amaralina, Avenida Peixe, Bairro da Paz, Chapada, Vale das Pedrinhas, Iolanda Pires, Baixa do Manú, Brongo, Arenoso, dentre outras, a população vive temerosa com a freqüência das ocorrências.

Em uma espécie de “código de honra”, os traficantes matam uns aos outros e executam usuários em débito com o “negócio”. “Isso quando não acabam mortos por grupos de extermínio, ou pela polícia, destaco Estudos apontam um aumento de 30% no consumo de cocaína em todo o país. Junto ao maior uso, cresce também a violência e a criminalidade. Cada dia mais estabelecido, o tráfico de drogas impõe suas próprias leis e eleva o número de assassinatos na capital baiana.

Dados do Centro de Documentação e Estatística Policial (Cedep) contabilizaram 1.337 homicídios em 2007, 370 a mais que no ano anterior, quando foram catalogados 967. Nos dois primeiros meses de 2008, 124 pessoas já foram assassinadas. A polícia não tem como precisar quantas destas mortes estão relacionadas às drogas, mas o que se percebe a cada ocorrência é a estreita ligação entre drogas e homicídios. “Através dos relatos de familiares e testemunhas sabemos que a maioria das vítimas tem envolvimento com a venda ou com o uso de drogas”, destacou a delegada Inalda Cavalcante, titular da Delegacia de Homicídios (DH).

“Pesquisas comprovam que as apreensões corresu Valdemar Oliveira, coordenador executivo do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca). Para ele só a qualificação profissional e a inserção dos jovens ao mercado de trabalho, podem combater o problema: “Se lhes forem oferecidas outras oportunidades, eles não vão querer se arriscar no mundo do crime”. O criminólogo Ricardo Cappi também aposta em políticas públicas para auxiliar à repressão. “Não adianta combater o tráfico com polícia e prisão, os jovens presos são facilmente substituídos por outros”, disse.

O estudioso acredita que a descriminalização (deixar de ser crime) das drogas pode ser um instrumento significativo na redução da violência. “Já sabemos que apenas a proibição não resolve”. Para Marta Nunes, diretora do Departamento de Crimes Contra a Vida (DCCV), a comercialização das drogas não pode ser considerada a única causa para o aumento da violência. “A falta de investimentos em segurança também deve ser levada em consideração”. Ações integradas entre as polícias civil e militar pretendem combater o problema. (Por Roberta Cerqueira)

Fonte: Tribuna da Bahia