quarta-feira, 16 de julho de 2008

Alex Ferraz escreve sobre a violência em Salvador.

O país é este!
   Os leitores que me perdoem, mas continuarei batendo no tema, a meu ver mais importante de todos os tempos, em todos os momentos, deste país: a estúpida violência urbana e a total insegurança pública. Não me interessa quem grampeou quem, muito menos se a inflação está subindo ou descendo. Interessa-me ser, talvez, uma voz no deserto da alienação nacional, mostrando mais uma vez a guerra civil em que vivemos. O país é este. O país das chacinas, o país onde, agora, a gente não sabe mesmo se deve fugir da Polícia ou do ladrão, porque ambos matam sem perdão, sem olhar a quem e sem conseqüências mais graves para o autor do homicídio. E é este o país que quer receber cada vez mais investimentos estrangeiros? É o país que vai sediar a Copa do Mundo de 2014? E, descendo do Planalto, nós somos, Bahia, o estado que queria a Toyota? E Salvador, a capital que quer liderar o turismo internacional e nacional, como vôos para trazer gente de todo o mundo civilizado (existe!) para cá? Sei não. Acho que, do jeito que as coisas vão, os vôos internacionais trarão tropas de paz da ONU e prepostos da Cruz Vermelha Internacional. Virão em missão de paz e assistência a esta guerra civil diante da qual a maioria fecha os olhos, não morta, mas alienada, fingindo que nada acontece. Já disse aqui e repito: é preciso que os empresários, que investem bilhões em negócios no País, muitos deles vindo de fora, fiquem atentos para o que se delineia com a absurda violência no Brasil, na Bahia, em Salvador. O quadro real é o que hoje mostro em foto nesta coluna. É o que querem esconder, é o que fingem esquecer, mas é o que é, sem tirar nem por. Francelino Pereira, um dia, perguntou: "Que país é esse?" Eu respondo, três décadas depois: "O país é este, Francelino!"

Nossa parte

   Criticamos políticos, governantes ONGs (a maioria com finalidades meramente financeiras), mas não nos esquecemos de nós. A imprensa precisa deixar de ser supérflua, casuística e meramente factual (ai, meus professores da Ufba devem estar me odiando!). Chega de noticiar uma chacina como quem fala de um bêbado atropelado sem conseqüências mais graves, em um minuto, e depois dedicar cinco, dez minutos a um grande atleta que torceu o pé e ficou fora de uma competição. Jamais consegui aceitar como a TV dedica poucos segundos a um fato escabroso e, depois, deleita-se com frivolidades. Sou burro.

Mundividência

   Talvez o termo seja exacerbado, mas a real é que é preciso ter uma visão ampla da questão. Falo de nós, jornalistas. A chacina do dia, o massacre da semana etc. não são apenas "cabeças de página" ou mesmo "a manchete". São fatos que, se vistos no seu conjunto, mostram o terror em que vivemos e sem que ninguém adote atitudes reais para tentar iniciar um processo de reversão.

Os culpados

   É claro que não posso, aqui, dizer que o culpado único é Lula, o governador Wagner, o prefeito João ou quem quer que seja que esteja no comando neste momento. Há um somatório de fatos, um histórico, que vem desde aqueles que nos deixaram a chamada "herança maldita." Alertados, todos foram, seja pelos fatos, seja pelos editoriais da imprensa. Mas nunca se tomou uma providência inteligente, real, que viesse a valer a longo prazo.

Todos têm culpa

   Os culpados são os que nos governam hoje e os que nos governaram ao longo dos cerca de 30 anos que gestaram o caos que temos no País atualmente, em termos de segurança pública. No banco dos réus que deveriam ser condenados pala carnificina atual deveria estar também a parte burra, esquizofrênica até, da burguesia nacional, que nunca encarou com racionalidade os rumos que a situação vinha tomando. Achava (e acha, ainda!) esta parcela da elite, que é matando que se resolve a questão.

A mídia, de novo

   Outra questão: seria indispensável uma conscientização constante no sentido de que as pessoas que não têm condições de prover filhos, e aí quero dizer educá-los, dar roupa, comida, lazer etc., não deveriam tê-los. Falo do planejamento familiar, controle de natalidade (melhor dizendo, auto-controle de natalidade, porque não é o Estado esterilizar mulheres, mas fazer com que elas entendam que só podem ter a quantidade de filhos que possam sustentar com dignidade). Aí entra a mídia, de novo, na "pessoa" da Rede Globo: é uma irresponsabilidade, diria mais, um crime, as novelas incentivarem a gravidez quando se sabe que são vistas (e nelas acreditam) pelas camadas da população que, infelizmente, menos têm condições de raciocinar e discernir sobre a realidade que as cerca.

Enfim, chega!

   Concluindo, caros leitores, o que estou aqui a desabafar é o seguinte: não podemos continuar fingindo que somos Dinamarca, quando o Haiti nos bate à porta. Os cadáveres que mostro nesta coluna (e que a mídia, de forma cristã, nunca exibe, porque acha que vai "chocar os leitores") são uma realidade palpável, cada vez mais abrangente e que não pode ser escondida. Precisamos deixar de lado o estelionato social, parar de fingir que somos os tais só porque a empresa tal ou Fulano quis investir aqui "x" milhões de dólares. Será que esse Fulano sabe realmente o que se passa? Será que as pessoas que ele pretende trazer, por exemplo, para seu empreendimento turístico, têm a mínima noção da selva que vão encontrar?

A solução

   Seria extremamente pretensioso eu querer dar a solução. No entanto, arrisco-me a um palpite: que tal colocarmos os pés no chão, reconhecer que vivemos numa sociedade selvagem, onde Polícia e ladrão se confundem e a carnificina virou rotina, e tentar iniciar um processo para reverter de vez este quadro? Vai demorar, mas se ninguém tiver a honradez de desviar a atenção um pouco do poder pelo poder, dos milhões e bilhões que pode faturar ou afanar aqui e acolá, nunca será dado o "start". Não pinta ninguém na área com a vontade de ter o orgulho de fazer isso a sério? Pois é...

Fonte: Tribuna da Bahia


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Um comentário:

  1. Está mais que na hora de encarar a realidade da situação brasileira.

    Se não podemos agir por um país, pelo estado, comecemos em nossas cidades, em nossas comunidades, em nossos bairros.

    O país não é este! Não foi para isso que estudamos, que trabalhamos, que construímos, que geramos nossos filhos.

    Se erramos de caminho está no tempo de acertarmos o percurso.

    Que a midia se manifeste constante, apontando com honestidade corajosa os terrores que nos assolam e procurem àqueles com soluções para entrevistas que nos mostrem soluções.

    Contamos com vocês

    Ana Maria C. Bruni
    www.territoriomulher.com.br

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