sexta-feira, 11 de julho de 2008

SALVADOR, BAHIA: ONDE ESTÃO OS JOVENS DA PERIFERIA?


De acordo com o Centro de Documentação e Estatísticas da Polícia Civil, no período de janeiro e março de 2008, foram registradas mais de 800 ocorrências envolvendo adolescentes de idade entre 12 e 17 anos. O tráfico de drogas e o roubo a transeuntes estão no topo desta lista, totalizando 434 casos. De acordo com a delegada Claudenice Teixeira, da Delegacia do Menor Infrator (DAÍ), somente no mês de junho, foram 240 ocorrências de crimes cometidos por jovens. Desestruturação da família, falta de ocupação, de incentivos do governo em educação, lazer e esporte, violência doméstica, o dinheiro rápido e poder sedutor do tráfico de drogas, são alguns dos motivos mais freqüentes que levam os adolescentes ao mundo do crime.
Esse é o caso do adolescente M., de 14 anos, que confessa ter participado da Chacina da Baixinha de Mussurunga, em que sete pessoas inocentes foram mortas no dia 7 do mês passado. Ele não foi localizado pela polícia. Quem o apresentou à delegada Claudenice Teixeira, da 12ª Delegacia, foi a própria mãe, V.R.F, que temia pela vida do seu companheiro, padrasto do menor, constantemente ameaçado de morte pelo garoto.
O adolescente, que diz não levar desaforo para casa, confirmou a participação dos crimes. “Fomos, eu e o bando, à procura do traficante Carlinhos, que atirou em Jerry Adriani. Todos estavam armados com revólver calibre 12 e uma mini metralhadora. Eu não estava armado. Nas minhas mãos só tinha uma corda que seria usada para enforcar o Carlinhos.”, conta o adolescente, sem o menor constrangimento.
O garoto confirmou também a participação de Aladim e Paulinho (foragidos) e Tiago e Bruno (presos na Delegacia de Homicídios), na chacina de Mussurunga. “Tiago que se diz inocente era o único que estava com uma mini metralhadora e depois que matava, ele roubava a carteira e o celular das vítimas”, denuncia o adolescente.
O menino mau diz que começou no mundo do tráfico com 13 anos, portanto há um ano, porque era amigo de pessoas da área envolvidas, envolvidas com as drogas. “Eu vendia cerca 20 a 30 pedras de crack por dia no Beco do Corte, em São Cristóvão. Cada pedra era vendida por R$ 10. Parte do dinheiro ficava comigo e a outra eu dava para Jerry Adriani ou Paulinho”, conta, dizendo que o faturamento com as drogas variava entre R$ 200 e R$ 300 por dia.
O que fazia com o dinheiro? Gastava tudo com bobagens. Ás vezes dava algum à mãe, que parecia não querer saber nem se importar com a origem da grana.
A delegada Claudenice Teixeira afirmou que o jovem será encaminhado à Promotoria da Infância e Adolescência, que pedirá a internação dele. “Um adolescente não pode ser preso. A pena mais grave é a internação que varia de 1 a 3 anos. Além disso, também existem medidas educativas, que consistem em prestar serviços a comunidade”, relata.



A sociedade também é responsável


Para a psicóloga Cecília Passos, do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), os motivos que levam os adolescentes a cometer crimes é a violência familiar, falta de dinheiro para as necessidades básicas, como alimentação, a falta de oportunidade no mercado de trabalho e poucos incentivos por parte do governo. “Os jovens não vêem perspectivas futuras e acabam sendo seduzidos pelo tráfico de drogas, que se torna um ciclo vicioso. Ao ingressar nesse modo de vida fica muito difícil sair de lá. Muitas vezes quando o jovem quer largar o tráfico, ele acaba sendo ameaçado de morte pelos próprios traficantes.” disse.
Ainda de acordo com Cecília Passos, a baixa renda familiar e a conivência dos pais, que aceitam o dinheiro ilícito para o sustento da casa, também é um dos motivos que levam os adolescentes a cometer crimes. “A sociedade também é culpada por essa lástima. Ela não aceita um adolescente infrator. Emprego fica mais difícil nesses casos.”
A psicóloga relata que na maioria dos casos que ela atende, o que passa na cabeça dos adolescentes é que eles se sentem fazendo justiça cometendo algum ato ilícito. “Houve certa vez que ouvi de um paciente: não me arrependo do que faço. Só roubo dinheiro de rico”, disse o garoto.
A psicóloga disse que as medidas sócio-educativas, como forma de punição para um adolescente infrator também não são eficazes. “Não é correto deixar um jovem que cometeu pequenos delitos em convívio com outros que cometeram casos graves. Os adolescentes tornam-se muito susceptíveis a influencia um dos outros.” Segundo Passos, essas medidas educativas poderiam ser mais profissionalizantes para haver uma maior perspectiva de futuro. “Durante o período em que estivessem internados, os jovens poderiam fazer algum tipo de trabalho para empresas conveniadas, e assim, ganharia seu próprio dinheiro, auxiliando no sustento da casa.



Perfil do adolescente infrator


O sociólogo Jurandyr Almeida, que estuda “sociedade e adolescência”, fez um perfil do jovem infrator. Esse estudo aponta que 66% desses adolescentes não têm o ensino fundamental, ou seja, a oitava série concluída. “Os jovens quando entram no mundo do crime, adotam como primeira medida abandonar a escola.”, disse Almeida. A situação econômica familiar também interfere. A pesquisa relata que 56% desses adolescentes têm renda familiar que varia entre nenhum até dois salários mínimos. “A maioria desses adolescentes residem com a mãe, que está sendo obrigada a cumprir com as funções de provedora e educadora. Uma parcela significativa desses lares, convivem cerca de 7, 8 ou até 9 pessoas”, afirma Almeida.
A faixa etária entre 16 e 17 anos, corresponde a 51% dos casos de adolescentes que cumprem medidas sócio educativas. Porém, a faixa de 14 e 15 anos, possui um percentual considerável, que gira em torno de 30%.
De acordo com o sociólogo, a mídia contribui de forma substancial fazendo apelo ao consumo. “Não acreditamos que todos os adolescentes ingressam no mundo do crime para sustentar a si e sua família, porém observamos que o apelo ao consumo é muito forte e move muitas ações destes adolescentes q ue apresentam o anseio de serem incluídos e aceitos na vida comunitária e social”, conclui.




Por Tatiana Ribeiro / Tribuna da Bahia

Um comentário:

  1. concordo com tudo....pois os políticos e a sociedades precisam apoia os jovens,e não virar a cara para eles como se não tivessem nada ave com isso...e não é colocando-o em uma cadeia que vai mudar nada....sim com uma boa oportunidade de vida e apoio...pois o jovem é o futuro desse pais

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