sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sergio Gabardo escreve sobre o assassinato do filho Mário. A dor deste pai deve ter uma resposta. Leia e comente.

MIL DIAS DE SOFRIMENTO E SAUDADE



Meus companheiros de dor:

Neste dia 9, meu filho Mário completaria 23 anos. Sim, mas sua vida foi interrompida aos 20 anos, 2 meses e 20 dias.

No dia em que completaria 23 anos, uma nova marca: 1.000 dias desde o seu assassinato, ocorrido no dia 29 de setembro de 2005. São 1.000 dias de indignação com o descaso das autoridades ditas de segurança pública.

Como é esperado para esse dia, as lembranças que envolvem o pensamento dos pais, especialmente da mãe, deveriam ser as do dia em que ele nasceu, a alegria que trouxe para a família, suas descobertas, a entrada na escola, o despertar para a adolescência, a primeira namorada, o início de sua independência. Jamais esquecerei o dia em que exibiu seu título de eleitor, aos 16 anos, e sua expressão de felicidade ao dizer-se participante na escolha dos representantes do governo. Mal podia esperar que esses mesmos representantes o ignorariam quatro anos depois, quando foi assassinato cruelmente, sem ter o direito, sequer de ver o assassino ser preso e julgado como, certamente, ele gostaria que acontecesse.

Depois entrou na Universidade, e para cursar Direito. Tamanha era sua vontade de contribuir para que a justiça sempre prevalecesse! Que outro curso lhe proporcionaria isso? Infelizmente, seu senso de justiça foi pisoteado, assim como a sua honra em sentir-se capaz de mudar o rumo da política, ao dizer-se capaz de contribuir para que tudo ficasse um pouco melhor. A justiça não lhe deu o direito de sequer levar o assassino para a cadeia; os políticos eleitos, inclusive com o voto dele, em nada contribuíram para que sua morte melhorasse, um pouco pelo menos, a segurança de seus familiares e amigos que aqui ficaram.

Ao invés das lembranças de seu nascimento, o que prevalece é a saudade de não poder dar-lhe o abraço tão desejado e carente. Ao invés de festa, as lágrimas insistem em aparecer para anunciar o olhar triste e o coração apertado de tristeza e saudade. Um misto de indignação, de revolta, de saudade, de certeza de que ele partiu compeltamente inocente, sem ter tido qualquer participação para que isso acontecesse. Covardemente assassinado!

Os dias passam e nada é feito!
Revolto-me a lembrar disso tudo, pois desde o início das investigações, ocorreram erros gravíssimos e por isso mesmo irreparáveis. Nesse tempo todo fico a me perguntar por onde andarão as ditas autoridades da segurança pública? São inoperantes para garantir a segurança dos cidadãos de bem, e assinam atestado de incompetência quando não conseguem, seja porque motivo for, descobrir quem foram os mandantes e/ou os agentes executores do meu filho Mário.
Além do descaso absoluto e hediondo, ainda demonstram uma insensibilidade inaceitável e horrenda, premiando a impunidade, e permitindo que esses assassinos continuem à solta, seguramente fazendo novas vítimas, destruindo outras famílias. Talvez essas ditas autoridades da segurança pública apostem no meu cansaço. Mas antecipo que jamais irei descansar enquanto tiver forças para cobrar um trabalho sério e com resultados. Não irei esmorecer enquanto essas ditas como autoridades da segurança pública, não apresentarem os responsáveis pelo assassinato do meu filho Mário, para que sejam punidas, mesmo que pela “branda” legislação brasileira.
Esses agentes públicos, que recebem seus vencimentos para executarem tão importante trabalho, me devem isso. Sou um cidadão cumpridor das minhas obrigações, e tenho o direito de cobrar os serviços que prestam e para o qual estão ocupando altos cargos, amparados constitucionalmente.
Meu coração está dilacerado. Jamais será curado.

E as autoridades, do município, do Estado e federal, continuam insensíveis, talvez por ordem dos chamados “chefes de Estado” que devem ter outras prioridades de ordem política. Os cidadãos de bem ficam relegados a segundo ou terceiro planos... rendem poucos votos.
Meu filho Mário se foi. E a impunidade toma conta do país inteiro, enquanto a Polícia anda em círculos e está desaparecida. Rodo por este Rio Grande afora e não tenho visto Polícia nas ruas. Os marginais circulam livremente. Alguém de vocês tem visto Polícia nas ruas, como que a proteger os cidadãos de bem? Se alguém vê, por favor me diga onde está esta Polícia, que não consigo encontrar em lugar algum.
Não pretendo ser muito extenso, mas preciso deixar registrada a minha indignação e o meu protesto pela insensibilidade e descaso inconcebíveis. E também o meu convite para que adotemos medidas mais enérgicas para esse pessoal da área dita da segurança pública.

Deixo aqui a minha idéia.
Vamos nos reunir no Aeroporto de Brasília, por exemplo.
Quem sabe se todos nós, que somos vítimas da violência e da impunidade, nos deitemos no solo do Aeroporto de Brasília? Quem sabe assim poderíamos chamar a atenção da mídia para que todo o país pudesse conhecer o tamanho do descaso e da insensibilidade desses agentes públicos?
Ou talvez devêssemos fazer isso em frente ao Congresso Nacional, para que a classe política, que muito pouco trabalha, pedisse providências aos secretários de Estado da Segurança Pública para que coloquem seus “agentes” a trabalhar com afinco e determinação?

Não esqueçam!
Estou vivendo há 1.000 dias sem o meu filho Mário.
São 1.000 dias de interrogação sobre o que efetivamente aconteceu com meu filho Mário naquela trágica noite.
São 1.000 dias de descaso absoluto.
São 1.000 dias de insensibilidade.
São 1.000 dias de impunidade.
São 1.000 dias de dor intensa.
São 1.000 dias de saudade que se tornou eterna.

Parabéns, Mário, pela criança que você foi um dia e pelo homem em que você se tornou. Parabéns pela vida que você teve, sempre marcada pela justiça, humildade, flexibildiade e muita sensatez. Saiba, Mário, que apesar de seus poucos 20 anos aqui vividos, você foi muito melhor ser humano do que a maioria dos políticos que governam o nosso país, em especial, os que "comandam" a segurança pública, com tão mais idade.

Orgulho-me de ser seu pai, sim, porque o serei eternamente. Vivo na esperança de um dia poder abraçá-lo novamente e dizer-lhe que consegui lavar a sua honra ao ver o assassino identificado e preso. Conto com isso para continuar vivendo, Meu Filho.
Sérgio, Pai do Mário

Um comentário:

  1. A impunidade é no Brasil inteiro, hoje em dia mata-se ser humano como mata-se inseto, é um absurdo, falta de lei séria e homens que queira cumpri-las.
    Bandidos solto e familias destruidas.
    ESTE NÃO É O BRASIL QUE DESEJO PARA MINHA FILHA

    ResponderExcluir

Você é livre para oferecer a sua opinião.