terça-feira, 23 de setembro de 2008

Juventude e Violência :Por que é possível falar em extermínio da juventude negra.

O movimento social está buscando formas de refletir e denunciar as práticas de violência e extermínio, institucionalizadas pelo Estado brasileiro e que se abatem de forma mais contundente sobre os jovens negros e de classe baixa. Confira a matéria e duas entrevistas com ativistas sociais sobre o tema.
A violência no Brasil chegou a índices alarmantes e já condiciona os cotidianos. Mais do que isso, hoje não há como escapar de suas expressões, nem ignora-la. Contundente, as marcas da violência se mostram alcançando a todos, não deixando de fora nenhum nicho social, raça/etnia, gênero.
Contudo, alguns grupos e traços sociais acentuam o impacto da violência, colocando os sujeitos em situação de vulnerabilidade social e mais passivos de estar numa das posições seja de vítima ou algoz da violência. O entendimento de que violência e vulnerabilidade social andam juntos, parte dos fortes vínculos que ambas questões são fruto da desigualdade social instaurada no país.
Assim, homens, jovens e negros protagonizam a violência no país, dos dois lados da moeda, demonstrando um novo fenômeno de mortalidade na faixa etária de 15 a 39 anos. País afora, movimentos pelos direitos humanos denunciam os avanços da violência urbana e das violações de direitos humanos, mas também a necessidade de enfretamento do problema não somente pelo viés da repressão policial, mas pela busca de construção de políticas públicas que revertam os quadros de vulnerabilidade social. No Brasil, assim como na América Latina, a juventude está no olho da violência, assim como os homens (morrem por homicídio 12 vezes mais homens do que mulheres). Outro dado é o chamado “negrocídio”, ou seja, extermínio deliberado de jovens negros, maiores vítimas do extermínio, bem como das piores condições sociais.
O movimento social baiano lançou em agosto uma Carta-Aberta, entregue ao Governador do Estado, Jacques Wagner, denunciando os crimes de extermínio e a necessidade de intervenção direta do estado no quadro de genocídio da juventude negra. O documento foi assinado por 32 organizações da sociedade civil.

Militância -

A jornalista Suzana Varjão, líder do Movimento Estado de Paz, revela que “no dia em que recebeu a Carta Aberta – o mesmo em que trocou o comando da Polícia Militar –, o governador Jaques Wagner nos ligou, reafirmando a disposição de enfrentar a violência no estado da Bahia 'absolutamente dentro da lei'.
Interpretamos esta manifestação de forma muito positiva, como um discurso anti-extermínio, que ele já havia esboçado dias antes, quando da solenidade de entrega de viaturas e de certificados a novos policiais, no Centro de Convenções da Bahia”. Na ocasião, o governador determinou que a mesa dos trabalhos fosse composta com uma representação da sociedade civil organizada, e, não por acaso, dirigiu-se de modo firme aos novos comandados: "Não é para matar. Não é para atirar. Eu não autorizo vocês a atirarem, a não ser em confronto aberto com bandidos".

Na opinião da especialista e autora do livro Micropoderes, Macroviolências, é evidente o genocídio da juventude negra tanto no estado, como no país de forma mais ampla. Segundo Suzana, “há uma clara vinculação entre o perfil étnico-racial e o grave quadro de violência física na cidade”. Para o coordenador do CMA Hip-Hop, Hamilton Oliveira (Dj Branco), “o Estado brasileiro cimentou sobre suas bases o hábito barato de matar negr@s. O genocídio empreendido contra as nossas comunidades em ruas, favelas, quilombos e instituições carcerárias se consolidou através dos séculos como uma maneira hábil de controlar e punir as populações marginalizadas que, em certa medida, representam uma ameaça à ordem racial estabelecida.

A experiência acumulada nas comunidades de maioria negra somada a estudos sistematizados e a dados quantitativos evidenciam a constante relação entre mortalidade e violência racial, principalmente no que toca à taxa de homicídios por sexo, idade e cor-raça, o alvo é sempre a juventude negra”.

O militante integra a Campanha Reaja ou Será Morta! Reaja ou será morto! e participou da carta entregue ao Governador da Bahia. Ao longo da sua trajetória, Dj Branco já acompanhou a morte por extermínio de jovens negros, oriundos de comunidades carentes e já liderou manifestações em defesa da vida e denunciando crimes dessa natureza. Para ele, é preciso combater e denunciar as práticas institucionalizadas (embora ilegais) de pena de morte, sem defesa e julgamento pela polícia brasileira. “a juventude negra está ocupando as ruas, organizando seminários para tratar sobre o tema, participando de conferencias municipais estaduais e nacionais, os quais são espaços estratégicos para denunciar essa onda de homicídios na cidade de Salvador”.

O militante acha que os jovens negros precisam se posicionar e reagir contra a postura do Estado brasileiro. “Estamos por nossa própria conta. Estamos casados de ouvir o blá- blá-blá que a juventude é o futuro do país. Mas que juventude é essa mesmo o tal futuro do país ? Será que é a juventude negra? Fica ai a pergunta” conclui.

Mobilizar é preciso - Conheça um pouco sobre duas campanhas soteropolitanas de combate à violência: Movimento Estado de Paz e Campanha Reaja ou Será Morto!
Campanha Reaja ou Será Morta! Reaja ou será morto! Por Dj Branco

A Campanha Reaja ou será morta! Reaja ou será morto! é uma campanhapela vida, contra o racismo, a homofobia e o sexismo que vem, desde o mês de maio de 2005, desenvolvendo estratégias comunitárias de enfrentamento à violência racial e ao extermínio do povo negro. Nos entendemos como reflexo de uma luta histórica do Movimento Negro frente a um Estado e a uma sociedade que permite e promove o extermínio de nossas comunidades como elementos fundantes de sua estrutura.
Falamos de um lugar especifico: o daqueles e daquelas que tem as suas possibilidades de sobrevivência reduzidas meio a uma sociedade que, além de nos rejeitar simbolicamente, nos oprime, nos persegue, criminaliza e aniquila. Por isso, a nossa campanha é, antes de tudo, pela manutenção de nossas vidas: a vida de crianças, mulheres, homens, anciãos, homossexuais e lésbicas negras que têm diminuídas as suas chances de manterem-se vivas.

Articulamos, a partir de nossos próprios esforços, organizações e comunidades negras dispostas a desempenhar de maneira autônoma uma estratégia de auto-defesa de nosso povo.
Nos consagramos através desta campanha como os nossos próprios interlocutores no enfrentamento ao extermínio. Entendemos que os meios necessários para este enfrentamento consistem na interseção de fatores raciais, de gênero e de orientação sexual. Congregamos em nossas ações atores políticos, organizações e comunidades negras que têm empreendido iniciativas politicas de enfrentamento às múltiplas faces da violência racial.
Destacam-se como segmentos dessa articulação grupos culturais, núcleos universitários, quilombos educacionais, organizações de periferia, rádios comunitárias, posses e organizações do Movimento Hip - Hop, articulação de juventude negra, mulheres negras, lésbicas negras, homossexuais negros e todas as vítimas do ódio racial.
A “Campanha Reaja ou será Mort@!”, ou como simplesmente a chamamos – a “REAJA!” - corresponde a esforços de organizações, comunidades e pessoas negras frente a esse processo contínuo do extermínio, sobretudo no que tange o assassínio em massa; as mortes evitáveis de homens, mulheres e crianças negras; trabalho precário e desemprego, exclusão educacional; ódio religioso e violação de direitos culturais; a marginalização de comunidades quilombolas; a situação das mulheres negras e direito irrefutável à vida.
Nos organizamos para reagir também a episódios de tortura, abuso de autoridade, prisão ilegal, seqüestro, lesões corporais, invasão a domicilio, execuções sumarias e outras ações realizadas ou permitidas pelo estado que refletem a um padrão definido pelo racismo na conduta da policia e dos grupos de extermínio na Bahia, no Brasil e no mundo.

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