terça-feira, 23 de setembro de 2008

Movimento Estado de Paz

Por Suzana Varjão

O Movimento Estado de Paz surgiu da necessidade de se pensar a relação entre comunicação & violências. E comunicação não apenas midiática, mas toda e qualquer narrativa estruturante do quadro social. É composto basicamente por duas esferas de articulação: uma que problematiza a produção de dados sobre violências; outra, a difusão destes dados. A primeira esfera está mais próxima dos agentes que coletam e sistematizam informações sobre ocorrências violentas; a segunda, dos agentes noticiosos.
É importante frisar que o Estado de Paz não é uma ONG. É, de fato, um movimento, uma rede, composta por militantes de diversas organizações (como o Unicef, o jornal A Tarde, a TV Bahia, a CIPÒ, a ABI, a ANDI, a Facom...), que buscam a melhoria do campo da comunicação como forma de enfrentar o quadro de violências físicas e simbólicas no País.
Surgiu a partir de um ato violento: o assassinato da colunista Maristela Bouzas, uma jovem branca, de classe média, escolaridade superior, casada, bem empregada. Um perfil que, à época, o discurso estrutural dos meios de comunicação de massa fazia supor ser o das vítimas preferenciais das violências no país, quando, na verdade, estas vítimas eram – continuam sendo – do sexo masculino, negras, subempregadas, ou desempregadas, com baixa escolaridade, solteiras e moradoras dos chamados bairros periféricos. Foi um movimento que se formou por indignação e se firmou pela consciência de que nós, comunicadores, precisávamos emitir outro tipo de mensagem, se quiséssemos contribuir de modo significativo para a luta em defesa dos direitos humanos e da vida.
Surgiu num contexto de silêncio quase absoluto em relação ao extermínio contra jovens negros e pobres. Um problema extremamente sério, varrido para debaixo do tapete, porque só atingia um segmento social então com parco – quase nulo – poder simbólico para fazer frente a ele.
Enfim, como diz a pesquisadora Tânia Cordeiro, o Estado de Paz é uma 'necessidade social que se fez movimento'. Necessidade que, infelizmente, está longe de ser esgotada. Todo movimento tem seu ciclo, mas as razões que movem o MEP são tão perversas, estruturantes e longevas, que não nos sentimos no direito de 'bater em retirada', apesar dos sacrifícios pessoais, que são muitos, porque um formato desse tipo, não-institucional, é muito difícil de ser mantido.

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