Enquanto no Oriente Médio israelenses e palestinos vivem em estado de guerra, com os conflitos que parecem não ter fim, em Salvador, as comunidades estão unidas para pedir o fim dos ataques contra o seu povo. Na capital baiana, vivem legalmente quase 1.000 estrangeiros muçulmanos e israelenses, em perfeita harmonia e solidariedade. “Aqui não há disputa e todos estamos juntos em busca do mesmo objetivo: Paz”. É o que anuncia o presidente do Centro Islâmico da Bahia, Sheik Ahmad Abdul.
Ahmad Abdul mora em Salvador há 16 anos e acompanha aflito o pesadelo instalado no seu país. “É um absurdo o que está acontecendo e a causa é essa política de destruição total”. Abdul afirma que não existe inimizade entre os povos, uma vez que, sua religião - o islamismo - abarca todas as outras religiões, incluindo o judaísmo e o cristianismo. “Sou muçulmano e isso não impede que eu tenha amigos israelenses”, revelou.
A Bahia, em particular Salvador, sempre foi conhecida pela mistura de raças, culturas, povos e religiões. Um lugar único no Brasil que encanta todos os visitantes, não só por sua beleza, mas, principalmente por sua hospitalidade. E não foi à toa que o muçulmano Hassan Cheaito escolheu a cidade soteropolitana para viver. Para se afastar da guerra que acontece há tempos em todo território palestino, Hassan veio para o Brasil há 23 anos e faz 14 que vive em Salvador. “Morei primeiro em São Paulo e quando vim para Salvador a passeio, não consegui mas sair daqui”, relatou satisfeito. “Uma terra boa, com o povo receptivo e um clima que não tem igual”, acrescentou. Hassan tem dois filhos, baianos, e conta ainda que a cidade lhe proporcionou a sua própria vida, “Graças a Deus meus filhos nasceram longe de um país que sofre tanto com as guerras e vão ter oportunidade de crescer”.
Para Hassan a maioria das disputas acontece por causa de Israel. “Todos querem ter um pedaço do país e com isso estão cometendo tantas atrocidades”, explicou inconformado. Mas apesar disso afirma que o relacionamento entre ele e todos seus conterrâneos com os israelenses que aqui vivem é tranquilo. “Não há motivos para vivermos com brigas , somos todos irmãos e lá na palestina mães, pais e toda a nossa família estão sofrendo com os ataques”.
O presidente da Sociedade Israelita da Bahia, Izio Kowes, reafirma a boa convivência entre os povos. “Não somos inimigos, estamos matando uns aos outros lá no Oriente por causa da política”. Kowes lembra ainda que em diversos locais do Brasil, a exemplo São Paulo, muçulmanos e palestinos dividem a mesma calçada com seus negócios. “As nossas comunidades se respeitam e esse relacionamento tem que ser preservado”.(Por Karoline Meira)
Em busca da tranquilidade
“À procura de paz”. Atrás desse sentimento, distante para os moradores do território palestino, foi que fez também Abdalah Ali se mudar para Salvador. “Nosso povo vem há muito tempo sendo massacrado por Israel”, disse. Para o mulçumano não foi possível continuar vivendo refém do medo. “Crianças morrendo o tempo todo, tenho certeza que não somos nós, o povo, que queremos essa destruição. O alto poder é que ambiciona as terras alheias e estão acabando com a vida de gente inocente e não é por nós é por eles”.
A sociedade baiana também está reagindo, ainda que timidamente, aos ataques israelenses à Faixa de Gaza. Entidades sindicais, estudantis, partidárias, e religiosas estão realizando manifestações, em frente à sede do consulado dos EUA, localizado na Tancredo Neves, juntamente com os israelenses e muçulmanos que aqui vivem, enquanto a guerra persistir. Em 21 dias de ataques israelenses ao território palestino mais de mil pessoas morreram e quase cinco mil estão feridas entre crianças, idosos, gestantes, mulheres e homens inocentes.
“Paz não vem sem justiça”. Segundo o estudante baiano de filosofia Carlos Henrique dos Santos é necessário que exista um estado palestino onde todos, independentemente da sua religião, possam viver sem o medo constante de serem mortos por esses ataques. “O Brasil é um bom exemplo para isso, pois acolhe todos os povos e todos vivem na paz”.
Para o presidente do Centro Islâmico da Bahia, Sheik Ahmad Abdul , o estado está seguindo sua tradição que é de ser solidária e democrática. “É preciso chamar a atenção do mundo para o que está acontecendo. Todos nós precisamos lutar pela paz, senão amanhã um pesadelo como este pode chegar ao Brasil”, previne.
O atual ataque israelense à Faixa de Gaza, iniciado em 27 de dezembro de 2008, é um dos mais violentos desde a Primeira Intifada (revolta), entre 1987 e 1991. O grupo radical Hamas, que controla a região da Faixa de Gaza, declarou o fim de uma trégua com Israel em 19 de dezembro, e militantes aumentaram ataques com foguetes. Em resposta, Israel lançou um ataque que matou mais de 195 pessoas em Gaza somente no primeiro dia.(Por Karoline Meira)
Tribuna da Bahia
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