sábado, 10 de outubro de 2009

SAÚDE MENTAL EM ANGOLA



Comemora-se HOJE, 10 de Outubro, o dia mundial da saúde mental, proclamado pela Federação Mundial de Saúde Mental com o patrocínio da Organização Mundial da Saúde (OMS).

As esquizofrenias, depressões, demências, perturbações por lesão cerebral, dependência de substâncias nocivas, transtornos de personalidade e outras alterações de conduta pertencem a 99 agrupamentos de enfermidades psiquiátricas distinguidas pela Classificação Internacional de Doenças.

Em Angola tem-se notado cada vez mais a aderência de dementes aos centros de medicina tradicional em detrimento dos convencionais. A homeopatia a base de ervas, raízes, plantas e argilas são preferidas por estes terapeutas. O presidente executivo do Fórum da Medicina Tradicional, Avô Kitoco, referiu que existem 130 raízes testadas e que a maioria foi diagnosticada para os males da mente.

Segundo o terapeuta, que é igualmente responsável do Centro de Medicina Tradicional Papa Kitoco, as plantas e raízes usadas para o tratamento são originárias do sul de Angola e testadasno Centro Nacional de Investigação Cientifica da Unidade de Pesquisa da Medicina Tradicional Africana. “Trato os meus pacientes com ervas recolhidas no sul de Angola e na província de Cabinda, Malanje e Uige”, disse, citando a malemba-lemba, Mumbafu, a Kelua-a-fumu e a argila como alguns dos produtos usados no Centro Papa Kitoco para a cura dos dementes.

Avô Kitoco afirma que o número de dementes no seu centro aumentou consideravelmente nos últimos seis anos. “Depois da guerra surgiram outros problemas sociais como o desemprego, a violência doméstica, a esterilidade, a frustração, a tóxico-dependência e o alcoolismo, tidas como causas de várias doenças do foro psíquico”, disse.

Localizado no município do Cazenga, o centro acolhe 65 doentes, dos quais 37 homens e 28 mulheres. “O nosso único objectivo é o de salvar vidas e proporcionar bem-estar aos nossos pacientes”.

Em relação às denúncias públicas de maltratos aos dementes, disse que “acorrentamos aqueles que apresentam um quadro muito agressivo e põem em perigo a vida dos colegas e enfermeiros”.

O tratamento dos dementes no Centro de Medicina Tradicional Papa Kitoco não se limita às plantas, sendo que há a acção dos psicólogos e sociólogos, a que o terapeuta tradicional considera de muito importante.

“Depois de curados, os pacientes são consultados durante algum tempo por psicólogos e sociólogos. O nosso trabalho passa também pela sensibilização das famílias”, explicou.

Avô Kitoco criticou o comportamento de alguns familiares que andam com os doentes de igreja a igreja “onde são submetidos a tratamentos pouco recomendáveis. Depois chegam a psiquiatria ou ao meu centro em estado já avançado ou crónico”.
O Centro de intervenção Social dirigido por Fátima Viegas e as faculdades do ramo de Sociológica e Psicologia têm sido parceiros do Centro Papa Kitoco que existe desde 1977.

Sobre a medicina convencional

O terapeuta tradicional reprova a terapia feita na medicina convencional, “em que dementes são tratados com drogas como o Diazepan”, explicando que se for alguém que tenha sido um toxicodependente nunca vai ficar curado.

Avô kitoco pretende uma maior integração entre a medicina tradicional e a convencional para o aprofundamento das pesquisas de científicas relacionadas com as plantas.

“Estamos numa etapa de sensibilização da sociedade e do próprio governo sobre as politicas mundiais da saúde mental e queremos chamar atenção sobre o dia nacional da saúde mental, 22 de Dezembro”.

Segundo a OMS, cerca de 30% da população mundial sofre de alguma doença mental. Desse total, 154 milhões de indivíduos sofrem de depressão e 25 milhões de esquizofrenia. A American Psychiatric Association, instituição que vela pela promoção de uma maior qualidade nos cuidados prestados a indivíduos com doenças mentais, afirma que a nível mundial, em cerca de dez pessoas com doença mental, oito podem voltar a ter vida normal e produtiva.
Centro de medicina natural

“O nosso tratamento é natural e não tradicional, feito na base da homeopatia”, referiu a irmã Neusa Pilati, médica do Centro de Medicina Natural Xandala. Segundo disse, as plantas seleccionadas no centro para o tratamento das doenças mentais actuam no quadro da depressão. “Usamos as plantas calmantes como a Lemba-Lemba, o Caxinde, a Cana-do-Brejo, a Pitangueira e a Erva de São-João, cientificamente conhecida como Iperico.

O centro utiliza plantas cultivadas em Angola, sem aditivo de fertilizante.

“As plantas absorvem as substâncias da terra e se o terreno conter agro-tóxicos, provoca outras consequências quando aplicadas ao paciente”.

No Centro Xandala existem oitenta espécies de plantas recolhidas à beira dos rios e na estufa da funda em Luanda. “Infelizmente as famílias preferem o tratamento tradicional em vez do natural”, referiu a irmã.

Uma alimentação saudável com base em frutas também é orientada pelo centro. “Usamos com muita frequência a trofoterapia”, disse, explicando que a trofoterapia é a cura através da alimentação, utilizada para manter, desintoxicar ou restabelecer saúde ao organismo humano. “Tudo o que ingerimos influencia directamente no nosso estado de saúde e consciência”.

À procura de um equilíbrio na alimentação, nas ervas e até na água para os problemas da saúde mental são preceitos eleitos por aquele centro. “Parte das plantas que usamos são do conhecimento popular e usadas pelos nossos antepassados. Todas são testadas pelo método bioenergético”, de acordo com a senhora.

Segundo Neusa Pilati, a escolha da homeopatia dos pacientes é baseada nas causas que levaram o indivíduo a demência. O diagnóstico é feito através de conversa com familiares ou com o próprio doente.

A terapeuta lamenta o facto de não se dar o seguimento devido aos casos que chegam ao Centro Xandala por causa da falta de espaço físico. O Centro existe em Luanda desde 1999.




Depoimentos dos pacientes





Aibé José Pedro foi curado no Centro de Medicina tradicional Papá Kitoco. Segundo diz, é antigo morador do bairro da Sapú e foi levado para o centro pelo irmão mais velho. Aibé nunca passou pelo hospital pediátrico. Foi levado para o centro há dois anos pelos familiares que o abandonaram à sua sorte.

“A minha família abandonou-me porque sofria muitas doenças da cabeça e era agressivo, mas com o tratamento do Papá Kitoco estou melhor. Agora vivo aqui no centro e sou o encarregado da limpeza”, conta.

Domingos António, de 41 anos de idade, perdeu a visão há um ano e foi levado ao centro pelos vizinhos.

“O meu problema era espiritual, fiquei cego e os meus vizinhos trouxeramme para aqui”, contou.

Também abandonado pela família, Domingos diz estar curado pelo avô e o único problema é a falta de visão.

Por sua vez, Jorge Ferreira, de 22 anos de idade, diz que vivia no golfe 2 com a mãe e o irmão. “O meu irmão acusou-me de ser feiticeiro e maltratava-me muito; venho sempre para esse centro. A minha mãe já não me traz comida porque ficou com dor de coluna”.

Jorge Ferreira era toxicodependente, e é a terceira vez que se encontra internado no centro Papa Kitoco. “Ele foge sempre antes de acabar a consulta”, disse o terapeuta.

Hospital da medicina tradicional precisa-se Segundo Avô Kitoko, o Fórum de Medicina Tradicional tem ligação com outros centros de investigação científica a nível de África, como o do Congo Democrático, Guine Conacri, Zâmbia e Burkina-Faso

“Existe um convénio com o Centro de Pesquisa da Universidade de Pernambuco no Brasil no ramo do desenvolvimento científico em relação à saúde mental em Angola”.

Avô Kitoco defende que deve ser feita uma pesquisa mais profunda no sector da medicina moderna para diagnosticar as causas do aumento de demência em Angola.

“O fabrico dos fármacos para esta patologia deve ser discutido profundamente, porquanto são provenientes do exterior do país e feitos por pessoas que não conhecem a nossa realidade, factores sociais e climáticos”, segundo o Avô.

Está em curso um levantamento de todos os terapeutas tradicionais existentes no país para uma maior e melhor organização e profissionalização do sector. “Só dessa forma seremos respeitados”.

“Existe ainda uma proposta de criação de um Instituto Nacional de Pesquisa e Investigação das Plantas Medicinais e a criação de uma estufa para preservação das plantas que se encontram em via de extinção.


“Precisa-se em Angola de um hospital da medicina tradicional”, concluiu.


http://www.opais.net/pt/opais/?det=6144

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