sábado, 23 de janeiro de 2010

A MOROSIDADE DO ESTADO EM RELAÇÃO À LEI MARIA DA PENHA.


Vamos fazer na rede uma onda cor de rosa, quase vermelha, da cor de nossa menstruação.Vamos colocar o sangue que sai do nosso ventre na hora do parto.
Vamos colocar o batom que enfeita nossos lábios.E se depois de tudo isto nos sobrar fôlego e vencermos a batalha vamos colorir o mundo com o nosso sorriso, com a nossa risada gostosa, com a nossa sensualidade.Vamos impedir que mulheres morram em vida.Vera Mattos




Fala sério! Nós mulheres vivemos o terror de cada dia em casa, em família, entre vizinhos e em nossa vida profissional. O Brasil confere aos agressores a certeza da impunidade.
Os processos se amontoam e cada instituição oferece uma desculpa. Excesso de processos, excesso de inquéritos, poucos delegados, poucos juízes, poucos promotores. A única coisa que é verdadeira é que são muitos os agressores.
Minha caixa de e-mail vive implodindo de tanta emoção feminina. O medo feminino invade a tela do meu computador, o meu espaço virtual, e eu fico imaginando como estará cada uma que me procura para desabafar e muitas até para dizer que ainda não está no tempo da denúncia. Tem que denunciar. Tem que exigir que o delegado ou delegado lhe escute.
A Bahia particularmente vive um tempo de mudanças. É verdade que estes profissionais são concursados e cada um segue sua orientação política própria e também é verdade que existem alguns que nem sabem como irão aplicar a Maria da Penha, simplesmente porque o sistema carcerário brasileiro está falido. Os presídios abarrotados.
Os abrigos para mulheres são raros e de qualidade baixa. Estão sempre em locais de difícil acesso. Não podem ser mostrados a imprensa porque deixariam de ser locais seguras. Mas não são nem mesmo albergue de zero estrela.
Gente vamos fazer diferente. Vamos exigir que as autoridades tomem cursos de direitos humanos e alguns até mesmo de educação doméstica.
O fato é que quando em processo de julgamento a mulher já entra condenada. Outro dia fui dar um depoimento sobre uma criança que sofreu abuso sexual do pai e para minha surpresa estavam lá duas advogadas muito bem sucedidas defendendo o provável pai pedófilo. A mãe precisou de um defensor público para atuar. E ele desistiu como que por encanto na última hora. Restou a mãe da criança fazer requerimento pessoal.
Aí eu me pergunto: que luta desigual é esta? O poder econômico prevalece. Viva o dinheiro, viva o capital perverso que compra a dignidade de quem quer vender.
O declínio do homem público é tão grande que não tem mais ladeira para rolar. E eu não estou falando do Legislativo que nós podemos descartar de eleição em eleição. Eu estou falando do pessoal que é funcionário de carreira, empregado do Estado.
É preciso deixar de tratar funcionários públicos como reis e rainhas. Estes senhores e estas senhoras sabem que estão ali para cumprir a lei. E, portanto, cumpra-se a Lei Maria da Penha.
Eu já estou anotando nomes de mulheres para as próximas leis. É tanto sofrimento para a mulher e para os filhos que isto com certeza rende algum lucro para setores perversos.
Apanhou? Voltou para casa? E aí eu pergunto: onde as Delegacias de Mulheres irão proteger tantas mulheres agredidas?
Se continuarmos assim, e entrarmos na linha do imaginário, teremos campos de mulheres.
Você homem quer este caminho para a sua filha? Você filho quer este caminho para sua mãe? Você que é mãe, mulher e filha, quer continuar sendo agredida?

Não nos ouvem até porque o poder é masculino. Então em vez de rasgar soutiens, bater panelas, vamos partir para o movimento na grande rede.

Simplesmente vamos fazer link aos milhares sobre o tema. Vamos exigir o cumprimento da lei tornando as buscas na internet intermináveis. Quem não pode falar, faça link, abra um blog, republique o artigo.

Não sabe fazer? Sempre encontrará alguém que faça. E por favor, nos informe sobre sua ação em sua cidade, em seu estado. Faça por e-mail se desejar.

Vamos fazer uma onda cor de rosa, quase vermelha, da cor de nossa menstruação.
Vamos colocar o sangue que sai do nosso ventre na hora do parto.
Vamos colocar o batom que enfeita nossos lábios.

E se depois de tudo isto nos sobrar fôlego e vencermos a batalha vamos colorir o mundo com o nosso sorriso, com a nossa risada gostosa, com a nossa sensualidade.
Vamos impedir que mulheres morram em vida.
Vamos juntas, unidas.
As mulheres são as melhores aliadas quando querem ser aliadas.
As mulheres são as maiores inimigas quando querem ser inimigas.
Finalizo, repetindo perdas e danos: “as pessoas sofridas são perigosas porque sobrevivem”.

Espero por vocês na invasão mais absoluta da rede.

Vera Mattos
Jornalista

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