terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Salvador: Quando vamos apurar os crimes?

Leio na Tribuna de ontem, primeiro dia do mês de fevereiro do ano da graça (ou desgraça?) de 2010, que mais 20 pessoas foram assassinadas no fim de semana em Salvador e Região Metropolitana. Estarrecedor? Certamente, porque, ao contrário da maioria da população e até mesmo de alguns coleguinhas, não consigo me habituar a esta carnificina. Porém, mais estarrecedor ainda é verificar que tais notícias já não ocupam mais lugar de destaque em nenhuma jornal e que, no bojo da matéria, está clara e modorrentamente informado que a Polícia não sabe o autor de nenhum dos homicídios. E, literalmente, ponto final.

Ouso complementar, sem querer ser pretensioso nem radical: e nunca saberá. Não se apuram crimes no Brasil. São Paulo é raríssima exceção, assim mesmo em alguns também raros casos. Já sugeri aqui e volto a lembrar aos leitores e autoridades que acham que eu estou exagerando: visitem qualquer uma das redações dos três maiores jornais de Salvador (A Tarde, Tribuna e Correio), consultem a coleção dos jornais e verifiquem, no período de um ano, só isso, a quantidade de crimes cujos autores jamais foram identificados. Vamos valorizar a memória, que é a melhor aliada de quem quer justiça de verdade.

Há os crimes “insolúveis” famosos, como o do professor Lamarck, da Ufba (e a Reitoria até hoje permanece muda, sem cobrar apuração), e, mais recentemente, o do apresentador de TV Jorge Pedra. E há a enormidade dos “Zé Ninguém”, cujos corpos ocupam provavelmente 70% ou 80% das covas nos cemitérios mais populares.
Enquanto não houver um sério trabalho de apuração, enquanto a Justiça brasileira não levar a sério o inferno em que vivemos e descer de suas togas e pompas para a realidade, tudo só irá piorar. Podem crer...


Alex Ferraz
Tribuna da Bahia

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