sexta-feira, 2 de julho de 2010

Romário:"O Dunga? O Dunga de hoje é o Dunga de 1987, no Vasco. Não mudou nada. É a mesma personalidade e a mesma cara feia, desde 1987'.

Romário prevê jogo duro para o Brasil contra a Holanda e discorda de Cruyff, para quem a seleção brasileira perdeu a magia02/07 às 05h36 Claudio Nogueira


RIO - Se alguém acha que gênios não existem, não viu Romário jogar. Um dos maiores astros da história do futebol, melhor do mundo em 1994, ano do tetracampeonato da seleção brasileira, e um dos poucos a ter alcançado os mil gols, em 2007, pelo Vasco, o gênio da grande área, como era chamado, aposta num duro brasil x holanda pelas quartas de final , nesta sexta-feira. Em parte, ele discorda das críticas de seu ex-técnico johann cruyff à seleção brasileira . A respeito da partida de hoje, previu:


- Não será fácil fazer gols na Holanda, que tem uma das defesas menos vazadas desta Copa, com dois gols. Os destaques são Robben, Van Persie e Sneijder. Não dou palpite: ganhar de 1 a 0 já é goleada.

Críticas de Cruyff

Na verdade, o Johan Cruyff tem razão quando diz que o futebol mundial não tem mais magia. Não é só o Brasil. É o mundo. Nenhuma seleção tem mais magia. Aí é que discordo dele, por direcionar a crítica somente ao Brasil. Na época dele e no começo da minha, eram quatro, cinco, sete grandes craques em cada seleção. Hoje, não. Ele só perde a razão quando diz que falta isso ao Brasil. É um fenômeno mundial. Na seleção de 1994, já não havia mais magia. De 1990 para cá, começou a complicar.

Jogo de hoje

Não vai ser fácil fazer gols na Holanda, que tem uma das defesas menos vazadas desta Copa, com dois gols (Portugal, já eliminado, e Uruguai levaram um cada). Os destaques deles são Robben, Van Persie e e Sneijder. Não vou dar um palpite: 1 a 0 já é goleada. A cada ano, os holandeses evoluem muito e, desde 1974, com Cruyff, são respeitados. Este ano, a Holanda não tem tantos jogadores famosos quanto seleções anteriores, mas tem muitos jogadores técnicos.

Carreira na Holanda

Ganhei vários títulos na Holanda e fui artilheiro em quase todas as temporadas por lá. O futebol holandês sempre foi mais técnico do que o alemão, por exemplo. Os holandeses eram muito fortes fisicamente, e hoje continuam a ser fortes, só que mais técnicos.

Vitória hoje

Para ganhar, o Brasil tem de evoluir em relação ao que vem jogando. O Brasil demora muito na saída de bola entre os volantes e os dois apoiadores que ficam mais avançados. O Brasil tem que ser mais rápido do meio para a frente. Já o ataque está bem servido.

Escalação

Se pudesse, poria Gilberto Silva e Felipe Melo, se estiver 100%, atrás, e recuaria o Robinho para junto do Kaká, com o Nilmar e o Luís Fabiano na frente. Eu seria ousado, mas o time vem jogando há muito tempo, e o Dunga o conhece melhor do que nós. Quero deixar claro que não acho que o Dunga esteja errado.

Jogo de 1994

Já faz 16 anos!... Do jogo com a Holanda me lembro dos nossos três gols, o meu, o do Bebeto e o do Branco. Se a bola batesse em mim (na cobrança de falta do Branco), ela não entraria e eu não estaria aqui dando essa entrevista agora... Eu saí da frente da bola. Senti o vento da bola roçando na minha camisa... Mas o que eu fiz foi um dos meus gols mais difíceis. Peguei de primeira, de peito de pé, de bate-pronto. Nunca mais tentei aquele tipo de conclusão. Com 2 a 0, relaxamos, e eles empataram com Bergkamp e Winter. Quando estava 2 a 2, o Winter teve uma chance, mas o Taffarel defendeu. O gol do Branco foi uma ducha de água fria neles.

Seleção de 1994

o time saiu do Brasil muito desacreditado, contestado, mas cada um sabia exatamente sua função. Eu e Bebeto sabíamos que a cada jogo teríamos poucas chances, mas que tínhamos de aproveitá-las e matar o jogo. Nossa marcação era forte, com uma saída rápida para o contra-ataque.

Meio-campo de 1994

O meio-campo não era tão técnico, se comparado aos de 1982, 1986, 2002 e 2006. Sobre as semelhanças entre as seleções de 1994 e de agora, a de hoje tem a concepção do Dunga. Sempre foi um jogador em que prevaleciam a determinação, a força de vontade e a marcação. Ele implantou isso na atual seleção, que se defende melhor do que a de 1994. Naquela época, tínhamos quatro defensores muito técnicos, mas a defesa de hoje é mais forte. O meio-campo de hoje tem mais ou menos as mesmas qualidades, porque marca bem, marca forte e não faz muitas bolas longas.

Qual o melhor ataque, o de 1994 ou o de 2010?

Nosso ataque de 1994 era bem melhor, talvez só comparável ao de 1970 (Jairzinho, Tostão e Pelé), assim mesmo porque em 1970 eram três. Se fossem dois atacantes em 1970, eu e Bebero seríamos melhores... (ri).

Possíveis finalistas

Gana, Uruguai e Paraguai entram teoricamente como zebras. Aí é que está o perigo. Já passaram de onde esperavam, entram sem tanto compromisso e se tornam mais perigosos. Já Brasil, Alemanha, Argentina, Espanha e Holanda estão entre as favoritas dos apostadores.

Dunga

Sou amigo de Dunga há mais de 20 anos e, na comissão técnica, fala mais com o assessor de imprensa, Rodrigo Paiva. Dou umas twittadas lá, para ele repassar para o grupo, desejando boa sorte. O Dunga? O Dunga de hoje é o Dunga de 1987, no Vasco. Não mudou nada. É a mesma personalidade e a mesma cara feia, desde 1987... (dá uma gargalhada).

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