A operação que culminou com as mortes de cinco pessoas aconteceu na tarde de sábado, quando soldados da Polícia Militar, com apoio de helicópteros, invadiram a Invasão do Golfo Pérsico, com a intenção de prender uma quadrilha que seria chefiada por Dejailson dos Santos Bispo , o “Big”, de 21 anos, acusado de liderar o tráfico de drogas na região. De acordo com testemunhas, “Big”, foi encontrado defronte de um bar, em companhia de Ramon Fonseca dos Santos, 14 anos; Dilton Correia Evangelista, o “John”, 17 anos; Gleydston Pereira Sampaio, de 18 anos, e Samuel, “Buiú”.
Testemunhas dizem que com a aproximação dos policiais, todo o grupo tentou fugir e correu em direção à Praça dos Coqueiros, onde os PMs começaram a atirar. Dos suspeitos, apenas Big estaria armado. Ele atirou nos policiais, mas logo percebeu que estava em desvantagem e teria jogado o revólver em direção aos PMs, em sinal de rendição. Mas a fuzilaria continuou e os suspeitos subiram por uma rua sem saída e entraram na casa de Marizete Santos, onde foram mortos.
Apenas Samuel foi levado para o Hospital Roberto Santos, onde chegou sem vida. No entanto, testemunhas dizem que o jovem saiu baleado, mas andando, e chegou morto no hospital com diversos tiros pelo corpo.
Ramon, uma das vítimas, era o terceiro de uma carreira de sete filhos de Lena, uma mãe sofrida e marcada pela violência. Pela segunda vez ela vive um drama em família. Outro filho, Luís Carlos Fonseca, de 18 anos, está preso há dois meses sob a acusação de tráfico. “Ele estava em más companhias. Numa outra operação da PM mataram um rapaz, pegaram as drogas e deram flagrante nele. Temos medo de denunciar. Na Polícia Civil tem um Alessandro que é poderoso e tenho que me preocupar”. Sobre a operação de sábado, a senhora diz que todos estavam defronte ao Bar de Neinho, por volta das 12 horas, quando começou toda a tragédia das famílias. A mulher acredita que o alvo seria a casa amarela, ao lado do bar, onde funciona uma boca-de- fumo.
De acordo com Lena, há um ano o estudante conhecido como Irando, no mesmo lugar foi confundido com traficantes e morto também pela polícia. “Ele fazia curso de computação, estudava no 1ª ano do segundo grau numa escola em Pituaçu e levou um tiro pelas costas. Até hoje não deu em nada”, comenta a senhora, sugerindo que a morte de seu filho também cairá no esquecimento.
Desolação e dor no cenário do crime
Na casa de número três da Travessa XV de Novembro, a cozinheira Marizete dos Santos, de 40 anos, está amedrontada. “Não recebe ninguém”, diz uma amiga, na entrada da residência, parcialmente destruída pela ação policial. Aquela residência foi invadida pouco depois das 14 horas do sábado, pelos jovens e, em seguida, pelos policiais, que teriam ali executado os rapazes, que já tinham optado pela rendição. O sangue já foi lavado e toda a desarrumação promovida aos poucos a mulher tenta colocar em ordem. Com o semblante de quem tinha chorado muito, dormido pouco e revoltada, a vizinha informava, na manhã de ontem, que ela está sob cuidados médicos, em estado de choque, chora de quando em vez e não quer dar detalhes temendo retaliações futuras.
Na fachada da casa as marcas de tiros não passam desapercebidas. É muito tiro. De acordo com a vizinha, assim como todos os outros moradores, não quer ser identificada, foram mais de 20 carros da PM, de todos os tamanhos e modelos. “O que revolta é que todos foram tratados como traficantes. Os moradores foram impedidos de entrar em casa, quando chegavam do trabalho, sob pena de morrer também, como ameaçavam os policiais, sem contar a ironia de muitos e nenhum respeito” assegura uma senhora vizinha da cozinheira, que, por horas, ficou na rua esperando o sinal verde da PM para retornar a residência depois de mais um dia de trabalho.
Por Maria Célia Vieira
Tribuna da Bahia
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