sábado, 17 de janeiro de 2009

Tiroteio ao por-do-sol

Tem uma frase que não suporto dizer, mas tenho a mania de dizer e não tem como me fazer não dizer. Trata-se de: “eu não disse!”. O porquê de minha chateação quando tenho de proferir a sentença: é que estou demonstrando que aquilo que eu disse que iria acontecer aconteceu. Ou seja: eu avisei, chamei a atenção, pontuei, alertei e ninguém ligou. Como não deram bola, o previsto aconteceu. E então eu reajo: “CACETE. EU NÃO DISSE?”.
Hoje estou aborrecido. Primeiro pela morte de Marcos Pinheiro, meu grande amigo e tão amigo que a gente não se via fazia anos, mas ele sempre me escrevia elogiando as coisas que escrevo aqui na Tribuna da Bahia, vai fazer 25 anos este ano. Elogiava por gostar de mim, para dar uma força, para me colocar para cima, como somente os bons amigos o fazem. Marcos se foi neste verão insano. Mas, vamos lembrar dele em todas as estações.
Este verão é insano e sem lei como todos os últimos verões na Bahia. A Barra, queiram ou não percebam, é o lugar escolhido pela absoluta maioria dos turistas que chegam. O turismo baiano é feito da seguinte forma. Primeiro o cara chega seja lá de onde for – Sergipe, Pequim, Piauí, Paris, Roraima, Itália, Manauis ou Buenos Aires. Segundo, corre logo para o Pelourinho que é famoso no mundo inteiro e não precisa de apresentação. Então percorre as igrejas, tenta ir em algum museu e geralmente bate a cara na porta por que museu em Salvador fecha para almoço e só abre muito mesmo depois da siesta e tem dias que nem abre as portas. O cara então vai conhecer Itapuã que não tem nada. Só meia dúzia de coqueiros e um farol horrível, pessimamente localizado.
É quando alguém garante que ele tem de se mandar para o Litoral Norte, preferencialmente para Sauípe ( o complexo, claro) e dar um tempo na Praia do Forte. Mas, lá, ele descobre que só tem gringo e quer um lugar mais legal para ficar uns dias. Claro que o point certo é a Barra. O cara então vem para o Porto da Barra e nunca mais quer ir embora. Tanto que tenho mais de vinte amigos gringos, até do Azeibarjão, que vieram viram, gostaram e ficaram para sempre.
Foi então que em janeiro do ano passado eu chamava a atenção para a bela e gostosíssima (com todo respeito) delegada da Décima Quarta Delegacia, que fica na rua Marquês de Caravelas, para o comamndante da Décima Primeira Companhia de Polícia Militar, que fica na Ladeira da Barra e para om prefeito João Henrique, que estava formando a Guarda Municipal, que estava faltando segurança entre o Porto e o Clube Espanhol.
Em outubro recente eu alertei para a necessidade de se colocar mais efetivo policial no trecho, pois teve final de semana de se verificar que havia uma dupla no Farol e outra já quase em Ondina e que alguns turistas tinham sido assaltados. Cheguei a brincar, mais recentemente neste espaço volátil, que era preciso colocar policiais de bermuda na areia, na praia mesmo e até disse que PM tem nojo de areia e de sal. Não gosta de se melar. Lembrei que em tempos passados, até mesmo uma moto de quatro rodas ficava no Porto da Barra e no Farol da Barra. Mas, que fim levaram as motos dos policiais de camiseta?
Eu achava, na verdade, que o problema na Barra seria mais em relação ao frescobol, ao baba, à capoeira jogada à beira mar, no meio dos banhistas e à ação dos pivetes e da prostituição infantil. Só não sabia que este ano a venda de drogas aumentou consideravelmente e que as quadrilhas estariam disputando os pontos. Em outra ocasião eu mostrei aqui que maconha, crack e cocaína estavam sendo vendidas escancaradamente onde ficam os pescadores, perto do Forte de Santa Maria, na antiga rua da Lama (no Porto) e na área abaixo e ao lado do Farol da Barra.
Portanto, o tiroteio que aconteceu perto do Cristo (junto de um trailer da PM) ferindo quatro pessoas e o assalto ao Shopping Barra é consequência da falta de visão, de preparo, de preparação, de logística ( e nem quero falar envolvimento dos policiais civis e militares que atuam na área com o tráfico), ação e vontade da polícia. Pode se preparar. Vai piorar. Tomara, pelo menos, que os policiais estejam passando filtro solar enquanto ficam olhando a paisagem. Olha o que estou dizendo nesta data.



Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista. e-mail: jolivaldo.freitas@yahoo.com.br

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