quarta-feira, 30 de setembro de 2009

3% da população geral sofre com transtornos mentais severos e persistentes. 12% da população necessita de algum atendimento em saúde mental.

Preconceito dificulta tratamento de pessoas com transtornos mentais


Ele é um rapaz bonito, vem de uma família rica. No entanto, ouve vozes, se perde e, na tentativa de fugir do que o atormenta, já agrediu sua namorada. O drama do personagem Tarso Cadore, da novela Caminho das Índias, não está distante da realidade, afinal, no Brasil, estima-se que existam cerca de 1,8 milhão de pessoas que sofrem com a esquizofrenia.



Mas não é só. Não se pode esquecer dos outros transtornos mentais. Em Salvador, o índice de cinco mil atendimentos psiquiátricos realizados por mês nas unidades de saúde mental mostra que algo não vai bem.

De acordo com a psiquiatra e coordenadora do serviço de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde, Célia Rocha, a doença da psique humana está presente no cotidiano.

“Não só os casos patológicos. A violência urbana e familiar, o abuso de drogas vão deflagrando sintomas de diversos transtornos mentais”, explica a especialista. Ela lembra que a ansiedade do dia-a-dia também contribui para a falta de saúde psíquica.


Segundo Célia, uma prova disso são as cerca de 450 ocorrências psiquiátricas atendidas, mensalmente, na capital baiana pelo Samu. Os casos variam de uma simples briga familiar, onde os envolvidos perdem o controle emocional, até surtos psicóticos.

Apesar da demanda, Salvador conta com uma rede ainda insuficiente de atendimento.

No serviço público, são apenas dez Centros de Assistência Psicossocial (Caps) em funcionamento e mais dois (que atenderão Liberdade e Pau da Lima, São Caetano e Cajazeiras) que estão em fase final de implantação.

Em Salvador, existem unidades específicas voltadas para o atendimento infantil, para dependentes químicos e adultos e uma que funciona como residência para os estudantes da Universidade Federal da Bahia. Este mês será inaugurado um centro para o pronto-atendimento, com 11 leitos e espaço para observações de emergência.

Falta assistência

“O Ministério da Saúde preconiza um Caps para cada cem mil habitantes, numa população com três milhões, é evidente que falta muita coisa”, esclarece Célia Rocha.

Para a psiquiatra, é preciso ampliar a rede em Salvador para - pelo menos - 21 Caps, mas não se pode desconsiderar o que já foi alcançado com o fim dos manicômios, a implantação das seis residências terapêuticas (para os pacientes que não possuem família) e o trabalho realizado pelos Caps.

“A ideia é que consigamos prestar uma boa assistência à rede básica, primária e de complexidade”, afirma Célia Rocha. Vale salientar que os Caps funcionam através de uma numeração que permite identificar se a assistência prestada é básica, primária ou alta complexidade.

Na rede pública ainda, a capital baianaconta com três hospitais psiquiátricos: o Sanatório São Paulo, o Juliano Moreira e o Mário Leal. A assistência mental em Salvador desenvolve também o atendimento através dos consultórios de rua.

Caso de superação
Bartô e sua mãe, Maria da Glória, são campeões Bartolomeu Jesus Caldas, 34 anos, ou simplesmente Bartô (como é conhecido no Caps do Jardim Bahiano), é um caso de superação.


Diagnosticado como portador de esquizofrenia grave, com alucinações auditivas, ele encontrou a reinserção social e a qualidade de vida através de tratamento psiquiátrico e prática de esporte. No último dia 20 de junho, ele, Maximiliano Nascimento dos Santos e Marcelo dos Santos Vaz representaram, pela primeira vez na história dos jogos paraolímpicos, os portadores de transtornos mentais.

Segundo sua mãe, Maria da Glória Silva de Jesus, embora nunca tenha sido agressivo, as vozes que Bartô ouvia não o deixavam ter uma vida normal. Seus dias transcorriam trancado num quarto, sem conseguir manter contato com ninguém. Desde fevereiro deste ano, o rapaz começou a frequentar o Caps. “Ele está irreconhecível”, comemora Maria da Glória e toda a família de Bartô.

Pacientes com esquizofrenia pode ter vida normal
A esquizofrenia é uma doença mental crônica, que deve ser tratada continuamente, como se trata o diabetes, por exemplo. Com acompanhamento adequado, é possível levar uma vida normal e produtiva. A terapia envolve o uso de medicamentos antipsicóticos, que agem nos receptores de dopamina e serotonina, produzidas no cérebro.

CAPS em Salvador
Oswaldo Camargo Rua Itabuna, n° 2, Pq. Cruz Aguiar, R. Vermelho

Mario Luiz Lessa (infantil) R. Potiguari, lote 126, R. Vermelho

Rosa Garcia Rua Professor Euclides Alípio de Oliveira, nº 231, Boca do Rio (é responsável por residência terapêutica)

Antônio Roberto Pellegrino Rua Arquimedes Gonçalves, nº 226, Jardim Bahiano

Franco Basaglia Condomínio Colina da Fonte, Itapuã

Maria Célia Rocha Rua São Roque, nº 24, Alto de Coutos

Caps Garcia Centro funciona, em parceria com a Ufba, na Rua Leovigildo Filgueiras, Garcia.

Aristides Novis Parque Solar Boa Vista, Engenho Velho de Brotas

Adilson Sampaio Rua do Céu, nº 77, no Bonfim

Caps Álcool e Drogas Rua Pedro Lessa, 123, Canela

Eduardo Saback Rua Conde P. Carneiro, em Pernambués

Sanidade em números

3% da população geral sofre com transtornos mentais severos e persistentes. 12% da população necessita de algum atendimento em saúde mental.



(notícia publicada na edição impressa do dia 05/07/2009 do CORREIO)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você é livre para oferecer a sua opinião.