terça-feira, 13 de julho de 2010

Colegas de trabalho lamentam morte de juiz que atuava em Valença e Camamu.



Em Camamu, foi decretado luto oficial por três dias. Em Valença, os colegas de Carlos Alessandro também lamentam a morte violenta do magistrado

A polícia ainda tem muitas dúvidas sobre o que levou o soldado da polícia militar, Daniel dos Santos, a disparar duas vezes contra o juiz Carlos Alessandro Pitágoras Ribeiro, sábado (10) à noite, num dos locais mais movimentados da capital.

Na primeira versão, o soldado disse à polícia que foi parado na rua pelo juiz, que logo andou armado em sua direção e por isso ele atirou.

De sábado à noite até segunda-feira (12), onze testemunhas já foram ouvidas e alguns depoimentos contrariam essa versão. Há suspeita de briga de trânsito. A Polícia Militar abriu inquérito administrativo e disciplinar para apurar.

As armas recolhidas no local do crime vão ser periciadas, mas já circula também a versão de que o cenário do crime foi alterado, o que pode dificultar as investigações.

O juiz Carlos Alessandro Pitágoras Ribeiro trabalhava no baixo sul do estado e nas duas cidades onde atuava, amigos e colegas não se conformam com a forma brutal como ele foi morto.

No fórum da cidade de Valença, distante 250 quilômetros de Salvador, as audiências foram suspensas por três dias em sinal de luto pela morte do juiz. Na cidade, o magistrado foi substituto da Vara Crime durante dois anos e era muito querido por todos.

‘Estamos todos profundamente abalados pela perda do colega, do profissional que ele era, sempre muito atuante, muito ágil e representava bem a magistratura baiana. Enquanto amigo, a perda foi repentina, de uma forma inexplicada, a gente não sabe bem ainda o que aconteceu e é desejo de todos os juízes que a verdade apareça, seja ela qual for’, diz a juíza Ana Cláudia Souza.

A juíza Alzeni Alves lembra do último encontro com Alessandro, como o juiz era chamado pelos colegas. ‘Apesar dele não estar trabalhando aqui, ele sempre nos visitava. Na última visita que ele fez aqui ao fórum, eu brinquei com ele dizendo: ‘Você tem uma pessoa aqui, uma serventuária, que lhe ama, do fundo do coração. Todos os dias quando ela vai me entregar o chá, ela fala no seu nome. Diz que tem saudades de dr. Alessandro’. Ele abraçou essa serventuária que trabalha na área da cozinha e da limpeza, disse que ia levar ela para Camamu. Foi a última vez que falei com ele. Hoje tem oito dias. Não sei… ele veio se despedir da gente’, acredita a magistrada.

No Juizado Especial Cível e Criminal de Valença, onde o juiz ainda trabalhava uma vez por semana, bandeiras a meio mastro e um pano preto na janela. Nos corredores, os funcionários não falavam em outra coisa.

‘Além de ser um homem bom, um excelente pai, porque tínhamos oportunidade nos intervalos das audiências, nos eventuais almoços de trabalho, de trocarmos ideias e o grande amor da vida dele, além da mulher, era a filhinha de cinco anos’, conta o defensor público Carlos Vasconcelos.

‘A magistratura da Bahia perdeu um grande homem por sua qualidades, seu astral, sua alegria. Mas é a vida da gente… vamos pedir a Deus que ele esteja em um bom lugar porque é isso que ele merece’, diz o secretário do juizado Durval Costa.

Nos outros dias da semana, era no município de Camamu, a cerca de 80 quilômetros de Valença, que o juiz atuava. Ele tinha sido designado para trabalhar na cidade há 10 meses. No fórum, os funcionários homenagearam o juiz, que segundo eles, não tinha inimigos.

‘O relacionamento dele não era nem como colega, era como irmão aqui. Nós o tínhamos como amigo, pai. É difícil falar dele depois de uma tragédia dessa. A emoção nos toma. Ele vinha trabalhar caminhando e não tinha inimigos. A informação que nós temos é que todo mundo gostava deles’, diz o escrivão Valnei Santana.

Os moradores de Camamu também sentiram a perda do juiz. ‘A cidade ficou bastante chocada. Ninguém esperava que fosse acontecer uma tragédia dessa. Está todo mundo de luto. Ele era muito querido’, lembra a moradora Telma Nascimento.

O soldado Daniel Santos vai responder ao processo em liberdade. A polícia informou que vai fazer a reconstituição do crime para esclarecer todos os detalhes, mas ainda não marcou a data.

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