quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

João Henrique: renúncias de secretário e de líder agravam situação na Prefeitura.








Secretário da Casa Civil e líder da base aliada renunciam a cargos.


A luz vermelha piscou ontem com intensidade na Prefeitura de Salvador, depois que o vereador Alfredo Mangueira (PMDB) renunciou à chefia da Casa Civil, menos de 24 horas depois de ter assumido o cargo, sob a alegação de que não teria a autonomia para a função. O episódio agrava ainda mais a crise política enfrentada pelo prefeito João Henrique (PMDB).

A desistência de Mangueira foi o mais duro golpe na manobra do prefeito para escapar, na Câmara, da rejeição imposta pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e expõe as tensões no alto escalão da prefeitura. “Tomo essa decisão por entender que, a inexistência de autonomia para o titular do cargo, impede o exercício sério, pleno, transparente e competente, marcas que têm pautado os meus quase 30 anos de vida pública”, diz Mangueira, em nota.

O escape do aliado ocorreu após seu antecessor no cargo, o secretário João Cavancanti — bastante ligado à primeira-dama e deputada estadual Maria Luiza Carneiro (PSC) - ter sido nomeado para a chefia do Gabinete do prefeito. “Com isso, ele entendeu que iria apenas assinar documentos e servir como elo para ajudar João Henrique na Câmara”, informa um cacique peemedebista.

Cama de gato
Sem poder contar com a articulação do vereador junto aos parlamentares, determinante na eleição de Pedro Godinho (PMDB) para presidência da Casa, o prefeito está cada vez mais isolado. E tal isolamento ficou em maior evidência quando, a reboque da saída de Mangueira, o vereador Téo Senna (PTC) também anunciou a desistência de liderar a bancada governista.

“Estou muito preocupado. A gente não sabe mesmo o que vai acontecer. Em três mandatos, nunca vi a Casa tão dividida, com tantos blocos (governo, oposição e dois independentes) e isso pode ser prejudicial para o prefeito, em um ano que achávamos de futuro mais promissor”, diz Senna.

O vereador afirmou que não assumiu a liderança da bancada aliada, porque o cargo estava condicionado à ida de Mangueira para a Casa Civil, mas garantiu que permanece na base de apoio ao prefeito. “Mas quem for assumir a condição de líder em meu lugar terá um papel difícil pela frente. Vai liderar quem?”, afirma.

Ontem, o prefeito reuniu a cúpula do Thomé de Souza em busca de soluções para a crise. Saiu sem posição definida e sem falar com a imprensa. O secretário de Comunicação de Salvador, Diogo Tavares, informou que as desistências pegaram João Henrique de surpresa e que ele ainda não sabe quem ocupará a Casa Civil e a liderança da bancada governista. “Vai ser difícil encontrar alguém com o perfil de Mangueira”, admite Tavares.

Alianças
Outro golpe na governabilidade de João Henrique pode vir do Democratas, partido que ainda se mantém no arco de alianças do prefeito. “O DEM está em processo interno de debate para, em breve, oficializar a sua posição com relação à Prefeitura de Salvador”, adianta o deputado federal ACM Neto.

Para o parlamentar, a situação política do prefeito é delicada. “O momento requer atenção, sobretudo para que não haja qualquer tipo de ônus para a população”, destaca. ACM Neto afirma ainda que o DEM não foi consultado sobre mudanças no secretariado e que nunca participou da composição de cargos no alto escalão da prefeitura.

Para coroar a crise, João Henrique parece dialogar cada vez menos com seu vice, Edvaldo Brito (PTB). Em entrevista ontem à TV Bahia, o petebista disse também não ter sido consultado sobre a reforma administrativa e, de quebra, afirmou que teria “feito diferente” em relação às contas da administração, que acabaram rejeitadas pelo TCM.

Para completar, seu partido, com quem vem duelando desde as eleições deste ano, também lavou as mãos. “O mandato é do PMDB, que João Henrique abriu mão sem que tivesse nenhum distrato a ele. Sua gestão não se parece em nada com nosso modo de governar. Se ele sair do partido, vamos para a Justiça”, disse o deputado federal eleito Lúcio Vieira Lima, presidente estadual da legenda.

Um outro aliado do prefeito resumiu a situação vivida hoje pelo prefeito: “Um governante pode passar por uma crise administrativa se não tiver em crise política, e vice-versa. Mas, as duas juntas, é grave”.

Novos secretários enfrentam velhos problemas
Os novos secretários do prefeito João Henrique passaram o dia de ontem se inteirando das dificuldades que terão que enfrentar. Em tempos de crise na prefeitura, a necessidade de solução de velhos problemas esbarra no desequilíbrio entre despesas e receitas municipais.

Finanças O equilíbrio é a primeira meta do novo titular da Fazenda, Joaquim Menezes: a busca do equilíbrio fiscal. Em nota, ele afirmou que pretende fazer isso através do fortalecimento das receitas e transferências, e acompanhamento dos custos de todas as secretarias. E para evitar uma nova rejeição das contas da prefeitura, o experiente ex-secretário de Finanças de Feira de Santana prometeu ainda ficar de olho no cumprimento das normas expedidas pelos tribunais de contas do Município e da União.

Saúde
Outro que não vai ter moleza nos próximos meses é o novo titular da Saúde, vereador Gilberto José (PDT). Médico e com pós-graduação em saúde pública, o secretário vai enfrentar a insatisfação dos trabalhadores terceirizados pelos constantes atrasos nos salários e os postos de saúde fechados por falta de médicos e equipamentos. O secretário, em nota, mostrou que tem ideia da difícil missão que o aguarda.

“Chego com os pés no chão, consciente de que não será possível fazer milagres na saúde da nossa cidade”, declarou. A saída encontrada para as dificuldades financeiras será “unir forças com os governos estadual e federal”. Ontem, já foi dia de protesto. “O posto de Pernambués foi fechado para reforma em fevereiro e até hoje não reabriu“, reclamou o líder comunitário Genílson Geno.

Orla
Outro desafio difícil terá pela frente o advogado e ex-secretário da Fazenda, Oscimar Torres, novo titular da Secretaria de Serviços Públicos (Sesp) e responsável por resolver o imbróglio da orla de Salvador. Cinco meses após a demolição das barracas, o lixo toma conta das praias e os antigos comerciantes têm se virado como podem para garantir a renda familiar.

“Montei uma barraca improvisada com 15 mesas, que é o que a prefeitura permite. Mas a estrutura é horrível”, contou o ex-barraqueiro de Patamares, Miguel Vaquer. O secretário explica que aguarda a homologação da Justiça para implementar o projeto da nova orla.

Sem dinheiro, Torres revela que o maior desafio de sua gestão será firmar parcerias com a iniciativa privada para projetos como reformar mercados municipais e feiras livres em Itapuã e na Liberdade. “Nossa prioridade, agora, é o Carnaval. Precisamos dar andamento ao cadastramento de ambulantes, às licitações, à iluminação da orla e à limpeza”, disse o secretário.

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