quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Segurança Pública na Bahia é caso para polícia, justiça e direitos humanos.


Não. Já não basta dizer que a segurança pública na Bahia é o caos. E que alguém encontre algum adjetivo para denominar um dos momentos mais dramáticos da história de Salvador. Acabo de saber que a mulher seqüestrada pela manhã foi encontrada morta. A filhinha dela foi deixada dentro do carro abandonado pelos seqüestradores e Deus permitiu que a criança continuasse viva. Mas a mãe está morta. Precisava isto?

O desencontro da Segurança Pública na Bahia é estarrecedor. Policial militar matando policial civil. A população teme a polícia de uniforme. A população treme diante de traficantes. Os pontos de drogas se multiplicam. Os usuários de crack perambulam pelas ruas. As mortes na periferia de Salvador já ultrapassam o limite do racional.

Os jovens negros continuam morrendo brutalmente assassinados sempre sob a máscara de crime praticado por serem ou usuários ou traficantes de drogas. As casas da periferia também são invadidas por policiais civis e militares sem qualquer ordem judicial. Esta semana alguns moradores que resolveram colocar o rosto na televisão falando da barbárie tiveram a casa incendiada. Precisava isto?

Todos os dias a cidade que é linda e que nasceu para ser feliz, torna-se uma cidade cinzenta e lacrimosa. Neste momento algumas famílias choram perdas irreversíveis.

A sociedade não tolera mais. Os policiais não toleram mais. A periferia não suporta mais. A cidade está asfixiada pela ausência de segurança pública. As Secretarias de Segurança Pública e de Justiça não se entendem. O governador Jacques Wagner aumentou o tom de voz para manter os policiais militares em atividade e postergar a greve. Precisava isto?

Ao citar Aracaju/Sergipe, o governador Jacques Wagner disse que os policiais de lá ganham mais porque não há como comparar a realidade sergipana com a baiana. E ainda disse que também não tem como explicar que o salário do Governador de Sergipe seja o dobro do dele.

Na verdade, o que o governador baiano tem que explicar não é a diferença entre os Estados. Temos toda uma periferia desamparada, temos cidades desamparadas, municípios desamparados. Delegacias fechadas, prisões lotadas, cemitérios clandestinos. A polícia militar com armas ultrapassadas. Viaturas insuficientes. Medo de vestir o próprio uniforme em seus bairros.

A polícia civil enfrentando uma forte crise depois da morte do perito na semana passada. A polícia militar chorando seus mortos. E mais de mil famílias chorando assassinatos que já estão arquivados, pois os mortos são em sua maioria negros, pobres e de periferia e acusados de pertencerem ao tráfico. Precisava isto?

Salvador é uma cidade literalmente a beira do abismo. A sensação que temos é que estamos em um país dentro do outro. A Constituição não é respeitada aqui. Se assim fosse as casas não seriam invadidas, os policiais apresentariam ordem judicial para busca e apreensão, as pessoas não seriam executadas friamente.

A cidade tem cor de sangue. Tem cheiro de mortos. Lamento profundamente ver os jovens negros baianos serem vitimas da matança. Lamento pelas mulheres vitimas de violência. Lamento por tantos assaltos a ônibus. Lamento por tanta história que não poderá ser concluída.

A população baiana perde a alegria. Largos, ruas e ladeiras estão cheias de moradores de rua. Gente que perambula sem casa, sem comida, sem chão. A injustiça social atinge proporções assustadoras. Precisava isto?

Onde estão os empregos para a população jovem? E as escolas em boas condições para a prática do ensino público? Será que eu posso perguntar a Wagner uma única coisa?
Se posso então lá vai: precisava isso???


Vera Mattos
06/08/2009

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